Em uma reunião de cúpula extraordinária do bloco conhecido como BRICS, presidida pelo presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, condenou as ações do Estado de Israel nos territórios palestinos. Embora o bloco não tenha emitido uma declaração conjunta, os representantes de cada um dos países titulares se pronunciaram de forma contrária à política genocida de Israel.
De acordo com a emissora catariana Al Jazeera, um dos presentes na reunião afirmou que “condenamos qualquer tipo de transferência e deportação forçada individual ou em massa de palestinos de suas próprias terras”. Os BRICS também reiteraram que “a transferência e a deportação forçada de palestinos, seja dentro de Gaza ou para países vizinhos, constituem violações graves das convenções de Genebra e crimes de guerra e violações ao abrigo do Direito Internacional Humanitário”.
Fundado em 2009 como um bloco econômico, os BRICS hoje vêm se constituindo cada vez mais como um bloco político que procura se contrapor, de maneira moderada, à política levada adiante pelos países imperialistas. Em um primeiro momento, os BRICS eram formados somente por China, Brasil, Rússia e Índia, países que eram considerados, à época, por economistas burgueses, como donos de economias “em desenvolvimento”. Mais tarde, ingressou no grupo a África do Sul.
Neste ano, a Cúpula dos BRICS, realizada em Joanesburgo, na África do Sul, foi um dos principais encontros da política internacional de 2023, rendendo análises de toda a imprensa mundial. Com o enfraquecimento do imperialismo e a tendência cada vez maior de enfrentamento dos países atrasados com os países desenvolvidos, expressa claramente na guerra da Ucrânia, os olhos do mundo se voltaram para os BRICS. A Cúpula, além de atrair representantes de dezenas de países, ainda votou pelo ingresso de seis novos membros: Argentina, Emirados Árabes, Etiópia, Egito, Arábia Saudita e Irã.
Na cúpula virtual recente, os seis novos países, que só passarão a integrar oficialmente os BRICS a partir de 2024, também participaram e concordaram com a condenação dos crimes de guerra de Israel. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres, também se juntou ao encontro.
Conforme revelado pela Al Jazeera, o consenso entre os presentes era a necessidade de pôr fim à guerra. Isto é, à guerra deflagrada pelo Estado de Israel sob o pretexto de “combater o terrorismo” e que já matou mais de 14 mil israelenses. O governo de Benjamin Netanyahu já declarou inúmeras vezes que só irá parar de bombardear a Faixa de Gaza quando tiver “exterminado” o Hamas. Na verdade, trata-se de um plano para “limpar” a Faixa de Gaza e expandir o território sob controle dos sionistas, como sempre sonharam os fundadores de Israel.
Entre as declarações mais duras contra israel está a do anfitrião sul-africano, que afirmou que o Estado judeu “está em clara violação do direito internacional” e que a “punição coletiva de civis palestinos por Israel é um crime de guerra equivalente a genocídio”. O Irã, por sua vez, que já havia se pronunciado publicamente pedindo que os países vizinhos boicotassem Israel, propôs que os israelenses realizassem um “referendo” para “decidir o seu destino”.
O recente encontro dos BRICS tem sido visto como parte de um esforço dos países-membros para aumentar o tom das críticas a Israel. Na última semana, a ministra da Presidência da África do Sul, Khumbudzo Ntshavheni, pediu uma investigação do Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Embora seja mais um elemento de pressão contra o Estado de Israel, que se encontra cada vez mais isolado em meio às manifestações no território em que ocupa e em praticamente todos os países do mundo, ainda é pouco. Países como o Brasil vêm tomando posições muito tímidas em relação ao genocídio em curso.
Mesmo a África do Sul, que presidiu o encontro e propôs a investigação de Netanyahu, condenou o que chamou de “crimes de guerra” do Hamas, expressando uma clara tentativa de contemporização com o imperialismo.
É preciso adotar uma posição muito mais contundente diante do massacre diário do povo palestino – a maioria crianças e mulheres. É preciso romper relações com o Estado de Israel, colocar Netanyahu no TPI e exigir o fim imediato dos bombardeios à Gaza e à Cisjordânia.