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Teses reacionárias

Branquitude e colonialismo, cortina de fumaça dos identitários

Os identitários desviam o negro da luta contra seus reais inimigos para um ataque aos trabalhadores, é uma ideologia anti operária que anula a luta real do negro

Um dos maiores problemas do identitarismo é que ele anula a luta real dos oprimidos com suas teses extravagantes que sempre terminam na defesa do imperialismo e da repressão do Estado burguês. O último caso de destaque foi o do vereador gaúcho Sandro Fantinel, ex Patriota, que fez declarações preconceituosas contra os trabalhadores da Bahia. O ataque aos baianos foi identificado como racismo, apesar de não ser necessariamente apenas isso, e foi tema de análise de setores identitários que tentam impor a tese identitária de combater a “branquitude” abandonando a luta de classes. O artigo em questão foi publicado no Brasil 247 por Ricardo Nêggo Tom:  “Sandro Fantinel e o subconsciente racista e colonizador da branquitude brasileira”.

O primeiro ponto já vem no próprio título, a opressão material do negro não é de segunda importância, o destaque é para o “subconsciente” e para a “branquitude” conceitos totalmente abstratos. A realidade da opressão real dos nordestinos no sudeste e do sul, por assumirem as posições mais marginalizadas entre os próprios trabalhadores, é substituída pela tese do “colonialismo” e do “racismo estrutural”. Nas suas palavras: “Não há um centavo de arrependimento com relação ao seu discurso, porque ele veio do âmago escravocrata que está implícito na personalidade da branquitude brasileira. E isso não é privilégio apenas da elite branca. Há brancos pobres que também se sentem superiores a pretos, em função desse estereótipo de escravizado que ainda paira sobre nossa cor de pele. O racismo estrutural explica.”

Há uma reflexão sobre a escravidão do passado que existiria até hoje na personalidade dos brancos, até mesmo na dos pobres. A burguesia, que se apoia sobre o racismo para oprimir todos os trabalhadores, não é a principal denunciada. Pelo contrário, Nêggo Tom faz questão de falar sobre o racismo da população pobre, como se fosse a classe operária branca a culpada pela opressão dos negros, é uma tese reacionária. A verdade é que o negro, por causas históricas, ocupa a camada mais baixa da sociedade, inclusive da classe operária. Essa realidade material gera um estigma que se manifesta na forma do racismo. Essa realidade é aproveitada pela burguesia para oprimir mais os negros, permitindo também uma maior opressão dos brancos. Ou seja, o grande inimigo do negro não é a “branquitude” abstrata mas algo muito concreto, a burguesia e sua máquina de repressão, a polícia, o judiciário e o sistema carcerário.

Ele tenta usar a questão da escravidão atual para justificar sua tese: “Quando em 2023 ainda temos que combater o trabalho análogo à escravidão, evidenciamos que o desejo nutrido pelos herdeiros dos escravocratas é o mesmo de seus antepassados. Que a escravização não tivesse fim.” Mais uma vez uma atrocidade muito concreta é colocada como culpa da “branquitude” abstrata. Quem cria a escravidão moderna é a burguesia, ela impõe a miséria absoluta que submete os trabalhadores à escravidão. E é também ela que “contrata” o trabalho escravo, seja em fábricas têxteis ou nos latifúndios. O que importa não é a cor daquele que escraviza mas sim a sua classe social, um burguês ou um latifundiário.

Entendendo a causa da opressão fica mais claro o problema da tese do “racismo estrutural”. Para acabar com esse fenômeno é preciso combater a branquitude, que existe em todos os brancos, inclusive nos trabalhadores. Contudo, estes não tem nenhuma relação com as causas do racismo, mas são a maioria da sociedade e, portanto, se tornam as principais vítimas dos ataques identitários. Antes o contrário, os inimigos da classe operária são os mesmos inimigos dos negros. Em última instância, o que sustenta o racismo é o imperialismo, que é o inimigo por definição da classe operária. Sendo assim, os operários brancos são grandes aliados na luta do negro e por sua libertação, bem como de todos os oprimidos.

Quando Karl Marx afirmou “trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!” ele não falava apenas uma frase de efeito. Essa é uma política concreta. Significa não só unificar trabalhadores de diferentes países, numa luta internacional, como unificar os trabalhadores do próprio país. Unificar os negros, brancos, pardos e índios. Unificar operárias e operários. Unificar trabalhadores das cinco regiões do Brasil. Unificar os trabalhadores da cidade e do campo. Unificar os contratados e os terceirizados. Unificar os trabalhadores mais jovens, os mais velhos, os aposentados. Enfim, unificar todos os trabalhadores na luta pela derrota da opressão capitalista. É o princípio básico de que a união faz a força, e esse principio é atacado pelos identitários que dividem o movimento operário.

Em vez de juntar forças com o movimento operário, esse movimento negro identitário ataca a classe operária, divide o movimento e por isso enfraquece a luta real dos negros. A conclusão do texto mostra o quão reacionária é essa ideologia: “O racismo é um crime hereditário cometido através de gerações. Ninguém aprende a ser racista na rua, na escola, no emprego ou na balada. Mas, pode deixar de ser, ou, pelo menos, aprender a controlar os seus lapsos mentais, se forem responsabilizados criminalmente por seus atos. De preferência, na cadeia.” A ideia de crime hereditário é digna da idade média quando a condenação se estendia por gerações. E, além disso, Nêggo Tom adentra a tese da repressão, defendendo a cadeia para os racistas.

O interessante é que na discussão do racismo contra os baianos não se levantou outro problema. Um parlamentar eleito não deveria poder ser condenado por seu discurso. Na realidade, nenhum brasileiro poderia dado que a constituição garante a liberdade de expressão. Fantinel apenas fez comentários preconceituosos, o máximo que se pode fazer e travar um debate acerca de suas ideias, importantes para mostrar como a burguesia considera o trabalhador brasileiro. A criminalização do discurso não levará à libertação de nenhum negro, muito provavelmente terá o resultado oposto, levará à prisão de uma parcela ainda maior da população negra, dado que são os juízes fascistas que controlam quem será reprimido.

Toda essa discussão sobre Fantinel passa longe das questões sérias dos trabalhadores, sejam negros ou brancos. É preciso travar uma luta contra a burguesia, contra os latifundiários, contra a polícia militar, que assassina negros todos os dias. Contra o judiciário que prendeu 800mil pessoas em verdadeiras câmaras de tortura. A branquitude dos operários gaúchos, seja lá o que isso queira dizer, é irrelevante para a libertação do negro. Por outro lado, a classe operária gaúcha, em sua totalidade, bem como toda a classe operária brasileira, é quem poderá levar a libertação dos negros, das mulheres, dos índios e de todos os oprimidos.

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