Bolsonaro confirmou a ameaça de golpismo sob a qual o governo Lula está sendo cada vez mais colocado neste 31 de janeiro, em seu primeiro ato público desde que Bolsonaro deixou o Brasil e foi para os Estados Unidos. Ele afirmou, em tom ameaçador e revelando a existência de um complô golpista que governo Lula “não vai durar muito tempo.”
No melhor estilo golpista de Merval Pereira, que em 2014 disse que “Dilma até pode ter ganho as eleições, mas não vai se manter no poder”, Bolsonaro disse para seus apoiadores em um evento que realizou em Orlando que Lula “não vai durar muito tempo.” Disse ainda que “pode ter certeza, em pouco tempo teremos notícias. Por si só, se esse governo [Lula] continuar na linha que demonstrou nesses primeiros 30 dias, não vai durar muito tempo.” deixando evidente que a linha golpista ainda está a espreita, e que a direita e a burguesia não foram derrotadas com as eleições.
Apesar de Bolsonaro ser alvo de diferentes ações que pedem a sua inelegibilidade e diversas outras sanções contra ele, sabemos que essas apurações o deixaram impune. Quem investiga Bolsonaro é o mesmo aparato burguês que ajudou a o eleger, golpear Dilma e prender Lula. Apesar da roupagem de bons moços que agora a direita terceira-via e as tais “instituições democráticas” tentem ter, nada acontecerá significativo acontecerá com Bolsonaro.
Também no evento, ele criticou os autores dos ataques às sedes dos três Poderes em Brasília, dizendo que “a gente lamenta o que alguns inconsequentes fizeram no 8 de janeiro. Aquilo não é a nossa direita. Não é o nosso povo.” Em seguida, Bolsonaro também criticou os excessos e injustiças nos processos contra manifestantes que praticaram atos de vandalismo.
“[Tem] muita gente sendo injustiçada lá. Aquilo não é terrorismo pela nossa legislação. Tem gente que tem que sim ser individualizada, invasão, depredação, e cada um que pague por aquilo que fez.”, ele disse.
Bolsonaro também voltou a questionar o resultado das eleições, que, na realidade, tem muito mais chances de terem sido fraudadas em favor dele do que em favor de Lula, já que ele tinha ligações com a ala política burguesa de Oriovisto Guimarães, dono da empresa Positivo, que controla as urnas, e senador pelo PODE.
Bolsonaro afirmou que “Eu nunca fui tão popular [como] no ano passado. Muito superior a 2018. No final das contas, a gente fica com uma interrogação na cabeça”, após ter sido derrotado eleitoralmente por uma diferença de 2,1 milhões de votos.
Ele está nos Estados Unidos desde o ano passado, e solicitou um visto de turismo para estender sua estadia no país. Sobre sua estadia, ele afirmou “estou há 30 dias aqui, pretendo ficar por mais algum tempo. Não tenho certeza quanto tempo ainda. Estou com muita saudades do meu país.”
Bolsonaro ainda defendeu a eleição de Rogério Marinho (PL-RN) ao comando do Senado e disse que a situação é “importantíssima para todos nós brasileiros”
E por fim, quando foi questionado se pretende se candidatar novamente em 2026, Bolsonaro não respondeu diretamente, apenas indicando que espera se manter politicamente ativo, com a seguinte declaração:
“Acredito que tenha deixado muitas lideranças pelo Brasil. Tem muita gente boa que tá chegando no Congresso, que se elegeram para o Executivo. Tem [eleição municipal em] 2024 pela frente, 2024 é muito importante. Não podemos abandonar a política. A política faz parte das nossas vidas. Eu estou com 67 anos e pretendo continuar ativo na política brasileira.”
As declarações de Bolsonaro deixaram claro que é cedo para que a esquerda e a maior parte do povo trabalhador possam descansar. Cada vez mais o desenho de um potencial golpe se faz claro, e com certeza as forças da direita, dos militares e da burguesia estão tramando o golpe nesse momento. Um impeachment de Lula, ilegal como foi o de Dilma, serviria muito bem aos interesses da burguesia, tendo em vista que quem assumiria o cargo de presidente seria Alckmin, um réptil político da pior espécie.
As declarações de Bolsonaro, aliada a ampla sabotagem institucional planejada pela direita, como já foi declarada pela própria bancada do latifúndio, e a proteção dos militares aos manifestantes formam um quadro perigoso. É a formação de uma frente golpista encabeçada pelos militares muito clara, conforme demonstra as demais análises desse diário.
Se faz cada vez mais óbvio que Lula precisará de amplo apoio das massas trabalhadoras para mudar a correlação de forças nacional e se manter no governo.