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Repressão identitária

Atacando Nikolas, os identitários favorecem a direita

Os identitários, sob a desculpa de lutar pelas 'liberdades', só consegue pedir pela criação de crimes, aumento de penas e encarceramento.

Nikolas Ferreira

A esquerda continua a sua saga em prol de criminalizar a fala das pessoas. O discurso do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), no dia 8 de março, no Plenário da Câmara, causou uma grande gritaria, pedidos de prisão e cassação de mandato. Qualquer um, como é nosso caso, que se pronuncie contra esse tipo de arbítrio é logo tachado de homofóbico, fascista, nazista etc.

Vamos repassar o que houve no Plenário da Câmara: Nikolas Ferreira em seu discurso reclamou que a esquerda tentou impedi-lo de falar porque no Dia Internacional da Mulher não estaria em seu “lugar de fala”. Em seguida, Ferreira disse ter a solução para o problema. Afirmou: “hoje, eu me sinto mulher – vestiu uma peruca loura e se apresentou como – deputada Nikole.

De início, é preciso fazer duas considerações. 1) ‘Lugar de fala’ é uma arbitrariedade. É verdade que um homem não pode sentir o que sente uma mulher, só quem é mulher pode sabê-lo. No entanto, avançado nesse conceito, nenhuma mulher consegue sentir aquilo que outra sente. Apesar de parecer muito radical, isso já está acontecendo. Djamila Ribeiro, por exemplo, se identifica como ‘feminista negra’. Ou seja, uma mulher branca não teria ‘lugar de fala’ dentro do ‘feminismo negro’. Em outras palavras: ‘Lugar de fala’ é uma censura prévia.

2) Quando Ferreira diz que está se sentindo uma mulher, ironiza àqueles que dizem que a pessoa é aquilo que ela estiver sentindo, tanto que, mais adiante, quando tira a peruca, diz que é do “gênero fluido”, portanto, voltava a ser homem. É inacreditável que se instale um verdadeiro clima de histeria e se queira criminalizar uma ironia. Onde está a ‘transfobia’?

O deputado José Genoíno, um dos fundadores do PT, político muito experiente, acabou caindo na onda e disse em entrevista ao Brasil 247 que Você não pode usar o direito de falar para pregar o crime, pregar o racismo, feminicídio, o ódio, a morte, para fazer apologia de uma ação criminosa. E nada disso foi feito, é preciso admitir, por mais que façamos oposição a um deputado bolsonarista.

Genoíno também disse não ter dúvidas de que Ferreira tenha quebrado o decoro parlamentar, pois “na medida em que o deputado aparece expressando, inclusive fisicamente, uma atitude de preconceito e violência e desrespeito a outra parlamentar, isso é inaceitável do ponto de vista das regras do decoro parlamentar. Ele feriu o decoro parlamentar”.

A afirmação de José Genoíno não tem cabimento. Primeiro que esse dispositivo do ‘decoro parlamentar’ é uma chicana que a burguesia criou para poder sacar do parlamento, sem grandes dificuldades, políticos indesejados. Segundo, ‘violência’, ‘desrespeito’, não houve nada disso.

O discurso

Em sua fala, Ferreira afirma que ‘as mulheres estão perdendo o seu espaço para homens que se sentem mulheres”. E disse haver um perigo, pois estão tentando colocar uma imposição que não corresponde à realidade. E segue: “Eu, por exemplo, posso ir para a cadeia, caso seja condenado, por transfobia. E por quê? Por que xinguei, por que pedi para matar? Não! Porque no dia Internacional das Mulheres, há dois anos, eu parabenizei as mulheres X-X” – uma referência ao par de cromossomos que definem o sexo –. E continua: “Na verdade, é uma imposição, ou você concorda com eles, ou, caso contrário, você é um transfóbico, ou homofóbico, preconceituoso”.

Continuando, Ferreira disse que não estava defendendo a própria liberdade, mas a dos outros, como a de “um pai recusar que um homem de dois metros de altura entre no banheiro da sua filha, sem que seja considerado um transfóbico”. E ainda “liberdade para as mulheres que estão perdendo os seus espaços nos esportes (…) até mesmo em concurso de beleza. (…) Pensem nisso: uma pessoa que se sente simplesmente algo impõe isso para você”. Daí em diante, Nikolas Ferreira ataca o feminismo.

Se a esquerda prestou atenção nesse discurso, não pode ter deixado de notar que esse é o pensamento de, no mínimo, metade da população brasileira. Quanto aos bolsonaristas, é seguro que pensem assim. Inúmeras mulheres de esquerda também acham o mesmo e muitas não se pronunciam por medo da ditadura do cancelamento.

Questões levantadas

Um caso que causou muita polêmica ocorreu em 14 de dezembro de 2022, quando uma estudante, negra, lésbica, no banheiro feminino do restaurante da UnB (Universidade de Brasília) se sentiu incomodada com a presença de um trans lá dentro. Tratava-se de um homem branco, alto, de barba, mas com roupas femininas. Ela o abordou e disse que ali era banheiro feminino. Túlio Henrique dos Santos, ou Brigitte Lucia, retrucou dizendo que, sim, era uma mulher. Quando ouviu que não, que era um homem, Túlio/Brigitte partiu para cima da aluna que só não sofreu agressões piores porque outra aluna que entrava no banheiro e interveio.

Túlio
Túlio/Brigitte na UnB

No final das contas, dias depois, um grupo de alunos fez uma manifestação em frente à faculdade contra a ‘transfobia’; e a mulher que se sentiu incomodada com a presença de uma ‘mulher trans’ no banheiro feminino é que ficou marcada como transfóbica.

Se uma mulher negra, lésbica, está sendo praticamente atropelada por uma trans, fica claro que esse movimento identitário não tem condições de gerir, ou superar, as contradições que suscita.

A preocupação com a segurança é legítima. O caso da UnB serve como exemplo: o banheiro está no restaurante da faculdade, inúmeras pessoas transitam pelo local. Se um homem entrar em um banheiro feminino, é óbvio que logo será dado um ‘alarme’, todos os olhos se voltarão para lá. Por, outro lado, se ficar ‘normal’ pessoas com barba e trajes femininos entrarem nesses banheiros, quem garante que um homem com más intenções não vá se aproveitar da situação para frequentá-los sem serem incomodados? É uma situação muito insegura.

O problema da insegurança foi levantado em uma discussão no Twitter por mulheres de esquerda. Homens, quando opinavam, faziam a ressalva “não tenho ‘lugar de fala’, mas acho que…”, o que demonstra a falta de liberdade nos debates. Feministas mais ‘radicais’ se opõem a que trans frequentem seus banheiros e dizem, com razão, que o movimento feminista está sendo atacado pelo identitarismo que, praticamente, as coloca como conservadoras.

Efeito contrário

Nikolas Ferreira, ou qualquer parlamentar, tem o direito constitucional de dizer aquilo que bem entender. Se for punido, apenas será visto como uma vítima da intolerância da esquerda que tenta impor para os outros as suas convicções.

O Brasil tem uma grande população religiosa e praticamente toda ela pensa o mesmo que o deputado. A intensa campanha que se tem feito na televisão, cinema e propaganda, tem conseguido, quando muito, fazer com que as pessoas comecem a aceitar que outas se vistam ou se comportem de determinada maneira. Porém, não vai muito além.

Se Nikolas Ferreira cassado ou preso pelo que disse, teremos que colocar praticamente toda população brasileira na cadeia.

A esquerda identitária quer encarcerar todo mundo, só se esquece de um detalhe: não controla o Judiciário, não controla os aparatos repressivos do Estado. E é um petista, o deputado Renato Freitas, que está ameaçado de ser cassado pelo que disse no Paraná.

Sob a desculpa de lutar pelas liberdades, pelos direitos de minorias, os identitários pedem aumento de penas, a criação de novos crimes. Ou seja, querem cercear a liberdade, são repressivos e antidemocráticos.

O pior de tudo é que, com isso, o ambiente político geral está cada vez mais repressor, o que só pode favorecer a direita; a extrema, inclusive

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