Na semana que passou, desembarcou no Brasil uma espécie de panfleto ambulante dos serviços de inteligência israelenses, o senhor Mosab Hassam Yousef, apelidado pela imprensa imperialista como “o Filho do Hamas”. Filho de Hassan Yousef, um dos fundadores do Hamas e uma das principais lideranças guerrilheiras da Segunda Intifada, Mosab é constantemente apresentado como uma espécie de prova irrefutável da “monstruosidade” do grupo islâmico. Afinal, se até o filho do co-fundador do Hamas critica a organização, é porque ela seria, de fato, algo nefasto.
A origem do mito do “Filho do Hamas”, no entanto, deixa claro que Mosab não é nada além de uma peça de propaganda. Assim o programa Fantástico, da Rede Globo, em uma entrevista para lá de chapa-branca, apresenta o rapaz:
“Aos dezoito anos, detido pelas forças de defesa de Israel, Mosab passou longos dezesseis meses numa penitenciária israelense. Na prisão, ele diz que viu integrantes do Hamas matarem e torturarem palestinos. (…) Essa percepção o levou a dizer sim para uma proposta que mudaria a sua vida para sempre: ser espião do Shin Bet, o serviço de segurança interna de Israel”.
Não é preciso ter muita imaginação para entender o que aconteceu. Um moleque de dezoito anos passou mais de um ano sob os “cuidados” das forças armadas israelenses. E, de repente, decidiu renegar todo o seu passado, quando fazia parte da organização libertadora palestina. A história é tão mal contada que Mosab precisou estar na prisão para se “convencer” de que os membros do Hamas “torturavam” palestinos!
Se uma figura como Antonio Palocci negociaram a sua saída da cadeia com uma “delação” comprovadamente mentirosa, temendo ficar anos sob os cuidados da amadora Polícia Federal, que dirá alguém que fique mais de um ano sob a tutela dos especialistas em tortura das forças de defesa de Israel?
Mosab Hassam Yousef não teve nenhuma revelação na cadeia. Ele simplesmente capitulou para a pressão dos torturadores israelenses e se transformou em um traidor do movimento do qual fazia parte, como tanto fizeram outros que cederam diante da repressão estatal e da extrema-direita.