Esquerda Institucional

Arcary: “Alexandre de Moraes merece todo o nosso apoio”

Entrevista de Valério Arcary a Mauro Lopes demonstra como setores da esquerda apoiam Alexandre de Moraes, um golpista de primeira hora.

Os eventos do dia 8 de janeiro ainda não foram suficientemente compreendidos pela esquerda, como demonstra o raciocínio aloprado de Valério Arcary, em entrevista ao jornalista Mauro Lopes pouco depois dos distúrbios. Arcary acredita que o governo teria saído fortalecido. Copiando o que vem sendo repetido na grande imprensa, e também na independente, o membro do PSOL acredita na tese da tentativa de golpe, o que ele chamou de “uma aventura golpista… um movimento de tipo insurrecional que fracassou… um fiasco”. Esse suposto fracasso teria colocado a extrema-direita na defensiva, na sua opinião.

Os acontecimentos mostraram que não é bem assim, o governo sofreu um baque, está tentando tomar medidas, mas são todas paliativas. E mesmo essas pequenas mudanças foram alvo de críticas de golpistas como Sergio Etchegoyen. O próprio governo reconheceu que foi pego de surpresa. Toda a ação, como as prisões, estão restritas a pessoas sem qualquer tipo de importância dentro do movimento e não faz sentido dizer que as respostas do governo tenham feito com que este tenha conquistado a “hegemonia política”.

Arcary se disse estupefato com a facilidade com a qual os manifestantes entraram nos prédios. Portanto, houve, no mínimo, conivência das Forças Armadas, que estão encarregadas da segurança inclusive do presidente da República. Esse núcleo não foi tocado e permanece fundamentalmente intacto e sua atitude diante da invasão do STF, Congresso e Palácio do Planalto, não foi mera “paralisia”, a ação foi planejada.

Valério Arcary argumenta que não havia perspectiva de atos significativos após o dia 8, que para ele é outro sinal de enfraquecimento. Seu foco, como se vê, está nos manifestantes, no bolsonarista de classe média, quando deveria observar a movimentação do generalato. Provavelmente não veremos punições aos oficiais, o que demonstra que a correlação de forças é desfavorável ao governo.

Reformismo

Em determinado momento da entrevista, Arcary diz que o sentido da luta da classe trabalhadora é “mudar a vida das pessoas, para as pessoas trabalharem menos, para viverem melhor, para que o piso da remuneração do trabalho seja muito mais alto e para que o teto da remuneração do capital seja muito menor, seja reduzido de forma vertiginosa e abismal, para que haja mais justiça, mais liberdades… para que as pessoas sejam menos infelizes. Esse é o sentido da luta da esquerda e para isso é necessário a unidade da classe trabalhadora”. Embora afirme, no final que “o Psol é um partido de impulso revolucionário anticapitalista, enquanto o PT – segundo ele –, um partido com base na classe trabalhadora e o impulso de reforma e regulação do capitalismo selvagem que existe no Brasil”.

Uma coisa é lutar por conquistas parciais dentro da luta de classes, outra coisa é dizer que sejam o sentido da luta. Os revolucionários, por princípio, lutam por abolir as classes, não apenas fazer com que o lucro do patrão caia. E nada mais desanimador do que lutar para que as pessoas sejam “menos infelizes”. “Por um mundo menos infeliz” está mais para slogan de marca de refrigerante do que para ideal revolucionário.

Força, ‘Xandão’!

Segundo Valério Arcary, a extrema-direita cresceu muito no Brasil, que Bolsonaro chegou praticamente a ter metade dos votos, que a vitória de Lula foi muito estreita, ainda que a hegemonia cultural da esquerda brasileira tenha crescido ao longo fundamentalmente do ano de 2021 em função do Pacto da Pandemia e em 2022 em função da pressão inflacionária, de toda a tragédia ambiental, econômica e social. Uma pequena inflexão na relação social de forças.

Em 2021, se houve um crescimento da “hegemonia cultural” da esquerda, teremos que admitir que foi pífio, pois sofreu sistematicamente sabotagem de setores como o próprio Psol, que fez tudo o que pôde para evitar que o Fora Bolsonaro se tornasse uma movimento realmente de massas.

Arcary insiste em um ponto: de que Lula tem “a tarefa de “desbolsonarizar” o Estado Brasileiro, mas que isso não será possível sem que Bolsonaro seja responsabilizado pessoalmente por crimes de responsabilidade”. Mais uma vez, esses setores da esquerda apostam na Justiça burguesa para que cumpra o papel de se livrar da extrema-direita. Em vez de apostar no fortalecimento da esquerda para que se crie uma massa cada vez mais importante de trabalhadores agindo politicamente para forçar o governo para a esquerda e enfrentar a direita, apela-se para a criminalização e a devida punição, que fica ao encargo do Estado. Arcary acrescenta ainda que “não seria justo deixar de que a iniciativa de Alexandre de Moraes nos últimos dois dias [o afastamento de Ibaneis e o pedido de prisão de Anderson Torres] merece todo o nosso apoio, temos que dizer as coisas como são”.

Ora, o bolsonarismo não se restringe à figura de Bolsonaro, prendê-lo não vai, como querem, desmoralizar os extremistas. Não podemos duvidar que sua prisão lhes dê ainda mais ímpeto. A pergunta que temos de nos fazer é: como mudar a correlação de forças com a extrema-direita se esse setor da esquerda se aposta suas fichas no fortalecimento das instituições do Estado burguês? A direita não vai se livrar dos fascistas porque esta é uma carta que trazem na manga. O máximo que pode acontecer é guardá-la para apresentar quando o jogo estiver mais favorável.

Não adianta ficar gritando “sem anistia”, “nenhum passo atrás”, “desbolsonarizar”, “punir”, “prender” se isso vai depender do Judiciário, peça fundamental do golpe de 2016. Querem prender os donos de restaurante que fretaram ônibus para levar manifestantes para Brasília, mas a cabeça da da extrema-direita não está aí, está no alto-comando das Forças Armadas.

Por isso é necessário que os Comitês de Luta entrem em ação e que se organize a classe trabalhadora com base em um programa, não em ações esporádicas, para que se possa de fato enfrentar a direta que, ao que tudo indica, entrou em um movimento golpista que só pode ser barrado pela classe trabalhadora organizada.

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