No início desse ano, foi revelado um rombo bilionário nos balanços contábeis das Lojas Americanas, rombo este decorrente da especulação financeira parasitária realizada por seus principais acionistas, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. A revelação do golpe resultou em uma profunda desvalorização das ações da varejista, forçando-a a entrar em processo de recuperação judicial, ameaçando o sustento de milhares de seus empregados.
Apesar disto, Lemann, Telles e Sicupira permanecem entre os cinco maiores bilionários do Brasil, segundo lista anual das pessoas mais ricas do mundo, divulgada pela Forbes nesta terça-feira (4), sendo que Lemann ocupa o posto de homem mais rico país, perdendo a primeira posição de pessoa mais rica apenas para Vicky Safra, viúva do ex-banqueiro mais rico do mundo Joseph Safra.
E não apenas os acionistas da Americanas continuam entre os mais ricos, como suas fortunas aumentaram, o que demonstra que os capitalistas tendem sempre a saírem impunes das crises que eles provocam, crises estas que resultam em miséria e desgraça aos trabalhadores.
O leitor pode se perguntar: como eles conseguiram permanecer entre os principais bilionários do Brasil (e do mundo), e ainda aumentar suas respectivas fortunas, sendo os principais acionistas de uma empresa cujas ações se desvalorizaram em cerca de 90%, a ponto de entrar em processo de recuperação judicial?
Bem, falando a linguagem do empreendedorismo, eles diversificam seus investimentos entre vários ramos da produção e do comércio. Não são acionistas ou sócios de apenas uma empresa, mas em várias.
Por exemplo, os três citados acima são sócios-fundadores da 3G Capital Partners. Igualmente, possuem participações na Restaurant Brands International, controladora do Burguer King e da rede canadense de cafés Tim Hortons. Jorge Lemann, por sua vez, é acionista controlador da Inbev, a maior cervejaria do mundo.
Em outras palavras, se seu “investimento” não for frutífero em uma, há as outras.
Na verdade, é preciso esclarecer o seguinte: eles não investem em nada, pois quando se investe há benefícios para a empresa que recebe o capital.
Esses burgueses especuladores, magnatas do capital financeiro, colocam parte de seu capital em diversas indústrias e empresas apenas para fins especulativos. Sugam tudo o que podem delas, enquanto são rentáveis, produtivas. Quando o leite seca, eles pulam fora. Caso não seja viável tentar salvar o empreendimento diante de uma crise, ou diante de algum escândalo que resulte em uma crise, eles pulam fora do barco, retiram seu capital e partem para outra. São parasitas da pior espécie.
E os trabalhadores, como ficam? Diante da falência das empresas que foram parasitadas (como pode acontecer com a Americanas), restam-lhes apenas a rua da amargura.
Paralelamente a este cenário de parasitismo, o restante do povo brasileiro precisa lidar com um cenário de crise econômica que não termina, mas que, ao contrário, parece se aprofundar. A inflação cresce, o consumo diminui.
Por sua vez, o Banco Central brasileiro segue “independente”, graças à legislação aprovada pelo golpista Michel Temer. Estando independente, o governo Lula não possui controle institucional sobre o banco. Para piorar a situação, o BC é capitaneado por um banqueiro, Roberto Campos Neto, um canalha da mesma laia de Lemann, Telles e Sicupira e dos bilionários da Forbes. E este banqueiro segue com a política de manter os juros a quase 14%, sob a desculpa de combater a inflação.
Mas essa justificativa é uma farsa, pois a inflação no Brasil, neste momento, não decorre de um consumo elevado.
A realidade é outra: manter os juros nas alturas é justamente para permitir que parasitas como Lemann (e os demais especuladores nacionais e internacionais) mantenham-se bilionários (e até mesmo enriqueçam) em tempos de crise.
É para que eles lucrem com a desgraça e a miséria do povo brasileiro.
Roberto Campos Neto e sua política de juros altos servem a eles. E por isto deve ser combatida.