Em entrevista ao canal de televisão fechada GloboNews, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara se disse “frustrada” com o governo Lula após a votação da Medida Provisória dos Ministérios:
“Não posso negar que há, sim, uma certa frustração. Até porque o presidente Lula se comprometeu durante a campanha, prometeu ministério, cumpriu, e esse ano se posicionou fortemente com esse protagonismo dos povos indígenas e a retomada da demarcação dos territórios. Sei que a bancada ruralista está muito articulada. Acho que o presidente Lula poderia ter entrado um pouquinho mais para impedir essa retirada do Ministério dos Povos Indígenas.
Não há como negar que a declaração é caluniosa e muito mal intencionada. Primeiro de tudo, ao dizer que se sente “frustrada”, a ministra dá a entender que o governo teria sido o grande responsável pelo resultado da votação. No entanto, o que ocorreu foi o exato oposto: o governo adotou uma Medida Provisória logo no início do mandato para viabilizar as suas atividades, enviou a medida para o Congresso para que fosse tornada definitiva e aguardou a votação. As modificações quer foram feitas, como a retirada de poderes do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério dos Povos Indígenas se deu por obra dos deputados, e não do governo.
Por deputados, leia-se o grupo controlado por Arthur Lira (PP-AL), o presidente da Câmara, dono de um esquema mafioso que controla centenas de parlamentares. O que aconteceu na votação da MP não foi um “equívoco grave” do governo, como disse Guajajara, mas sim uma clara operação de sabotagem política: Arthur Lira fez com que fosse aprovada uma medida que contrariasse, em parte, os interesses do governo, impondo, assim, mais uma derrota parcial a Lula. A MP precisaria ser votada até o dia 1º de junho – caso contrário, perderia a validade. E Arthur Lira, que já deu várias demonstrações de que tem muito mais poder na Câmara do que o governo, ditou os seus termos.
Se Sonia Guajajara acha que o governo poderia ter “entrado um pouquinho mais”, ela acha que Lula deveria ter se rendido ainda mais à Câmara. O que possivelmente o governo poderia fazer nessa situação, em que está completamente refém do parlamento? O fato é que, em um correlação de forças tão desigual, não é possível chegar a qualquer tipo de acordo: Lula não tem nada a oferecer que seja suficiente para que o Congresso se volte para o seu lado. A única maneira de Lula conseguir levar adiante uma política própria seria apoiado na mobilização dos trabalhadores, coisa que Sonia Guajajara não aventa – nem nunca aventou – como possibilidade.
Além de não ter fundamento, a queixa de Guajajara cumpre um único propósito: criar um clima negativo, pessimista em torno do governo. Afinal, um governo que “frustra” as pessoas não mereceria ser apoiado ou defendido. É uma declaração que prepara uma iniciativa golpista contra o governo.
O fato é que Sonia Guajajara não está minimamente preocupada com as reivindicações dos índios, nem do conjunto da população brasileira. O Ministério dos Povos Indígenas, por exemplo, não fez esforço algum para libertar o companheiro Magno Souza, preso durante 20 dias em meio a um processo absurdo. Neste caso, ao contrário da situação em que Lula se encontra, não havia qualquer coisa que impedisse a ministra de agir. Ela não seria deposta do ministério, não seria presa, não enfrentaria uma CPI: tudo o que lhe custava era assinar meia dúzia de documentos. Mas Guajajara preferiu não fazer por um motivo muito simples: ela não é uma representante dos interesses da maioria da população indígena, mas apenas uma carreirista de classe média interessada em fazer da situação miserável dos índios um trampolim para a ascensão social.
Não há como resolver qualquer problema dos índios sem lutar contra a direita. E Guajajara não só não luta contra a direita, como é financiada por ela: a ministra é uma das muitas “ongueiras” infiltradas na esquerda. Seu suposto desabafo contra o governo serve justamente aos seus patrões: é uma clara tentativa de omitir a sabotagem que o governo vem sofrendo e de colocar a culpa dos males do País sobre o presidente.