Repressão

Antiterrorismo: esquerda como base de apoio para a repressão

A esquerda pequeno-burguesa está preparando a própria corda com a qual será enforcada

As acusações de terrorismo tomaram conta do vocabulário da esquerda pequeno-burguesa desde que bolsonaristas começaram os primeiros protestos contra o resultado da eleição, se intensificaram agora, com a ação em Brasília, no último dia 8, quando houve a invasão e o quebra-quebra no Congresso, do Palácio do Planalto e do STF.

Ouvir canais de esquerda no Youtube e ler a maioria dos artigos nos portais da esquerda nos dá a impressão de que se está diante de um daqueles reacionários jornais sensacionalistas. “Terroristas!” , “Criminosos!” ,”Bandidos!” todas as palavras-chave da direita, repetidas sem vergonha por pessoas que se dizem de esquerda. Claro que o repertório reacionário adotado pela esquerda não é nada mais do que a repetição e reprodução do que anda falando a Globo e a imprensa golpista.

O maior problema dessa política é que o Estado capitalista está fortalecendo, com o apoio da esquerda, leis cada vez mais repressivas, como a lei antiterrorismo. São leis repressivas abertamente políticas, que possibilitam perseguir politicamente movimentos, organizações, indivíduos. A esquerda que chama a força do Estado para esmagar o bolsonarismo está avalizando uma situação que necessariamente vai se voltar contra a própria esquerda, os movimentos populares e trabalhadores.

Essas ideias só podem ser repetidas por pessoas de classe média, sem nenhuma relação com o movimento popular. Com o argumento de que invadir o congresso é terrorismo, a esquerda já teria ido parar na prisão há muito tempo e muitas vezes.

Alguns se escondem atrás do vandalismo. Mas isso é apenas um ingrediente secundário. A burguesia, verdade ou pura calúnia, já acusou a esquerda de vandalismo uma quantidade incontável de vezes. Só um esquerdista de classe média, sem nenhum vínculo com o movimento popular e operário, pode achar um escândalo a invasão de prédios públicos.

A esquerda que adota esse discurso substitui a luta política contra a extrema-direita por uma pseudo-luta institucional. Acreditam que as instituições repressivas do Estado darão um jeito na extrema-direita, coisa que só poderia passar pela cabeça de crianças políticas.

Para a esquerda que não conhece os métodos dos movimentos populares e do movimento operário, e não conhece também como a burguesia no poder do Estado trata esses movimentos, vale lembrar alguns episódios.

Em 1983, o Movimento Contra o Desemprego e a Carestia convocou manifestação no Largo Treze de Maio, em Santo Amaro, bairro operário na capital paulista. A prisão de alguns manifestantes serviu como estopim para uma onda de quebra-quebra, saques e arrastões que se espalhou para vários pontos da cidade.

https://www1.folha.uol.com.br/banco-de-dados/2018/04/1983-protesto-de-desempregados-em-sao-paulo-deixa-1-morto-e-566-detidos.shtml

No segundo dia de protestos, os manifestantes se dirigiram até o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual. Os manifestantes derrubaram os portões e foram reprimidos pela polícia.

Em 7 de agosto de 2003, quando a reforma da Previdência estava sendo aprovada no Congresso, 50 mil servidores fizeram um ato em Brasília que terminou com a ocupação do congresso e várias coisas quebradas.

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0708200311.htm

Em 2006, uma organização de sem-terra chamado Movimento pela Libertação dos Sem-Terra (MLST) realizou ocupação do Congresso Nacional. Matéria do Estado de S. Paulo, na época, dizia que “O coordenador de Apoio Logístico do Departamento de Polícia Legislativa (Depol), Normando Fernandes, está na UTI com afundamento craniano frontal esquerdo e edema cerebral. Outros 24 também ficaram feridos. 545 integrantes do movimento foram presos, entre eles seis lideranças. Bruno Maranhão, que comandou a invasão é dirigente do PT. Os presos foram recolhidos ao ginásio Nilson Nelson, onde ficaram sob custódia da Polícia Militar do Distrito Federal”

https://www.estadao.com.br/politica/sem-terra-invadem-depredam-e-deixam-feridos-na-camara/

Em 2014, a imprensa golpista acusava o MST de “bloquear vias e derrubar grades de proteção do Supremo Tribunal Federal”, segundo matéria da Veja.

https://veja.abril.com.br/brasil/mst-invade-brasilia-e-entra-em-confronto-com-a-policia/

Em 2017, sob governo golpista de Temer, manifestantes entraram no Congresso nacional e foram acusados de quebradeira.

https://globoplay.globo.com/v/5811521/

Apenas poucos exemplos servem para mostram que o método da ocupação de prédios públicos é tradicional da esquerda. Muitas categorias operárias, como Correios e Petroleiros já realizaram esse tipo de ação inúmeras vezes.

A burguesia, por outro lado, acusa os movimentos de promoveram quebra-quebra, vandalismo, de cometer crimes, para justificar a repressão política. Essas acusações podem ser simples mentira como podem ser verdadeiras. Um movimento radicalizado pode resultar, legitimamente, em algum dano. De maneira nenhuma isso deve servir para justificar uma repressão.

A esquerda pequeno-burguesa que hoje grita por repressão, que quer que o peso da lei recaia sobre os bolsonaristas não está nada mais do que preparando sua própria corda. Quem será enforcado, no final das contas, será a esquerda.

A Lei antiterrorismo evocada agora contra os bolsonaristas – e é preciso dizer que é contra os peixes pequenos bolsonaristas – é um produto da direita contra o povo.

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