Os governos de tipo nacional-popular, portanto, reformistas, são invariavelmente vacilantes e ziguezagueantes politicamente em face das pressões e chantagens que o imperialismo exerce, inclusive hesitam ou retrocedem seus projetos nacional-reformistas caso não se apoie nas amplas massas e por elas não sejam pressionados a uma posição independente no ambiente da política externa.
O governo Lula tem realizado uma maratona de política externa, que demonstra cristalinamente suas inclinações de levar a cabo uma política soberana.
Uma maratona que começou na vizinha Argentina de Alberto Fernandes e Cristina Kirchner, na qual anunciou o esboço de um intercâmbio de soberania monetária, a viabilização de uma integração energética, baseados na reestruturação do ambiente do Mercosul.
Em uma turnê diplomática, o ex-chanceler e atual assessor-chefe da Assessoria Especial do presidente Lula, Celso Amorim, embarcou para Moscou com escala na França, para com interlocutores do governo Emmanuel Macron, empreender diálogos de paz, envolvendo as forças da OTAN, da qual a França participa, e a Rússia, envolvidos no caso do conflito ucraniano. Este tour diplomático de Celso Amorim, antecede a visita ao Brasil do chanceler Russo Serguei Lavrov, no próximo dia 17 de abril, para tratar do mesmo tema com o chanceler Mauro Vieira e o presidente Lula, que apesar da aparente neutralidade, tem, sem firulas e bravatas, se posicionado taxativamente ao lado da Rússia, quando se recusou enviar munição para as tropas da OTAN na Ucrânia e votou favorável no Conselho de Segurança da ONU, para que se realize uma investigação séria no caso do episódio de sabotagem no gasoduto Nord Stream.
Lula, que remarcou a visita à China para o próximo dia 11, após anunciar o estabelecimento de que as transações comerciais entre ambos os países serão realizadas em moedas domésticas, ou seja, no Yuan e no Real; e imediatamente após a ex-presidenta, Dilma Rousseff, ter sido empossada na presidência do Banco dos BRICS.
Uma densa nuvem de especulação sobrevoou o adiamento da viagem do presidente Lula com sua comitiva para a China, (por recomendações médicas) que na ocasião (sem a presença do presidente Lula) assinaram convênios bilaterais em várias esferas, que transitam, da comercial e da política, da ciência e tecnologia à cooperação militar. O voto contrário da representação brasileira à condenação da Rússia no G20, e a recusa da diplomacia brasileira em endossar o intervencionismo na Nicarágua, também, revela, com nitidez, a postura avessa aos caprichos do império. A esquerda pequeno-burguesa em frenesi, que já havia ventilado que a visita do presidente Lula ao presidente dos EUA, Joe Biden, no último dia 10 de fevereiro, seria uma demonstração de capachismo, e que o Brasil estaria de joelhos para os interesses do imperialismo estadunidense, chegou ao cúmulo de novamente chamar o governo nacional-reformista do presidente Lula de dócil servo dos interesses dos EUA, quando na Assembleia Geral das Nações Unidas, em um gesto protocolar e normal de chancelaria, votou contra a chamada Operação especial Russa na Ucrânia.
Agora que o governo Lula toma iniciativas concretas, no sentido de se integrar à Iniciativa de Cinturão e Rota, aproximando-se mais intimamente do ponto de vista político, reabilitando relações com aquela nação asiática que é o nosso mais importante e principal parceiro comercial, reintegrando-se efetivamente no bloco dos países emergentes, cujos interesses são coincidentes com os nossos, no ambiente comum dos BRICS. Como qualificarão agora o governo nacional-popular do presidente Lula? Vão chamá-lo novamente de capacho do imperialismo? Este será apenas um caso de ótica ou de servilismo aos amos imperiais tributados pela esquerda burguesa e pequeno-burguesa, que há muito tempo perdeu a bússola de orientação política e o caminho de casa