Após voltar da manifestação do dia 09/01 em defesa do governo Lula, um companheiro de luta do Partido da Causa Operária (PCO) no Rio de Janeiro, Angelo Castilho, foi emboscado e tentaram agredi-lo por autoproclamados antifascistas. Esse grupo depois postou em suas redes sociais uma suposta denuncia do passado de Angelo, que já é público, em conjunto a calúnias sobre o companheiro e o PCO, de que este seria um infiltrado da extrema-direita nos atos. Por isso, o Diário Causa Operária (DCO) entrevistou Angelo, para que o companheiro possa se defender das calúnias e ser um exemplo de que é possível sair até da extrema-direita e se unir à luta da esquerda.
Ângelo, que fez campanha por Bolsonaro no passado, conheceu o PCO em 2022 na campanha do Partido em defesa da Rússia, contra os nazistas da OTAN. Assim, participou dos atos em defesa da Rússia, dos atos pelo Fora Bolsonaro, participou da campanha contra a censura ao PCO por parte juiz fascista Alexandre de Moraes, entrou na campanha por Lula presidente, foi para o Mato Grosso do Sul fazer a campanha de Magno Souza, único candidato indígena ao governo no Brasil, voltou ao Rio de Janeiro e seguiu na campanha por Lula presidente e, por fim, agora está na luta em defesa do governo Lula e pelo enfraquecimento do bolsonarismo em suas bases.
Os supostos antifascistas tentaram agredir então uma pessoa que não é da extrema-direita há anos e que nos 10 meses em que se aproximou de um partido de esquerda fez mais pelos trabalhadores que a esmagadora maioria da esquerda pequeno-burguesa, inclusive os anarquistas, que nem sequer defenderam Lula quando ele era a única alternativa real contra a vitória de um golpista para o governo federal.
Segue a entrevista com o companheiro Angelo:
Diário Causa Operária: Como aconteceu a tentativa de agressão?
Angelo Castilho: Eu fui ao ato pela democracia, contra o que os bolsonaristas fizeram em Brasília, contra o golpe, e fiquei no bloco dos companheiros do PCO. Quando estava no ato, apareceu uma pessoa pedindo ajuda, talvez uma possível briga, fui ver o que era mas no fim não aconteceu nada. Na volta eu me separei dos companheiros do PCO e fui sozinho andando pela glória, uma pessoa veio por trás e tentou me dar um soco, eu o joguei no chão, e aí vieram os outros três e tentaram me agredir enquanto estava no chão. Me levantei e me preparei para a briga mas depois eles correram. Um taxista viu e perguntou se tentaram me assaltar, respondi que não. Não estou machucado, meu óculos está inteiro, apenas roubaram meu gorro com o bótom do Z, em apoio à Rússia.
DCO: E como você conheceu o PCO?
AC: Eu conheci mais pela Internet. Antes, quando eu era da direita, até tive enfreamentos com o PCO, mas sempre gostei do Partido por sua postura de luta. As pessoas da direita estudam a esquerda, e eu nunca fui um liberal, já que o PCO fala uma linguagem popular muito próxima do que eu entendia eu gostava. A defesa de minorias sem o identitarismo, por exemplo. A oportunidade para conhecer pessoalmente chegou quando houve um ato em defesa da Rússia contra a OTAN e os neonazistas do Azov. Participei do ato e nessa ocasião me identifiquei como um nacionalista, não de esquerda, o militante do PCO então falou “se esta pela Rússia não tem problema”. Nesse ato, o MBL apareceu para atacar os manifestantes, defendi os companheiros e quando a polícia os levou detidos fui para a delegacia, junto a toda a manifestação, para impedir que fossem reprimidos. A partir daquele momento, comecei a conversar com o PCO. Antes disso, eu fui bolsonarista, fui da extrema-direita, depois me afastei e me liguei ao Nova Resistência, foram eles que me tiraram da extrema-direita, do olavismo e depois de encontrar o PCO na rua passei a participar das atividade. Em todo esse período o PCO foi muito honesto comigo, nem na direita me trataram dessa forma tão digna. O PCO sempre me convidou para participar das atividades, afirmou que tínhamos que ter o diálogo mesmo com pessoas com outras ideologias.
DCO: Em 2022 começaram e te caluniar após um ato na Aldeia Maracanã, o que houve?
AC: Na situação da invasão da Aldeia Maracanã na prática não houve nada. O deputado bolsonarista Rodrigo Amorim mais uma vez ameaçou invadir a Aldeia (uma ocupação urbana indígena). Eu já não gostava dele quando eu era da direita, principalmente quando ele quebrou a placa da Marielle, achei um desrespeito total. Então, quando vi o chamado nos grupos de WhatsApp, fui para a Aldeia defender os índios, fiquei conversando com a liderança da Aldeia e no final não houve nada, apenas trocas de xingamentos, mas nenhuma briga. Depois desse dia começaram a me difamar, os anarquistas/independentes que participam da ocupação da Aldeia Maracanã publicaram supostas denúncias em redes sociais. Fui lá para ajudar e, no fim, eles me atacaram. Pela questão do Darci Ribeiro sempre defendi a causa indígena, inclusive quando estava na direita, basta o índio não ser do Itaú ou da Open Society, é claro. E depois houve outra situação, indo para as atividades do PCO conheci o companheiro Magno, candidato do PCO ao governo do Mato Grosso do Sul.
DCO: Você chegou a ir ao Mato Grosso do Sul participar da campanha de Magno, como isso aconteceu?
AC: O PCO estava a procura de pessoas para ajudar Magno, ele havia sofrido muitas ameaças de morte, o tio de Magno foi assassinado nos anos 80 por pistoleiros, então me perguntaram se eu estava dispostos a defender os índios, se eu aceitaria ir nas retomadas. Vendo como a esquerda atacava Magno e como a situação era muito perigosa para ele, fui para o Mato Grosso do Sul defendê-lo. Lá, andamos pelas aldeias e retomadas, os pistoleiros sempre estavam próximos, subiam nas caixa d’água armados. O companheiro Magno era muito bem recebido, virei admirador do Magno e dos demais companheiros do PCO que estavam na campanha. Não era igual aqui que é seguro, nas aldeias é um breu, para te matarem e levar para o meio do mato é muito fácil. No fim foi uma experiência maravilhosa, como ser humano fez muito bem para minha vida. Vi a vida dos índios, o descaso da Funai, os relatos da luta dos índios, conhecemos um deles que teve o fêmur dilacerado por uma bala da policia militar. E os militantes de Twitter ainda colocaram uma foto minha com o Magno em que eu estava com uma camisa do Nova Resistência reclamando. Nós tivemos coragem de ir lutar com os índios, esse povo não teve.
DCO: E você também participou da campanha por Lula presidente, certo?
AC: Antes de ir ao Mato Grosso do Sul, que foi durante o primeiro turno das eleições, e quando voltei, também participei da campanha do Lula. Por isso também sofro ameaças dos bolsonaristas, me chamam de traidor, de agente da Rússia. Fiz campanha aberta pelo Lula, fiz questão de mostrar que é possível rever as suas posições, rever que a Lava Jato foi criada pelo Deep State norte-americano para travar o desenvolvimento econômico brasileiro, que os imperialistas estão todos do lado de bolsonaro, que Guedes é um agente do Soros. Lula, por outro lado, é uma liderança que esta sempre com uma corda no pescoço, mas nas vezes que ele se insurge um pouco, ele toma políticas importantíssimas, criou o BRICS, por exemplo. Eu sei que o Lula é um cara extraordinário, e sei que isso não é o suficiente para governar, é preciso um apoio nas ruas para que ele governe.
DCO: Na sua opinião, por que tentaram te agredir?
AC: Eu acho que é uma campanha contra o PCO, principalmente, mas, também é uma ação de vingança. Da mesma forma que sou ativo no PCO, fui ativo na direita, houve momentos que tive confronto com a esquerda. Uma vez impedi uma manifestação de invadir uma igreja, nesse caso até hoje eu não acredito que é certo invadir igrejas, acho inclusive que é coisa de guerra híbrida. Também houve o caso do debate sobre o aborto com pessoas de direita e de esquerda que tentaram invadir e houve confronte, e também o caso de uma marcha em São Paulo em que os antifascistas foram brigar e houve confronto. Mas pelas denuncias das redes está claro que isso é usado como forma de ataque ao PCO.
DCO: E o que você acha dessa política desses “antifascistas”?
AC: Vamos ser sinceros, esse pessoal não tem condição de intimidar ninguém, quem intima de verdade é a CUT, o MST, o PCO e as torcidas organizadas. Esse povo deixou que as ruas fossem tomadas pela direita em 2013. E outra coisa, se eles acham que as pessoas não podem evoluir intelectualmente, nunca terão as massas, na força não vão conseguir nada, é preciso ter diálogo. E além disso, esse é o mesmo pessoal que foi a favor do golpe de Estado no Peru, que apoia o Azov na Ucrânia, atacam Maduro, Chavez, são contra Ortega. Em 2013, foram os agentes principais que criaram o caos para a direita se aproveitar e tomar os atos. Na prática, eles são uma sucursal do Partido Democrata no Brasil.
DCO: Por fim, que política você defende agora que Lula foi eleito?
AC: Temos que botar a militância na rua, para mostrar ao povo que a esquerda é ativa. Sobre os atos bolsonaristas de domingo, quem os organizou é que deve estar preso, as senhoras, os “tiozões”, não. Eles foram seduzidos por um discurso criado pela Globo e incrementado pelo olavismo. É possível conversar com essas pessoas sim, eu estou aqui, sou a maior prova viva disso. Agora, se eles vierem nos agredir, então nós vamos reagir e pedir a prisão só das pessoas certas. Por exemplo, algum deputado bolsonarista que está de fato por trás, esses não são coitadinhos. Coitados são os que estão na quadra da Polícia Federal agora. Temos que conversar com essas pessoas, se eles forem educados, nós conversamos, se vierem na maldade, nós também vamos na maldade. Já mudei a ideia de muitos bolsonaristas através do diálogo e eles escutam quando falo do PCO. Nossa política, portanto, tem que ser diálogo quando necessário, briga quando for preciso, e mobilização popular permanente em defesa do governo Lula.