Os partidos da direita que se alinharam à frente popular durante as eleições do ano passado ou que se integraram à base do governo passam-se por democráticos e progressistas. Latem contra o bolsonarismo, embora tenham sido eles a base fundamental de apoio institucional à chegada do bolsonarismo ao poder e à sua manutenção em quatro anos de ataques aos trabalhadores.
Fingem-se amigos das mulheres, dos negros e dos homossexuais. Dizem defender os direitos humanos e o meio ambiente. Mas, nas coisas que realmente interessam à população, demonstram sua verdadeira face. É o que evidencia a crise em torno do Banco Central.
Reportagem da Folha de S.Paulo, intitulada “Centrão e ala da base aliada contestam discurso de Lula na economia”, informa que os membros do PSD, MDB, União Brasil e outros partidos fisiológicos da direita supostamente aliados ao governo, na Câmara e no Senado, são radicalmente contrários às ideias levantadas nos últimos dias pelo presidente Lula, a saber, a demissão do neoliberal bolsonarista Roberto Campos Neto da presidência do BC e a revisão da autonomia da instituição. Os próprios presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP) e Rodrigo Pacheco (PSD) – ambos reeleitos com o apoio de Lula – discordam veementemente da posição do mandatário.
Tudo isso era absolutamente esperado. Afinal de contas, foram esses mesmos partidos e parlamentares que aprovaram a autonomia do Banco Central em plena vigência do governo Bolsonaro e cinco anos após o golpe de Estado, em 2021. Essa era uma medida fundamental para o imperialismo assegurar maior controle sobre o nosso País, coisa que não vinha sendo conseguida até a derrubada de Dilma Rousseff.
Sendo o impeachment irregular, uma vez que se tratou de comprovada manobra com fins meramente de perseguição política contra o PT e a esquerda, e não contra as “pedaladas fiscais”, a “corrupção” e em defesa da “democracia”, todas as medidas tomadas pelos governos golpistas de Michel Temer e Jair Bolsonaro foram feitas sob um regime ilegítimo. Em sua esmagadora maioria, resumiram-se a ataques cruéis contra o povo, como as reformas previdenciária e trabalhista, a entrega da Base de Alcântara, a nova política de preços da Petrobrás (controlados pelo mercado internacional, não mais pelo governo), a privatização da Eletrobrás e de uma série de outras empresas e a autonomia do Banco Central, dentre muitas outras.
Portanto, essas medidas deveriam ser anuladas, uma vez tendo sido eleito um governo popular e legítimo, que representa institucionalmente a derrota do golpe de 2016. Para essa derrota ser concretizada, é necessário anular toda a política neoliberal imposta durante seis anos de regime golpista. Lula se propôs a fazer isso, mesmo que parcialmente. A base social e eleitoral do PT exige isso. Mas seus “aliados” no Congresso e nos ministérios são justamente parte dos responsáveis por essa devastação e não estão dispostos a voltar atrás, uma vez que não passam de funcionários da burguesia e dos interesses do imperialismo.
Para conseguir reverter a situação em que os golpistas jogaram o País, Lula precisa, em primeiro lugar, se livrar desses “aliados”, que na verdade são amigos da onça. São inimigos dentro do governo, quinta-colunas. A aliança de Lula deve ser com os trabalhadores, com a massa que o elegeu, com os integrantes da base do PT, com a CUT, o MST e os movimentos populares. Esses são os maiores interessados em apoiar Lula em sua política nacionalista, e em aprofundar a própria política lulista. Somente com a mobilização dessa base e com o rechaço de alianças ineficazes com a direita e a burguesia será possível aplicar a política que Lula pretende conduzir.