Durante o último período na política nacional, impôs-se nos posicionamentos políticos de toda a esquerda pequeno-burguesa uma grande confusão: as ações do ministro Alexandre de Moraes passaram a representar a defesa da democracia e a luta contra o fascismo. Moraes começou sua investida atuando contra os bolsonaristas. Censurou e perseguiu muitos deles, condenando Daniel Silveira, inclusive, à prisão (da qual ele escapou graças a um indulto concedido pelo próprio Bolsonaro), fechou diversas redes sociais e páginas de influenciadores bolsonaristas e outras medidas ditatoriais.
Desde o princípio, o Partido da Causa Operária alertava que não se devia apoiar tais medidas, pois elas se voltariam contra a esquerda, o que rapidamente aconteceu, atingindo as redes sociais do próprio PCO: todas foram derrubadas e bloqueadas por Moraes, e assim permanecem até o presente momento.
Com a eleição de Lula, essa confusão se aprofundou. Como a maior parte dessa esquerda não leva em consideração a mobilização popular, atribuíram às ações do juiz a razão da vitória do PT. Nada podia estar mais longe da realidade, considerando que o STF nada fez contra as tais fake news propagadas pelos bolsonaristas durante todo o período eleitoral, não impediu que a polícia perseguisse eleitores em pleno dia de votação e não inibiu patrões bolsonaristas de perseguirem seus funcionários que declaravam voto em Lula. Além de muitas outras omissões diante do avanço bolsonarista.
Agora, após uma bem-sucedida manifestação de bolsonaristas, que lograram invadir os prédios do Congresso Nacional, do STF e o Palácio do Planalto, Alexandre de Moraes realiza uma série de ações que servem apenas para jogo de cena: prisão de mais de mil manifestantes, afastamento do governador do DF, Ibaneis Rocha, prisão do ex-secretário de segurança do DF, Anderson Torres e outras punições contra figuras secundárias.
Nada disso irá, no entanto, atingir os verdadeiros organizadores e mandantes do ataque contra o governo Lula: a alta cúpula das Forças Armadas. Contra os generais, almirantes e brigadeiros, o “super-ministro” Alexandre de Moraes não tem poder nenhum. O máximo que ele conseguirá fazer é decretar a prisão de manifestantes bolsonaristas “paus-mandados”. Mesmo assim, muitos sairão livres e os responsáveis não chegarão nem perto de ser atingidos.
A única forma de efetivamente combater o avanço da extrema-direita é mostrando para os trabalhadores o que está ocorrendo de fato e organizando a população para sair às ruas para defender o governo Lula. Além disso, Lula precisa extirpar de seu governo todos os elementos bolsonaristas e ministros como Flávio Dino e Múcio, nos quais ele não pode depositar nenhuma confiança. Confiar em Alexandre de Moraes para fazer frente aos militares é iludir a população e não permitir que todos percebam a urgência de sair às ruas e se mobilizar contra os militares.