A esquerda pequeno-burguesa segue aprofundando suas confusões sobre a natureza dos atos bolsonaristas do dia 8 de janeiro. A invasão dos prédios dos 3 poderes realizada por manifestantes enfurecidos está sendo comentada até os dias de hoje e as interpretações sobre o acontecimento passam longe de compreendê-lo, o que tende a inviabilizar uma luta real contra os bolsonaristas e coloca o governo Lula em uma situação muito difícil.
O artigo intitulado “Entenda por que o mundo civilizado apoia o presidente Lula contra o terrorismo bolsonarista” assinado por Paulo Donizetti de Souza e publicado na Rede Brasil Atual está repleto dessas confusões. São várias as teses erradas defendidas pelo articulista: o fato de que os acontecimentos do dia 8 foram uma intentona golpista, um apoio imaginário do imperialismo a Lula e ele também defende a falsa ideia de que Lula estaria colocando os militares e os setores da direita e da extrema-direita na defensiva. A ideia mais nociva, no entanto, é a que está implícita no título da matéria: chama o imperialismo de “mundo civilizado” e deposita neles a esperança da luta contra o avanço da extrema-direita no Brasil e no resto do mundo.
Em sua matéria, Paulo Donizetti afirma que Lula teria “subido o tom” contra o alto escalão dos golpistas, ele diz:
“Lula passou a falar com escalões mais altos do estafe golpista. Primeiro, apontando que, com as portas do Palácio do Planalto abertas, não foi necessário arrombá-las. Autoridades militares teriam, portanto, facilitado a invasão. Segundo, passou a desafiar o silêncio que as altas patentes das Forças Armadas se impõem desde os atos terroristas”.
Ainda que seja correta a denúncia feita por Lula de que os militares foram os verdadeiros autores do ataque aos prédios dos governos, é um pouco ridículo pensar que o simples fato de ele declarar isso ter algum efeito no sentido de fazer recuarem esses golpistas. Ainda mais, declarar que as portas do Palácio do Planalto já estavam abertas é uma verdadeira demonstração de que seu governo está numa situação de incapacidade de reação contra estes tipos de ataques.
Além disso, “desafiar o silêncio” da cúpula das Forças Armadas é algo que quase soa como uma piada. Todos já se deram conta da responsabilidade dos militares nesses atos. Qual militar que veio a público corroborar essa declaração ou fazer algum tipo de denúncia contra eventuais colegas que possam ter organizado essa ação? Por acaso, o simples fato de Lula apontar isso vai ter algum efeito dentro das Forças Armadas? É evidente que não. Os militares foram bem sucedidos em sua operação e, ao que tudo indica, não serão punidos de forma alguma pelo ocorrido.
O articulista do Brasil de Fato também quer fazer crer que há uma indisposição do imperialismo com os militares no Brasil e isso seria um fator de impedimento para uma eventual derrubada do governo Lula. Segundo ele, “A comunidade internacional também acompanha atentamente a resistência republicana ao golpismo no Brasil. Seria um país chave para a extrema direita tentar manter sua ascensão no mundo, em especial na América do Sul”.
Donizetti realmente acredita que existe um grande ímpeto do imperialismo para conter a extrema-direita em todos os lugares e que isso faz com que eles se inclinem a apoiar Lula no Brasil. Nada mais distante da verdade.
Primeiramente, é preciso salientar que, apesar de boa parte da “comunidade internacional” ter se colocado contra os ataques dos bolsonaristas após o acontecido. Nos momentos anteriores, em que todos sabiam que seria realizada a invasão, não houve nenhuma condenação ou tentativa de impedir as manifestações por parte desses setores. A condenação simplesmente veio para que o imperialismo faça a usa velha demagogia com a questão da democracia, o que não passa disso: uma grande demagogia. O imperialismo não defende a democracia em nenhum lugar, inclusive, eles foram autores, financiadores ou fiadores de todos os golpes de estado que foram dados no Brasil e na maior parte dos ocorridos na América Latina.
Nesse momento, declarações de Biden e de Macron em solidariedade às janelas e portas do Palácio do Planalto não irão dar conta de barrar o golpismo das Forças Armadas. Inclusive, alguns analistas defendem até a ideia de que uma ala da CIA seria a responsável pelos ataques no Brasil. Ou seja, existe a possibilidade de o imperialismo estar por trás de tudo isso. Não é o que parece a princípio, mas também não é algo a ser descartado, ainda que a operação feita no Brasil não seja da mesma natureza do Euro Maidan, como foi levantada por analistas.
Paulo Donizetti de Souza, autor da matéria do Brasil de Fato, defende que a defesa que o imperialismo estaria fazendo do Brasil seria porque seus dois objetivos principais nesse momento seriam uma ecologia abstrata e a luta contra a extrema-direita. Por causa disso, ele acredita que “as principais economias do mundo” estariam “do lado do governo brasileiro”. Como ele afirma no trecho:
“Isso porque interessa ao mundo civilizado avançar em pelo menos duas searas de interesse global: o combate efetivo ao aquecimento global; e também ao crescimento da extrema direita”.
A ingenuidade da frase é gigantesca. Mostra uma incompreensão total do funcionamento do imperialismo mundial. Primeiramente, o único interesse dos donos do mundo são os seus lucros. A questão do aquecimento global ou o combate à extrema-direita são apenas justificativas para que eles avancem sobre os países atrasados no sentido de rapinar os seus recursos.
Além disso, a ideia de “mundo civilizado” é totalmente absurda. Indicaria a crença em uma predisposição dos maiores vampiros do mundo à defesa da democracia e do desenvolvimento dos povos. O imperialismo não tem nada de civilizado e de democrático. Eles são os propagadores de todas as principais guerras e golpes de estado no mundo todo.
No Brasil, isso é bastante latente. O próprio golpe de 2016 foi claramente organizado e executado pelo imperialismo, como já ficou patente para todos. Colocar nas mãos destes que são os maiores inimigos do povo e da classe operária brasileira, a defesa do governo Lula e da nossa democracia é a receita para a derrota.
