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Acreditar que Gonet barrará o fascismo é caso de hospício

Como é possível que um bolsonarista apoiado por figuras da direita golpista possa ser um instrumento do “extermínio civil do nazifascismo em sua versão tupiniquim”? 

“Está tendo início o extermínio civil do nazifascismo em sua versão tupiniquim – o bolsonarismo. Trata-se de um processo que envolve a construção de uma grande ação penal extremamente sólida e amplamente fundamentada contra um movimento que tentou, a partir de 2022, solapar a democracia e implantar uma ditadura no país”.

Com essas palavras, que iniciam o artigo intitulado “Por que Lula e STF bancaram Paulo Gonet”, publicado no portal Brasil 247 no dia 6 de dezembro, Eduardo Guimarães, responsável pelo Blog da Cidadania, esforça-se para explicar por que Paulo Gonet foi escolhido pelo presidente Lula para ocupar, pelo próximo biênio, o cargo de Procurador-Geral da República. 

Sua tese é a de que Bolsonaro e o bolsonarismo serão derrotados por uma “grande ação penal extremamente sólida e amplamente fundamentada” e que Gonet teria um papel decisivo na condução dessa ação. Segundo Guimarães, “Gilmar e Moraes disseram a Lula que precisam de Gonet para levar a cabo a condenação de Jair Bolsonaro e seus asseclas mais graduados”. Trocando em miúdos: Gonet foi alavancado ao posto por pressão de uma ala do STF capitaneada por Alexandre de Moraes e Gilmar e seria, a crer na justificativa veiculada por Guimarães e os ministros da Corte, uma espécie de aríete contra o bolsonarismo.

A tese, convenhamos, é digna de alguém que fugiu sorrateiramente de um hospício. 

Guimarães, seguindo as trilhas da esquerda que nutre ilusões fantasiosas nas ditas “instituições”, parte do suposto de que o STF, ou pelo menos sua ala majoritária, à frente da qual se encontrariam Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, estaria numa luta real e efetiva contra o bolsonarismo. O STF, nessa versão dos fatos, seria o grande baluarte da luta contra Bolsonaro e o depositário das maiores esperanças da esquerda em ver exterminado o movimento da extrema direita.

Trata-se de pura ilusão, e nada mais do que isso. Não há luta real da parte do STF contra Bolsonaro. Muito pelo contrário. Sem o STF, o próprio Bolsonaro e o movimento do qual é a principal liderança sequer teriam chegado onde chegaram. O bolsonarismo cresceu na esteira do golpe contra o governo do PT em 2016 e a prisão de Lula, e o STF desempenhou um papel decisivo em todo esse processo. Está bem longe de ser um exagero afirmar que o STF é, na verdade, um dos pais do bolsonarismo. 

Além disso, vai ficando cada vez mais clara a farsa em que consiste a “luta” travada pelo STF contra o bolsonarismo. O julgamento dos envolvidos na manifestação bolsonarista do 8 de janeiro o comprova. O órgão caçador de bolsonaristas, tão elogiado por parte da esquerda, não fez mais do que condenar donas de casa, empregados do baixo escalão da Sabesp, ambulantes e por aí vai. As grandes figuras do bolsonarismo, seus dirigentes e lideranças, o alto escalão das Forças Armadas, que apoiou e deu sustentação para o ato ― até agora o STF não chegou nem perto de voltar suas baterias para as forças fundamentais do movimento bolsonarista. A propalada “luta” é, com efeito, um engodo, um mero jogo de cena. Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Cia. fingem que combatem o bolsonarismo, mas o único resultado alcançado é a consolidação e fortalecimento da extrema direita.

Mas se os “padrinhos” da indicação do novo Procurador-Geral da República passam longe de qualquer luta contra Bolsonaro, o próprio Gonet encontra-se em situação ainda mais, digamos, problemática. 

Gonet é, ele mesmo, um bolsonarista. Gonet é um ferrenho inimigo do direito ao aborto, reivindicação histórica do movimento de luta de mulheres. Defensor da Operação Lava Jato, foi o responsável pela sustentação oral no processo contra a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defendendo o recebimento da denúncia contra a petista, quando ocupava a posição de subprocurador-geral, em 2016. Em 2018, Gonet solicitou a reprovação das contas de campanha do Partido dos Trabalhadores. O então vice-procurador-eleitoral apontou irregularidades na campanha do ex-candidato à Presidência, Fernando Haddad (PT), hoje ministro da Fazenda de Lula, e ainda sugeriu a devolução de R$8 milhões aos cofres públicos. Nos anos de 1990, quando representou o Ministério Público Federal (MPF) na Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, votou contra o reconhecimento da responsabilidade do Estado sobre a morte de opositores da ditadura. Para arrematar esse currículo direitista, Gonet também foi cotado para ser o Procurador-Geral da República durante o governo Bolsonaro. Sua maior defensora, à época, foi ninguém mais, ninguém menos do que a bolsonarista Bia Kicis, que o definiu como conservador raiz e cristão.

Diante de tal histórico e levando-se em consideração quem está por trás de sua indicação, é difícil encontrar qualquer lógica nos argumentos daqueles que atribuem a Gonet um papel decisivo no combate ao bolsonarismo. Como é possível que um bolsonarista apoiado por figuras da direita golpista possa ser um instrumento do “extermínio civil do nazifascismo em sua versão tupiniquim”? 

A indicação de Gonet por Lula foi uma imposição da direita ao governo para responder a algum acordo cujos termos ainda não estão suficientemente claros. Eduardo Guimarães, ao propagar uma justificativa infundada e absurda dos fatos, contribui, verdadeiramente, para confundir a natureza real da elevação de Gonet ao posto. O absurdo da explicação é tão grande, porém, que o próprio efeito da confusão se mostra limitado. Não é qualquer pessoa que, de posse da ficha corrida de Gonet e seus apoiadores, acreditará que ele se trata realmente de uma poderosa “arma” contra o bolsonarismo. Se dentro da lógica da política é difícil compreender tal interpretação das coisas, talvez a psiquiatria consiga.

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