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Marcelo Marcelino

Membro Auditoria Cidadã da Dívida Pública (ACD) nacional, sociólogo, economista e cientista político, pesquisador do Núcleo de Estudos Paranaenses – análise sociológica das famílias históricas da classe dominante do Brasil e membro do Partido da Causa Operária – Curitiba.

NEP

A trajetória de Rogério Marinho

Essa coluna é apenas um aperitivo em termos de demonstração de como as imbricações de ordem familiar alteram as configurações das carreiras políticas dos indivíduos

Desde longa data que os estudos do Núcleo de /Estudos Paranaenses (NEP) vinculado ao Departamento de Ciências Sociais da UFPR procura investigar as trajetórias das elites políticas nacionais como também de membros diversos da classe dominante, como forma de contribuir na interpretação do fenômeno sociológico que envolve as estratégias da dominação burguesa em várias frentes. O casamento entre famílias históricas da classe dominante, as incursões posicionais das práticas de nepotismo direto e cruzado, as alianças que estabelecem relações de amizade, compadrio e outras formas de pragmatismo político são maneiras que os grupos dominantes utilizam desde a conquista da colônia brasileira pelo Estado português.

Dos capítulos coloniais que atravessamos até a transição da denominada Nova República (1985) em diante, o que chama a atenção no Brasil são as formas de metamorfose das oligarquias tradicionais e mais recentes no que tange a sua capacidade de adaptação, acúmulo e reprodução de forças de controle e dominação do país em conluio com o imperialismo. A chegada de novos membros dentro das fileiras das elites políticas e até mesmo da classe dominante tem diversos caminhos de explicação em termos socio históricos e econômico-políticos de acordo com determinadas conjunturas políticas e econômicas e contextos mais densos em termos sociais.

A ideia de que muitos indivíduos conseguem alcançar níveis de influência e poder pela via de uma escalada solitária cai por terra quando aprofundamos melhor a sua biografia e trajetória política. O exemplo de Rogério Marinho, candidato apoiado pelo bolsonarismo à presidência do Senado no último dia 1 de fevereiro, não escapou das lentes dos nossos colegas pesquisadores do NEP, José Lázaro Ferreira e Vanessa Roberta do Rocio que de maneira clara e objetiva explicitaram pontos relevantes da carreira dessa “raposa” política afim de desmistificar a ideia, muitas vezes comum, de que os indivíduos são ávidos empreendedores de si mesmos (self made man).

O artigo que contempla a trajetória de Marinho foi publicado em junho de 2020 na Revista NEP – Curitiba – Dossiê Poderes Locais intitulado O Silêncio dos Vencedores como ”Ilusão de Outsider”: família e trajetória política de Rogério Marinho. O parlamentar em perspectiva alcançou projeção nacional quando atuou como relator da reforma trabalhista em 2017, ainda enquanto deputado federal do PSDB-RN. Seu desempenho foi tão elogiado ao atingir o objetivo de aprovação, que no governo Bolsonaro foi escolhido novamente para uma tarefa muito importante no bojo do golpe de Estado de 2016, a de ser relator da reforma da previdência. No período anterior à reforma trabalhista ele havia sido pinçado pelo então presidente da câmara Rodrigo Maia para fazer um trabalho de economista ligado ao PSDB com verniz “técnico”. De lá pra cá acumulou prestígio político e passou a ser um homem de confiança do “mercado” (lobista parlamentar).

Professor de carreira do ensino público estadual no Rio Grande do Norte na década de 1980, profissão sem grande destaque em termos de poder político esconde a sua linhagem familiar repleta de influências e capitais políticos de destaque, como no caso do seu avô Djalma Marinho que presidiu a Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do Norte, com carreira no Ministério Público, na Justiça Eleitoral e na Delegacia do Tesouro Nacional em Natal. Foi ainda deputado estadual em 1935 e 1947; foi suplente de deputado federal em 1945 (UDN) e em 1950 (União Popular) e em 1954 alcançou uma vaga como deputado federal pela UDN. Foi ainda professor da Faculdade de Direito de Natal e se reelege como deputado em 1958. Durante a crise política do início da década de 1960 Marinho se reelege novamente em 1962 Às vésperas do AI-5 Ato Institucional número 5 da ditadura civil-militar Marinho defendeu no plenário, ainda como deputado, o direito à liberdade de expressão.

Logo após o episódio da ratificação do AI-5 em 13 de dezembro de 1968, Djalma Marinho e outros deputados passaram a discordar de muitas das posições da ditadura civil-militar, principalmente aquelas relacionadas à liberdade de expressão. No centenário do nascimento de Djalma Marinho em 2008 o seu neto lhe presta uma homenagem na companhia de vários políticos do RN. Seu neto, Rogério Marinho já estava na câmara federal desde antes dessa homenagem, portanto, trata-se de um político experiente e que não é nenhuma novidade entre os políticos do Congresso. Djalma Marinho teve 5 filhos, dentre esses, Márcio Marinho, tio de Rogério; também foi deputado, só que estadual, sua tia Celina Marinho foi casada com o último prefeito biônico de Natal, indicado para o cargo pelo então governador Agripino Maia na década de 1980. Seu pai Valério Djalma Marinho foi presidente da seção do RN da OAB em 2001

Rogério Marinho é ainda originário do clã Barbalho, conhecido na política nacional a partir do Pará, pela figura de Jader Barbalho e agora o filho, o governador Helder Barbalho, no seu segundo mandato.Sônia Maria Simonetti é a filha mais velha do segundo casamento de Arnaldo Barbalho Simonetti, indivíduo de muitas heranças coloniais, onde a família tem lugar de prestígio no rio Grande do Norte desde o período colonial. Arnaldo foi nomeado promotor público aos 23 anos em 1932 e desde então, acumulou uma série de cargos e espaços de prestígio e influência pessoal, onde certamente Rogério Marinho é herdeiro por parte da mãe. Vejam que essa coluna é apenas um aperitivo em termos de demonstração de como as imbricações de ordem familiar alteram as configurações das carreiras políticas dos indivíduos em termos locais, regionais e nacionais, corroborando a tese de que a classe dominante percorre os caminhos do poder “nunca” de maneira isolada; ao contrário, são fortes e coesas conexões que fortalecem os laços e o poder da classe dominante.

Artigo publicado, originalmente, em 04 de fevereiro de 2023.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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