A propaganda anti-nacional do jornal O Globo não tem limites. Na última sexta-feira (03/03), foi publicada a matéria intitulada: Nova política de preços proposta pela Petrobras só é usada em países com produção 100% estatal, dizem especialistas. Com uma chamada dessa natureza, é claro que o conteúdo da matéria não seria muito brilhante.
De acordo com os especialistas de O Globo, como o professor neoliberal Edmar Almeida, da UFRJ, vinculado ao grupo de Economia da Energia. “Quem adota esse tipo de estratégias são países com o setor de petróleo 100% estatal, como Bolívia e Venezuela (sic). Nesse setor, ter um preço para o custo de produção é uma ideia arbitrária, porque ele é composto por custos que oscilam, além de ser um recurso finito”; destaca Edmar Almeida,
Obviamente, “um preço para o custo de produção” não é uma ideia arbitrária. A proposta apresentada não visa acabar com as oscilações do mercado, ou ditar os preços da companhia, o que é impossível enquanto a produção social circula através da forma mercadoria. O que se propõe é “desdolarizar” a indexação de preços da Petrobrás para a comercialização interna, acabar com o famoso PPI (política de paridade internacional), já que os custos de produção no Brasil são todos em reais. Sobre os países com produção 100% estatal, o que ele convenientemente esquece de dizer, é que o mercado internacional está DOMINADO de estatais, sejam elas completamente públicas, ou de capital misto
As novas 7 irmãs: estatais completamente públicas, ou de capital misto
O professor continuou elaborando sua justificativa para a política lesa-pátria: “É abandonar por completo os quase 30 anos de abertura de mercado no Brasil”; disse Almeida.
O que o professor não revela, no entanto, é que a abertura econômica brasileira foi um dos episódios mais traumáticos e desastrosos da história nacional. Chegou, inclusive, a pôr em risco a estabilidade da república de 1988, ainda em sua infância. Além disso, a PPI que temos na Petrobrás surgiu em 2016, com o governo Temer. O que o professor deseja fazer, é criar o mito de um tal “progresso”, que estaria em risco, para justificar a manutenção do assalto por parte dos mercados internacionais aos bolsos brasileiros.
No decorrer da matéria, um dos “especialistas” foi mais honesto e revelou: “na opinião de um advogado especializado no setor e que prefere não se identificar, o modelo para a nova política de preços ‘está imputando interesse político na Petrobras, uma companhia de capital misto e da qual o acionista espera resultados’”.
Essa é a questão fundamental: resultados. Traduzindo para o trabalhador brasileiro, a questão fundamental é o dinheiro, “cascalho”, money, plata. Claramente, O Globo e outros jornais burgueses concentrarão sua artilharia na política de preços da Petrobrás para proteger o rendimento dos acionistas que, por sua vez financiaram, para além da matéria, o golpe de Estado de 2016.
Lágrimas de crocodilo
O desespero é tamanho, que as críticas ao fim da PPI também se sustentam pelo ecologismo:
“Não dá para pregar transformação energética e, ao mesmo tempo, que o combustível fóssil seja barato. Isso tira competitividade do etanol, dos biocombustíveis, da eletrificação dos veículos. É um discurso contraditório, uma miopia política. Ter larga produção e exportar não significa vender mais barato aqui”, defende o professor Almeida.
Veja bem, o professor de economia diz claramente, com todas as letras, que o combustível fóssil não deve ser barateado no Brasil. Pensem nas florestas! nos ursos polares flutuando em uma placa de gelo desgarrada! No aumento do nível do mar e em todas as desgraças ecológicas imagináveis! Infelizmente, ninguém pensa no aumento imediato da inflação, na fome que assola o nosso povo, nossa autocondenação à pobreza e o subdesenvolvimento. Não engolimos as lágrimas de crocodilo do mercado financeiro e seus capangas.
O desabastecimento
Outra linha do ataque à mudança na política de preços está cristalizada no mantra da imprensa: caso se altere a PPI, haverá o risco de desabastecimento, tendo em vista que os lucros, não tão exorbitantes, levariam a cadeia produtiva privada ao desinvestimento. A mentira neste argumento é ainda mais absurda.
Nenhum jornalista ao debater o tema tratou da fatia de mercado da Petrobrás em toda a cadeia produtiva: da extração à venda de combustível refinado. Mesmo com os desmontes de Temer e Bolsonaro, de acordo com dados da ANP, a estatal respondeu por 81,29% das entregas de diesel A no país entre janeiro e março de 2021, ante o percentual de 80,02% do quarto trimestre do mesmo ano.
Já na gasolina, a Petrobras representou 79,8% dos volumes entregues ao mercado doméstico no primeiro trimestre de 2021, frente à participação de 80,54% registrada no quarto trimestre do mesmo ano e de 77,63% nos três primeiros meses de 2020. Ou seja, a presença dos atores privados é facilmente negligenciável após uma reestruturação não tão ambiciosa da empresa, que poderia, sem maiores problemas, suprir 100% do mercado nacional.
Interesses em conflito
O grande problema, no entanto, refere-se à natureza da empresa estatal: trabalhará como uma importante indutora do desenvolvimento nacional, ou; tornar-se-á apenas uma fonte gorda de lucros para o mercado financeiro global? Sabemos o que deseja o povo brasileiro.
Para tornar a Petrobrás a fonte de desenvolvimento nacional que ela pode ser, a reestatização completa da companhia é uma condição sine qua non. Caso contrário, o conflito de interesses impedirá um avanço vigoroso e necessário. É pueril, no entanto, achar que a presidência de Lula seria capaz de promover essa reestatização agora, quando enfrenta a resistência do imperialismo e de sua imprensa para mudar, apenas, a Política de Preços Internacionais. Será necessário um amplo movimento, aos moldes do “petróleo é nosso”, para ampliarmos nosso raio de ação e, assim, conseguirmos colocar na ordem do dia, questões fundamentais como: uma Petrobrás 100% estatal e comprometida com o desenvolvimento nacional.