O grupo Resistência, corrente interna do PSOL, publicou artigo chamado “A visita de Lavrov ao Brasil e as perspectivas da questão ucraniana”. O artigo é muito interessante porque tenta fazer um malabarismo com a posição de Lula sobre a guerra na Ucrânia.
Para entender esse malabarismo, em primeiro lugar é preciso saber qual a posição do Resistência sobre o conflito na Ucrânia. Fundamentalmente, o grupo defende a tese estapafúrdia de que a Rússia é imperialista, ou seja, que a guerra seria uma agressão imperialista russa contra a ucrânia.
O Resistência reconhece que por trás da Ucrânia esteja a OTAN e o imperialismo norte-americano, mas sua conclusão é a de que o conflito seria inter imperialista, portanto, deveríamos ser “neutros”.
Já mostramos que essa posição é, na prática, um alinhamento com o imperialismo. Primeiro porque a Rússia não é imperialista; segundo, que a neutralidade aí é estar a favor da agressão norte-americana que usa a Ucrânia como bucha de canhão.
O que é interessante no artigo é a tentativa do Resistência de mostrar que a posição do governo Lula seria a mesma.
“A verdade é que, em essência, o posicionamento de Lula em defesa da paz está correto. Não há hoje nenhuma perspectiva de encerramento do conflito pela via militar e por isso a busca por um cessar-fogo deve ser a prioridade de uma política externa independente e soberana.”
O Resistência ou não entendeu a posição de Lula, ou quer forçar uma interpretação que corresponda ao seu interesse.
Para entender a posição de Lula é preciso partir do princípio de que ele está numa posição complicada como chefe de Estado. Sua posição é aparentemente ambígua, pois não pode se colocar tão abertamente contra o imperialismo norte-americano. Ele quer ter credenciais como mediador.
No fundamental, Lula está, como reconheceu Lavrov, com uma posição “similar” à da Rússia. Isso porque o fim do conflito não é do interesse dos norte-americanos. A posição pró-imperialista neste momento é a de que seria preciso armar a Ucrânia e intensificar o conflito.
A posição de Lula deve ser interpretada nesse marco. Ao dizer que é preciso acabar com o conflito, Lula está desagradando o imperialismo. A isso junta-se a decisão de não enviar munição para a Ucrânia e as críticas recentes ao imperialismo europeu e norte-americano.
Diferentemente do Resistência, que tem uma posição diletante sobre o conflito, Lula tenta, de acordo com sua política conciliadora, um meio de se colocar contra o imperialismo sem precisar se envolver diretamente no conflito. Isso é totalmente diferente do que o Resistência defende, que é uma pseudo-neutralidade.
Essa “neutralidade”, no caso de um grupo sem nenhuma condição de atuar politicamente no conflito, é apenas um alinhamento ideológico com o imperialismo.
O Resistência tem uma posição contrária à do Lula, mas manobra com a posição do governo para esconder sua política reacionária, pró-imperialista.