O Comitê de Apoio à Luta dos Povos Indígenas foi criado por estudantes, professores e advogados que apoiam a luta dos índios de Dourados. “Surgimos para contrastar o abandono dessa causa por parte de toda uma esquerda que, quando busca apoio, é puramente para as eleições, e também porque a luta dos índios representa um duro golpe contra os latifundiários”, diz P.S., que prefere não se identificar devido à repressão da polícia do Mato Grosso do Sul contra os que defendem os índios.
A organização tem participado, junto com o PCO e o Comitê de Luta de Dourados, da mobilização contra a perseguição política e policial aos índios guarani, caiuá e terena da cidade do interior do MS. P.S. denuncia os ataques da PM contra os nove índios que foram presos recentemente (dentre os quais, o companheiro Magno Souza, ex-candidato ao governo estadual pelo PCO) e que, graças à luta coletiva, foram libertados.
“Não podemos entender a perseguição aos companheiros fora do cenário atual da luta de classes do nosso país hoje. Lideranças camponesas estão presas no MS e em outros estados, como Zé Rainha e outras lideranças da FNL, por realizarem ocupações de terras. Há criminalização na Amazônia e no Nordeste contra os movimentos sociais e aqui em Dourados também segue preso o companheiro Leonardo, que também é índio, desde dezembro de 2018”, afirma.
“Lutar não é crime. O único ‘crime’ que eles têm cometido é lutar por seus direitos. Mas isso, para esse velho Estado que a gente enfrenta hoje no país, é um crime. Vamos seguir lutando por sua liberdade contra a perseguição à luta dos índios e dos sem terra em todo o País”, continua.
O ativista também denuncia a relação hostil e repressiva da polícia sul-mato-grossense com os índios da região de Dourados.
“A polícia no Mato Grosso do Sul é, de maneira evidente, uma agente da pistolagem do latifúndio. Há inúmeras provas disso: reintegrações de posse ilegais, prisões ilegais, ataques ilegais, todos feitos pela polícia. O latifúndio não se presta mais a contratar grupos de segurança, pistoleiros ou capangas, agora os latifundiários só ligam para a polícia e os policiais vão fazer esse serviço. Isso mostra o compromisso dos governos de turno com o latifúndio, para manter de pé essa estrutura arcaica que mantém os índios com uma pequena parcela das terras que eles merecem e pela qual eles lutam”, completa.
Em sua opinião, o governador Eduardo Riedel (PSDB) tem muita responsabilidade na perseguição policial e política contra os índios de Dourados.
“Foi tentado fazer acordos, mas não adianta. O acordo dele é com os latifundiários e, obviamente, como governador estadual e responsável pela PM, ele é um criminoso. Riedel armou os latifundiários contra os índios terena e guarani-caiuá. Lógico que hoje ele nunca irá representar os índios.”
Os índios de Dourados vivem em uma condição de vida muito mais baixa do que a mínima, segundo o militante. “Os que vivem dentro da retomada vivem num processo de constante ataque e incriminação, de exposição às drogas, ao álcool, à fome e à miséria. Mas o principal é o grande exemplo de luta e de resistência, porque mesmo enfrentando a polícia e o latifúndio organizado eles seguem enfrentando e resistindo e isso para nosso comitê é um grande exemplo de luta.”