Nos últimos dias, muito tem se discutido sobre o conteúdo da delação premiada feita por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O jornal O Globo e o portal UOL/Folha de S.Paulo alegaram ter tido acesso aos documentos da delação e, portanto, foram os primeiros veículos a divulgar o que supostamente Mauro Cid teria dito à Polícia Federal.
Se o que O Globo revelou for real, Cid está acusando Bolsonaro de cometer crimes relativamente graves. O então presidente da República teria reunido os comandantes das Forças Armadas brasileiras para tentar dar um golpe de Estado. No entanto, apesar da gravidade da acusação, a delação não merece o entusiasmo da esquerda. Muito pelo contrário.
Em primeiro lugar, não se pode ignorar que aqueles que estariam empenhados em punir os “golpistas” que teriam tentado impedir a eleição de Lula são as pessoas que organizaram um golpe de verdade e cujos efeitos são sentidos até hoje: o Supremo Tribunal Federal (STF), o Ministério Público, a Polícia Federal, a imprensa golpista etc. São os golpistas de 2016 que estariam, portanto, tentando colocar Bolsonaro na cadeia por não “respeitar a democracia”.
Em segundo lugar, da forma como os processos estão sendo conduzidos, tudo indica que Bolsonaro servirá somente de bode expiatório para uma grande manobra da burguesia. Afinal, se tudo o que Cid falou for real, Bolsonaro não teria agido sozinho: os três comandantes das Forças Armadas seriam, no mínimo, cúmplices, uma vez que testemunharam o então presidente da República propondo um golpe de Estado, mas não teriam agido.
Não há qualquer sinal de que os comandantes serão investigados. Pelo contrário: há uma clara tentativa de livrar os militares do caso. Segundo o Cid, o comandante do Exército teria dito que, caso Bolsonaro seguisse com o seu plano, seria preso. Trata-se, obviamente, de uma tentativa de mostrar o comandante como alguém sério e incorruptível. No entanto, a pergunta que fica é: se o comandante era tão comprometido com o seu País, por que não reportou imediatamente a reunião que tivera com Bolsonaro?
Do jeito que as coisas vão indo, já é possível afirmar: a delação de Cid não dará em nada. No máximo, levará Bolsonaro à cadeia, aumentando o sentimento de perseguição compartilhado por seus apoiadores. Os militares, contudo, deverão permanecer intocados. Todo o processo deverá terminar em pizza.