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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Luta de classes

A luta de classes está aí, só não vê quem finge que não vê

As contradições criadas pela luta de classes afloram mesmo que os agentes políticos mais mesquinhos tentem escondê-las

Quando o bolsonarismo surgiu, no período das eleições de 2018 e do lavajatismo, a coisa mais difícil era tentar convencer as pessoas que declaravam seu voto no oportunista de que ele representava o caminho da destruição econômica e social do país.

Cinco anos depois, estamos de novo no mesmo dilema. Mas, dessa vez, as pessoas com quem discutimos declaram-se, supostamente, de esquerda.

Descobrimos, para desgosto, que o terraplanismo é bem maior do que imaginávamos. Para desgosto ainda maior, descobrimos que o terraplanismo identitário e pseudo-esquerdista é justamente o fenômeno que jogou 50 milhões de eleitores brasileiros no colo de Bolsonaro, segundo dados da última eleição.

Esse pseudo-esquerdismo é repudiado por metade do eleitorado brasileiro. A outra metade vota no Lula, o operário. E só nele, como mostra o Congresso Nacional.

O único movimento que não recebe votos é o da terceira via, aquele que o pseudo-esquerdismo finge não fazer parte, mas que se delicia por ter espaço de sobra na mídia corporativa.

Tudo tão claro quanto um outdoor na Times Square. Muito evidente também está a correlação de forças e a luta de classes nesse cenário. Só não vê quem finge que não vê.

Hoje, a luta de classes ganhou um tempero extra que vale registrar aqui. É daqueles acontecimentos que acabam dificultando o trabalho dos identitários da Times Square.

O jovem bilionário americano Ted Gurner, em um ataque de sincericídio, em um evento chamado “Financial Review Property Summit”, declarou que os trabalhadores precisam voltar a ter medo de seus empregadores.

Ele disse textualmente: “Nós temos que lembrar aos trabalhadores que eles trabalham para seus patrões e não o contrário. Tem havido uma mudança sistemática em que os trabalhadores acham que os patrões têm muita sorte de tê-los e não o contrário. Temos que matar essa atitude e isso precisa ser feito com medidas econômicas que machuquem. Todos os governos estão tentando elevar as taxas de desemprego para restaurar alguma normalidade. Acho que cada patrão está vendo isso agora. Há grandes movimentos de demissão não muito comentados, mas as pessoas estão sendo demitidas e já começamos a ver menos arrogância no mercado. Isso precisa ser mantido, pois nos ajudará a melhorar nossa estrutura de custo reduzindo salários”.

Qual é o espanto? Ver um cara da classe dominante agindo como um cara da classe dominante? O ruim é ver a classe média agindo como otária. Mas quem diz que a gente consegue convencer alguém disso, não é?

Nas últimas horas, a fala lúcida de Ted, gravada em vídeo, se espalhou pelo twitter e pelo tik tok com muitas legendagens em português e compartilhamento a mil. O parágrafo acima é uma aula de marxismo. Tá tudo ali, em cada palavra do guru dos negócios midiático.

O problema que o cara é tão ignorante e tão arrogante que ele fala isso em público sem pensar nas consequências. Ele, como os identitários, também finge que luta de classes não existe.

A fala repercutiu na esquerda americana e até na imprensa brasileira, com matéria no Estadão.

David North, do World Socialist Website, comentou: “Se me permitem parafrasear Trotsky: “Nem todo empresário pode ser um Hitler, mas há um pouco de Hitler em cada empresário”. Gurner declara abertamente o que os patrões corporativos dizem uns aos outros em particular. Ele dá voz aos interesses da classe dominante que subscrevem o fascismo e os campos de extermínio.”

David Harvey, professor e autor de “17 contradições e o fim do capitalismo”, afirmou: “O capitalismo nunca cairá sozinho. Terá que ser empurrado. A acumulação de capital nunca cessará. Terá que ser interrompida. A classe capitalista nunca entregará voluntariamente o seu poder. Terá que ser desapropriada.”

De que adianta gastar milhões e milhões de dólares para recrutar identitários de classe média, se um desses bilionários vai lá e ajuda a entornar o caldo?

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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