A Corrente Marxista Internacional (CMI), organização internacional baseada no Reino Unido, que no Brasil atua por meio da “Esquerda Marxista” do PSOL, publicou longo artigo intitulado “Por que os comunistas pedem pela Intifada até a vitória?”, onde procuram rebater a perseguição política estabelecida pela imprensa inglesa.
Segundo a CMI, dois artigos do jornal The Telegraph pretendem, “através de insinuação, ofuscar o real significado da ‘Intifada’. A sua acrobacia jornalística procurou equiparar falsamente a Intifada, e toda a resistência palestina, ao ‘terrorismo’ e de ser ‘pró-Hamas’”.
Primeiramente, é preciso pontuar que a imprensa internacional está atuando coletivamente para criminalizar não somente o Hamas, mas também todos os apoiadores e manifestantes em favor dos palestinos. Quase que invariavelmente, o simples apoiador dos palestinos, é taxado de apoiador do Hamas.
Por isso que o artigo acaba sendo uma espécie de pedido de “clemência”, de reconhecimento à imprensa do imperialismo para que se diferencie a luta do Hamas, da luta do povo palestino, como se fosse possível dissociar a luta de libertação nacional e revolucionária do Hamas, da luta palestina.
Para que essa “clemência” seja eficiente para o imperialismo, o artigo procura manter as acusações contra o Hamas e recupera a ideia de Intifada, atribuindo um sentido pacifista ao movimento, o que na realidade não foi. A Intifada, para ter tido um sentido prático, enfrentou um dos mais violentos exércitos do mundo, que é o de Israel. “O poder da primeira Intifada não veio de ataques com foguetes ou de conspirações nos bastidores. A palavra “Intifada” significa literalmente “sacudir” e refere-se a uma revolta em massa contra a opressão”, afirmou.
Na versão do CMI, “os jovens assumiram o controle dos bairros. Os lojistas fecharam seus negócios e a classe trabalhadora palestina recusou-se a trabalhar em Israel”. Isso é uma verdadeira fantasia criada pela CMI, pois esse processo, antes de ser esmagado, teve que atuar em armas.
O revisionismo histórico praticado pelo CMI é tão grande, que se torna impossível tomar pela letra, cada erro em mais de 16 mil caracteres, mas o sentido dado pela organização que se reivindica marxista, é de uma não-violência estabelecida pelas organizações populares, como se Israel tivesse sucumbido pela política pura e simples.
Durante a Intifada ocorreu o uso da violência pelo simples fato de que o confronto de retomada das terras, inevitavelmente levou ao uso da força. Não foi a toa que o imperialismo elevou a carga de ajuda à Israel para conter o movimento.
O artigo, com essa manobra, fez uma excelente contribuição ao imperialismo, pois reiterou a posição de que o Hamas é terrorista, acrescentando duas colocações, a primeira que o partido teria sido criado por Israel e CIA para conter a Intifada; e a segunda de que o Hamas não representa os movimentos de libertação da Palestina.
O Hamas não foi criado pela CIA nem pelo Mossad, mas é uma organização criada no interior do movimento Irmandade Muçulmana do Egito. É uma organização popular que surge das contradições de classe e da opressão de Israel contra o povo palestino. Eventualmente ganhou alguma força com subvenções que visavam colocar em confronto o Hamas com o Fatah.
Apesar de situação episódica, não justifica ao CMI desprezar a luta revolucionária do Hamas e nenhuma outra organização que utilize métodos mais realistas, diante da violência de Israel e do imperialismo. Sempre é preciso lembrar que o Hamas está no seu direito legítimo de defesa contra a opressão sionista.
Mas, de acordo com a CMI, “para aqueles que, com a ousadia da ignorância equiparam as Intifadas ao Hamas, nós os remetemos ao registo histórico”, contesta, e continua “financiado pelos serviços de segurança israelenses, com a supervisão da CIA, o Hamas foi promovido precisamente para atravessar as fortes correntes socialistas e seculares no movimento de libertação palestino”.
Essa versão da História é uma verdadeira distorção do sentido revolucionário do Hamas, que despossuído de qualquer outra forma de tomada de poder, teve que pegar em armas para libertar o próprio povo, e o crescimento desse movimento revolucionário culminou inclusive na chegada do Hamas ao poder na Faixa de Gaza, uma conquista popular inigualável. O socialismo só é possível após a derrota da burguesia e do imperialismo, por isso a tática do Hamas deve ser respeitada pelos revolucionários.
Enfim, apesar de todo apelo emocional da CMI, que supostamente empreende uma luta pelos palestinos, não atacam o cerne, que é a luta para a despossessão do sionismo, que não será feita com rosas, nem mesmo com as pedras, mas com uma boa carga de armas e explosivos diversos.
Por isso, as palavras diletantes da CMI, que diz que “continuarão a defender a herança revolucionária da revolta palestina e a apresentar corajosamente a palavra de ordem em todas as oportunidades: Intifada até a vitória!”, não passa de ciranda.