O Líbano, país vizinho à Síria, uma das maiores vítimas da política imperialista nos tempos recentes, e a Israel, historicamente uma das principais bases de ação dos exércitos imperialistas no Oriente Médio, tem enfrentado uma intensa crise econômica e política no último período. Pouco menos de quatro anos atrás a situação saiu do controle e protestos explodiram na capital, Beirute, devido às duras condições de vida e ao retrocesso econômico. É justamente neste contexto que George Soros, um dos maiores patronos do “progressismo” identitário pró-imperialista, aumentou em ordens de grandeza o financiamento a instituições diversas, particularmente ONGs, no país.
A esta altura do campeonato, trata-se já de uma manobra manjada: a de se utilizar, quando explode o descontentamento popular sem que haja nas manifestações uma liderança marcada de organizações partidárias, particularmente da esquerda anti-imperialista, para direcionar a revolta em direção a questões vazias que coloquem o país sob um jugo ainda mais duro do capital internacional. Foi o que vimos acontecer na Ucrânia e no Brasil dez anos atrás, por exemplo, as “célebres” revoluções coloridas. Não é à toa que estas ONGs foram expulsas do território russo, e que a questão tem ganhado um destaque cada vez maior entre os setores anti-imperialistas mais esclarecidos. No entanto, é importante martelar a questão dado o perigo que essas ONGs financiadas pelo capital internacional representam aos interesses populares e sua capacidade de infiltração dentro da esquerda, muita dela contaminada com uma ideologia de tipo “democrática” (sem a defesa dos direitos democráticos é claro). Basta olhar para os partidos da esquerda pequeno-burguesa brasileira, particularmente o PSOL.
Para mostrar o tamanho da operação política levada pelo bilionário judeu, sua fundação, a Open Society, já destinou desde 1988 mais de trinta e dois bilhões de dólares a diversas ONGs pelo mundo todo. No caso libanês, poucas semanas após a irrupção dos primeiros protestos, Soros já havia destinado quase quatro milhões de dólares às ONGs libanesas com o intuito de financiar as suas atividades. Ao contrário do que o estalinista de Borborema, Jones Manoel, buscou fazer acreditar no ano passado num escatológico e antológico vídeo no YouTube, basta mencionar este fato para se ver a quem servem estas organizações. O fato mais interessante acerca desta distribuição de dinheiro por parte do “filantropo” está no largo alcance das pautas atingidas: Soros destinou dinheiro à imprensa (9%), ao setor judiciário (5%), a organizações de direitos humanos (7%), ao setor cultural e artístico (7%), ao setor universitário (5%), a organizações econômicas (17%), a organizações de luta pela igualdade e contra a discriminação (17%), a organizações de saúde (10%) e, finalmente, a organizações pelo direito das crianças à educação (8%). Na teoria, tudo muito bonito, na prática, o aprofundamento da ditadura imperialista sobre o Líbano.
Listemos algumas das organizações beneficiárias dos recursos de Soros, ainda não apareçam no debate político brasileiro, a temática, e a sua “cara”, já nos é familiar. Temos a “Legal Agenda”, o Fundo Árabe para as Artes e Cultura (AFAC), a Associação Libanesa por Eleições Democráticas (LADE), Kulluna Irada (em sua página online encontramos o seguinte: “como parte da nossa missão como uma organização cívica pela reforma política, nosso trabalho é direcionado ao estabelecimento de Estado moderno, seguro, eficiente, sustentável e justo por meio de uma governança forte e justa.”), o jornal Daraj (na página inicial apresenta uma reportagem atacando o retorno da Síria à Liga Árabe), a Universidade Americana em Beirute (AUB), a associação de advocacia pelos direitos LGBTQ+ Helem, dentre outros. O olhar atento é, imediatamente, capaz de traçar alguns paralelos com grupos brasileiros. Nada mais do que a boa e velha ideologia “democrática” pró-imperialista.
A problemática ideológica tem tomado a dianteira do debate político por parte dos filisteus pequeno-burgueses, particularmente desde a vitória espetacular do Talibã no Afeganistão à guerra levada adiante pelo governo Putin, um direitista conservador, contra o imperialismo na Ucrânia. Esquecem-se do caráter fundamental, que não “democracia” contra o “autoritarismo”, mas sim a luta dos povos oprimidos contra a ditadura imperialista mundial. Se o Hezbollah tem uma ideologia religiosa reacionária, a sua luta contra o imperialismo é profundamente revolucionária; se grupos supostamente esquerdistas libaneses estão na folha de pagamento de George Soros, só servem à escravização de seu povo e à contrarrevolução.