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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Taxação de grandes fortunas

A farsa do bilionário bonzinho

Os recursos arrecadados na forma de imposto vão para o caixa do governo; os doados às ONGs servem aos propósitos dos bilionários

A imprensa burguesa, de tempos em tempos, noticia as boas ações dos bilionários filantropos, verdadeiros benfeitores da humanidade, capazes de abrir mão de milhões de suas fortunas. No último domingo, quem fazia esse mesmo discurso de elogio dos ricaços gente boa era Hildegard Angel, em sua participação no Bom Dia 247. Quando um bilionário faz uma doação, a pequena burguesia exulta – afinal, o mundo tem jeito: basta infundir um pouquinho de cristianismo no coração de um super-rico. Só que não é bem assim.

Quem quiser jogar um balde de água gelada na filantropia dos milionários só terá o trabalho de proferir palavras como “imposto” ou “taxação”. Prova disso está, por exemplo, na recente debandada de milionários da Noruega, reação à taxação de 1,1% de suas fortunas, aprovada por um governo de centro-esquerda. Ao mesmo tempo, a Forbes listava, em 2022, os principais bilionários filantropos do planeta, entre os quais estão Bill Gates e George Soros.

Durante o primeiro ano da pandemia de Covid no Brasil, fomos brindados, noite após noite, com matérias da Rede Globo sobre as doações feitas pelos megaempresários locais. O banqueiro dono do UOL, por exemplo, aparecia bem na foto doando cestas básicas para pessoas que mal tinham o que comer, mas nem por isso deixou de aproveitar uma ajudinha do governo Bolsonaro, que lhe permitiu cortar em 25% o salário de todos os seus funcionários. Feitas as contas, quem foi mesmo que doou? No segundo ano de pandemia, ninguém mais doou nada.

Segundo matéria do UOL, Bill Gates doou vultosa quantia à Fundação Gates, e George Soros doou não menos volumosa soma à Open Society Foundation, organização “sem fins lucrativos” da qual ele próprio é dono. Em geral, os super-ricos doam para si mesmos – na forma de “fundações” – o que, por certo, lhes rende abatimento de impostos. É o mesmo que ocorre por aqui com as fundações ligadas a bancos. Dessas instituições o dinheiro é canalizado para os célebres projetos sociais.

Qual seria, então, a diferença entre doar e ser taxado? Ou, dito de outra forma, para que taxar se eles já doam por meio de suas fundações filantrópicas? Claro está que se trata de saber quem controla o destino desse dinheiro. Os recursos arrecadados na forma de imposto vão para o caixa do governo, que, tendo sido eleito pela maioria do povo, vai empregá-los para implementar suas políticas. Por óbvio, somente governos de esquerda proporiam sobretaxar os super-ricos, sendo essa uma forma de redistribuir uma parte desse dinheiro concentrado nas mãos de um punhado de gente que não trabalha. O governo Lula, na figura do ministro Haddad, tem tocado nesse tema, que promete muita resistência da parte dos nossos filantropos.

No caso de gente do calibre de George Soros, que a imprensa burguesa apresenta como benfeitor da humanidade, a coisa ganha em sofisticação. Sua poderosa fundação financia projetos pelo mundo todo – e até personagens ruidosos da política nacional, como o deputado e ex-BBB Jean Wyllys, que se dedica a escrever teses em universidades e a lacrar nas redes sociais. Por que esse personagem, como muitos outros, merece receber bolsa de George Soros?

As fundações dos bilionários fazem escoar um excedente de dinheiro (impossível de ser gasto por um indivíduo ou uma família) para projetos que assegurem a conservação da sociedade nas bases em que se encontra organizada. Aos muito pobres, cai bem uma esmola de vez em quando, desde que, é claro, continuem sendo pobres. Uma ajudinha aqui, outra acolá para tirar um grupo ou outro da pobreza (bolsa de estudo ou coisa do gênero) também serve para acalmar os ânimos e conter eventual revolta.

Essas ações filantrópicas, às quais hoje se mesclam as causas ambientais e identitárias, não passam de muros de contenção, capazes de encobrir a luta de classes. Nenhuma dessas ações – muito menos essas bolsas de pós-doutorado – está a serviço da emancipação dos trabalhadores. Muito pelo contrário. O bilionário bonzinho só está garantindo que as regras do jogo continuem fazendo dele um bilionário à custa da pobreza alheia.    

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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