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Posições bolsonaristas

A esquerda que emula fascistas é tudo menos esquerda

Espantoso como a solução encontrada para as mazelas sociais e as ameaças da extrema-direita seja competir com os fascistas para ganhar o pódio do mais carrasco

O membro do Diretório Nacional do PT e diretor da Fundação Perseu Abramo, Alberto Cantalice, foi ao X (antigo Twitter) publicar uma série de mensagens entre os dias 5 e 6 muito apropriadas aos bolsonaristas “raiz”, que ganharam notoriedade por defender as mais bárbaras medidas repressivas, porém estranhas a alguém que se diz de esquerda. 

“Crimes de pistolagem, tráfico armado e milícia estão disseminados por todo o país. Chegou a hora de a sociedade discutir a oportunidade do estabelecimento da prisão perpétua [grifo nosso]. Sem saidinha temporária e progressão de regime [grifo nosso] nesses casos. Estes crimes transcendem os chamados crimes do cotidiano. Que também merecem reprimenda do Estado, mas tem outra natureza. Para isso é preciso o fortalecimento da polícia judiciária o que tornaria célere a elucidação de crimes”, publicou Cantalice.

Como que acometido por uma incrível falta de senso crítico, o dirigente petista responsabiliza a própria população pela barbárie a que são submetidas as amplas massas pobres, de onde saem as pessoas que tentarão a sorte com o tráfico de drogas, a pistolagem, a milícia, etc. e que pagam um preço elevado por recorrerem a tais expedientes como meio de vida. Ora, quem são, afinal, os presos brasileiros, senão pessoas muito pobres, vítimas de um sistema econômico em franca desagregação e incapaz de proporcionar empregos, salários e um mínimo de segurança econômica aos cidadãos?

É preciso lembrar também que a população carcerária brasileira é quase exclusivamente negra, composta por elementos oriundos da classe trabalhadora. Ou algo místico se opera no meio das massas empobrecidas, ou existe uma lei social atuando no encarceramento do setor mais pobre da sociedade. Se hoje já são esses elementos os que sofrem as consequências da política repressiva, serão os mesmos que pagarão o preço das loucuras defendidas por Cantalice.

Diante das fortes críticas recebidas, o dirigente petista voltou ao tema, na mesma rede social:

“Só para dar um tempo na bobajada pseudo-esquerdista. Marx e Engels nunca defenderam bandidos. Inclusive criaram a terminologia lumpém-proletariado. Lenin, Trotski, Stalin tampouco. Mao tse Tung, Deng Xiaoping, Ho Chi Min, idem. Fidel Castro, Che Guevara, jamais. O que os seres humanos tem de mais importante é sua integridade física e mental. É isso que defendemos. Direitos para Todos os Seres Humanos.”

Naturalmente, os grandes marxistas não se dedicaram a enaltecer o crime especificamente, mas os direitos democráticos e a civilização sim. Trótski, por exemplo, lembrava que na sociedade de classes, aberrações como a “prisão perpétua” defendida por Cantalice, inevitavelmente, recairá sobre a classe trabalhadora.  Finalmente, os marxistas foram e continuam sendo defensores do progresso e da civilização, não da barbárie.

Muito diferente, por exemplo, do que pediu o então deputado federal, Jair Bolsonaro, ao iniciar seu entrevero com a também parlamentar Maria do Rosário (PT-RS), em episódio no qual Bolsonaro defendia redução da maioridade penal e a deputada petista, acertadamente, opunha-se à medida repressiva. 

O ex-deputado, no entanto, continua:

“Se a esquerda no Brasil e em outras partes do mundo continuarem a ver a questão da Segurança Pública como uma questão menor. Ou como uma consequencia da exclusão do capitalismo, vão naufragar. Esse tipo de conduta se omite da sensação de segurança das pessoas e entrega a pauta nas mãos da extrema-direita. No caso brasileiro há um questionamento: somos 205 milhões de pessoas. Quantos psicopatas, sociopatas, bandidos? Ninguém se sente plenamente seguro para sair de casa nas cidades grandes e médias. Ganha com essa situação os fascistas que verborragicamente prometem soluções de força e nada resolvem. Mas colocam as esquerdas como defensoras dessa situação trágica. Ao aceitar esse status quo, as esquerdas só perdem.”

Salta aos olhos, nesse ponto, que a solução encontrada por Cantalice para as mazelas sociais e as ameaças representadas pela extrema-direita seja competir com os fascistas para ganhar o pódio do mais carrasco. Ora, mas é a opressão provocada pelo capitalismo o verdadeiro problema. Não é à toa que os países desenvolvidos tenham, em geral, menos problemas com a criminalidade do que os países atrasados, ou que no interior das mais diversas nações, o problema recaia sobre as parcelas mais pobres da sociedade.

Na medicina, por exemplo, tratar um quadro de dengue administrando medicamentos contra a febre, além de não resolverem o problema, pode eventualmente matar o paciente. Ao focar no problema do crime nos indivíduos e tirá-lo de sua conjuntura social, novamente Cantalice reproduz exatamente a política da extrema-direita.

“Há crimes”, continua, “que podem ser punidos com medidas diversas da prisão. Outros não. São ideias que devem ser debatidas por todos. Quando se administra um governo faz parte de suas atribuições o enfrentamento a criminalidade. Penso que investir em tecnologia e na polícia investigava- que esta em muitos estados sucateadas- é um dos caminhos. A impunidade leva ao crescimento da prática de crimes. O policiamento ostensivo pode e deve agir como prevenção ao crime. Intervir em conflitos. Agir para a pacificação. O uso de câmeras nos uniformes é necessário e urgente. O policial-um agente público, tem que ter sua atividade controlada. Aí exige-se que os MPs cumpra seu papel. É inadmissível a supelotação das cadeias. Ainda mais com dezenas de milhares cumprido prisão cautelar e alguns passando longos períodos presos sem serem julgados. Alguns nem deveriam estar presos, dado o menor potencial ofensivo do crime. Enquanto isso latrocidas, estupradores, feminicidas, milicianos e traficantes armados andam aterrorizando as localidades impunemente. O Brasil teve no ano de 2022-em pleno governo Bolsonaro 47 mil pessoas que perderam a vida de forma violenta. 78 mil estupros e abusos de menores. É normal isso?”

Claro que nada disso é normal. Menos ainda, porém, é defender a manutenção do sistema de opressão responsável por tais cifras sinistras. É exatamente o que faz Cantalice, que, novamente, não se diferencia em nada da demagogia bolsonarista usada para defender a mais brutal repressão contra o povo. A esquerda comete um grave equívoco se começar a emular o fascismo, como defende o dirigente petista.

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