Até então um ilustre desconhecido, o ministro Benedito Gonçalves, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), passou a ser paparicado pela imprensa golpista e pela esquerda pequeno-burguesa após apresentar o seu relatório recomendando a cassação dos direitos políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Retratado pela burguesia como uma pessoa séria, com um perfil supostamente técnico, indiferente à importância do réu, Gonçalves já virou o novo herói da esquerda nacional, que lhe rasga elogios e até já lhe dedicou uma charge.
Chama muito a atenção o fato de o ministro ser um homem negro. Afinal, toda vez que o imperialismo decide colocar um negro em uma posição importante no regime político, seu objetivo é justamente utilizá-lo para aplicar as medidas mais impopulares, antidemocráticas e reacionárias possíveis. Isto é, como uma espécie de “servente” para realizar o “trabalho sujo”. Nos Estados Unidos, Colin Powell foi uma peça fundamental para a invasão do Iraque, mentindo descaradamente sobre as inexistentes armas nucelares de Saddam Hussein. Anos depois, Barack Obama, o primeiro presidente negro do país, acabaria envolvendo os Estados Unidos em novas guerras.
No Brasil, a situação não é nem um pouco diferente. O julgamento do mensalão, que ocorreu em 2012, foi protagonizado por Joaquim Barbosa, um ministro negro do Supremo Tribunal Federal (STF). Na época, Barbosa era admirado por toda a imprensa golpista, enquanto passava por cima dos direitos da população. Dessa vez, o negro Benedito Gonçalves, o primeiro da história do TSE, está encarregado de tornar um ex-presidente inelegível apenas por ter dado a sua opinião sobre o sistema eleitoral. De acordo com perfil feito pela Folha de S.Paulo, Gonçalves “sonha” em ser ministro do STF.
Merece destaque também o fato de que Benedito Gonçalves também havia sido escolhido para o ser o relator do processo que terminou na cassação ilegal do mandato de Deltan Dallagnol (Podemos-PR), o que só aumenta a suspeita de que há uma operação da burguesia em marcha envolvendo Gonçalves. Se for fato, já poderá contar com o apoio da esquerda pequeno-burguesa, completamente cega diante da ditadura do Judiciário que, mais cedo ou mais tarde, se voltará contra ela.