Nas últimas semanas, o governo Lula vem sofrendo uma série de ataques não apenas por parte da direita golpista no Congresso, mas também de seus próprios ministros e da esquerda pequeno-burguesa como um todo. É o caso de Marina Silva e Sônia Guajajara.
A primeira, por meio do Ibama, impediu a exploração do petróleo pela Petrobrás na foz do Rio Amazonas, uma verdadeira sabotagem ao desenvolvimento nacional. Já a segunda foi a pública vociferar o seu descontentamento com o governo, afirmando estar decepcionada com Lula por conta do esvaziamento de seu ministério.
Diversos setores da esquerda pequeno-burguesa, aproveitando a disposição das ministras, embarcaram no trem de ataques ao governo. É o caso do PCB, da UP e do PSOL, que já, inclusive, convocaram atos contra o governo.
Aqui, é importante entender o que exatamente esses setores querem. Eles estão esperando – e intensificando – a crise do governo do PT para se alçarem para uma posição de liderança de vários setores pertencentes à base do governo por meio de ataques ao próprio governo. Uma reedição da política defendida por esses setores durante o governo Dilma: a esquerda pequeno-burguesa fez coro com os ataques da direita ao governo da época, afirmando que as críticas eram justificadas quando, na realidade, tratava-se de uma campanha difamatória, caluniosa contra Dilma.
Em um determinado momento, alguns setores levantaram a palavra de ordem de “Fora Todos” – ou seja, fora o governo do PT e fora todos que querem derrubar o governo. Algo que, na prática, se resume a um apoio da política da direita de derrubada do governo, já que não houve uma campanha contra o forte movimento impulsionado pela burguesia pelo impeachment de Dilma.
Não se sabe ao certo se essa política da esquerda irá se consolidar como uma tendência. Todavia, é importante, desde já, caracterizar essa ambição, uma ambição eleitoral de setores que querem se apropria do eleitorado do PT. Algo que, diga-se de passagem, não é nenhum crime. O problema é que a esquerda pequeno-burguesa quer fazer isso, conquistar o eleitorado do PT, como subproduto da luta da direita contra o PT. Esse, sim, é o problema.
Tentar conseguir uma determinada vantagem eleitoral por meio da associação, ainda que informal, com a direita para atacar um governo que, apesar de suas limitações, é um governo nacionalista, um governo de esquerda, é uma política criminosa. O governo está sendo pressionado pela direita e, ao invés de lutar contra a burguesia, a esquerda se coloca na luta contra Lula.
Isso só seria justificável se o governo estivesse agindo como um braço da direita, mas é justamente o contrário: enquanto Lula demonstra lutar por uma política cada vez mais à esquerda, como demonstra os seus posicionamentos na política externa, a burguesia tenta empurrá-lo cada vez mais à direita, sabotando toda e qualquer medida mais progressista por parte do Executivo.
E o fato de isso já estar acontecendo agora demonstra que esses setores estão queimando a largada, estão indo para uma posição de oposição ao governo no momento em que este está emparedado pela direita, um posicionamento adiantado que revela qual o jogo dessa esquerda.
É uma situação que necessita grande atenção. Esses setores da esquerda não possuem nenhuma grande capacidade de mobilização, mas tiveram uma contribuição importante para o golpe de Estado de 2016 e, de maneira geral, dão uma cobertura para a direita que lhes é importante. Nesse sentido, é preciso denunciar toda e qualquer tendência golpista não só no interior da direita, mas também da esquerda que, de maneira oportunista, avança ao lado da burguesia contra a luta dos trabalhadores.