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A esquerda e a patrulha das palavras

Enquanto parte da esquerda tenta dizer o que deve ou não deve ser dito, a extrema-direita avança, pois encontra na repressão um solo fértil para crescer

O grupo Esquerda Marxista publicou em seu sítio uma matéria intitulada Comunidade, morro, favela, bairro proletário: qual nome devemos usar?. O texto mostra como parte da esquerda tem receio, ou não consegue, ir direto ao ponto em determinadas questões, como o tal ‘uso correto’ de determinadas expressões.

Em vez de discutir a quem interessa a troca de nomes, o texto termina de uma forma quase professoral “Aos marxistas não cabe determinar como estas localidades devem ser chamadas, ainda que seja válida a explicação histórica da origem de cada denominação, seus sentidos e tentativas da burguesia de disfarçar a opressão”. Qual o propósito de se gastar tanta tinta para explicar o termo ‘favela’ se, ao final, não nos cabe determinar qual nomenclatura utilizar? A matéria poderia simplesmente se chamar “As origens do termo favela”, ou algo assim.

A matéria não faz uma crítica, por exemplo, ao ‘politicamente correto’, que degenerou em criminalização da fala. Se, antes, o próprio uso da expressão ‘politicamente correto’ era usado de forma pejorativa para expor a hipocrisia no excesso de cautela no uso de determinadas expressões, com o passar do tempo o ‘politicamente correto’ se tornou regra e justifica a censura e até pena de prisão para quem disser determinadas palavras.

Censura do bem?

Foi uma armadilha a adesão da esquerda ao ‘politicamente correto’, pois censura é censura, não pode ser do bem. Se, no começo, esta ou aquela palavra não deve ser utilizada, no final, nada poderá ser dito. No Brasil, sob o pretexto da proteção dos direitos humanos e da dignidade, uma injúria racial pode render até cinco anos de cadeia, quase o mesmo que um homicídio. Ainda que as cadeias sejam os lugares onde menos se respeitam os direitos e dignidade humanos, pois se trata de verdadeiros centros de tortura.

George Orwell, escreveu um livro demonstrando a quem interessa o controle do uso das palavras. No famoso romance1984, existe um aparato exclusivo do Estado fascista para controlar as palavras: o Ministério da Verdade. E, como se não bastasse, havia ali um setor, especializado em ‘corrigir’ poemas, livros, músicas. Exatamente o que estamos vendo hoje, pessoas tentando ‘adequar’ os textos de Monteiro Lobato, o hino do Rio Grande do Sul, ou a ópera O Guarani, de Carlos Gomes.

Favela vs Comunidade

A troca das palavras por outras ‘melhores’, o controle do pensamento, só pode nos levar a um regime fascista.

Em maio de 2019, a polícia, sem se importar se se tratava de favela ou comunidade, entrou no Jacarezinho e executou 28 pessoas.

Hoje, enquanto alguns identitários ficam histéricos se alguém utiliza a palavra ‘índio’ em vez de ‘indígena’, a justiça no Mato Grosso do Sul está botando na cadeia índios/indígenas sob os mais absurdos pretextos.

No final dos anos 1990, o governo do tucano Mário Covas, em São Paulo, passou por uma onda de rebeliões nas unidades da Febem (Fundação para o Bem-estar do Menor). Para ‘solucionar’ a questão e o desgaste político, os tucanos trocaram o nome da entidade para Fundação Casa (Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente). Na essência, e, na prática, continua o mesmo centro de tortura para crianças e adolescentes. A troca de nome serve para acobertar os crimes que o Estado continua cometendo.

Direto ao ponto

O texto do Esquerda Diário foge do debate, pois, na verdade, toda a esquerda pequeno-burguesa é a favor da criminalização das palavras e da censura. Porém, quem tem o poder de punir e censurar? O Estado com o uso de seus aparatos de repressão.

Setores da esquerda acham correta as decisões arbitrárias de Alexandre de Moraes contra o youtuber Monark por coisas que teria dito. Ou melhor, por coisas que não disse e mesmo assim o processaram.

Ouvimos os aplausos de apoio de parte da esquerda quando este ou aquele humorista corre o risco de ser preso porque teria feita uma piada de mau gostou ou ‘ofensiva’. Poetas como Gregório de Matos seriam jogados na fogueira por essa gente.

Os identitários, após o atentado incendiário contra a estátua de Borba Gato, em São Paulo, tentaram justificar o fato, dentre muitos absurdos, argumentando que o monumento seria feio. Já o Monumento às Bandeiras, no Ibirapuera, que não podem chamar de feio, estaria fazendo supostamente apologia à escravidão.

A matéria deveria denunciar a patrulha ideológica que se alastrou pela esquerda e quem tem aberto campo para o endireitamento do ambiente político no Brasil. A repressão só pode favorecer a direita.

Liberdade de expressão

Uma das vítimas do patrulhamento ideológico foi a liberdade de expressão. Nós, que como a esquerda tradicionalmente vem fazendo, sempre defendemos a liberdade irrestrita de expressão, por isso fomos acusados de sermos bolsonaristas.

O curioso é que deputados bolsonaristas acabam de pedir a prisão de João Pimenta, da direção do PCO, por pedir apoio ao Hamas em um discurso. E agora, onde estão nossos acusadores. Sempre dissemos que a extrema-direita não defende a liberdade de expressão coisa nenhuma, apenas se aproveita para atacar um flanco que a esquerda moralista abriu: o abandono da defesa histórica da liberdade de expressão.

Certo, é interessante sabermos que favela antes de ela ser empregada para nomear um bairro proletário. Originalmente, ela se referia ao Faveleiro (Cnidoscolus quercifolius), espécie de arbusto endêmico (que se encontra exclusivamente) do Brasil, ocorrendo predominantemente no sertão e nas caatingas do Nordeste. O vegetal tem esse nome devido aos frutos que parecem pequenas favas, daí o nome favela (pequena fava)”. Mas isso nos leva a quê?

De nada adianta explicar a origem de determinada palavra se não denunciamos que a sua substituição por outra, embora possa parecer bom, apenas estará aplainando o caminho para direita, pois a repressão é seu ambiente natural.

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