As atrocidades cometidas contra a população palestina na Faixa de Gaza chegam a cada instante no twitter divulgadas por uma rede de pessoas, veículos de imprensa e instituições que não param de publicar o que está acontecendo.
As imagens são horrendas: são corpos despedaçados de crianças e adultos. São gritos de dor em hospitais. Vemos pessoas à beira da morte. Bebês em puro estado de sofrimento.
Uma coisa já podemos dizer: um genocídio nunca foi tão bem documentado.
É lamentável e desesperador acompanhar o que acontece. Neste momento em que escrevo, sites como Palestina Hoy informam que novos e terríveis bombardeios continuam a massacrar a população.
Não há, no mundo hoje, coragem para enfrentar isso. A falta de coragem diante das atrocidades que estão sendo cometidas é do tamanho da barbárie que presenciamos.
A crise do capitalismo é tão profunda que está afogando todos nós.
Nos últimos 20 dias a palavra sionismo se tornou corriqueira. O estado sionista de Israel está matando os palestinos, dizemos.
Claro que é isso mesmo que está acontecendo. Mas temo que a palavra sionismo também reduza a análise.
O que está em crise é o capitalismo. O sionismo, como o fascismo e o nazismo, é apenas um dos aspectos políticos do sistema.
Assistimos ao esgarçamento da luta de classes, com a população da Palestina pagando um preço extremamente caro.
(Outras populações também pagam o preço nas Faixas de Gaza espalhadas pelo mundo, inclusive milhões de brasileiros, ressalto)
Mas podemos dizer que o sionismo, o identitarismo, o neopentecostalismo da propriedade e a social-democracia são alguns dos elementos ideológicos que as classes dominantes usam para manipular as classes subalternas via um aparato de mídia e de propaganda feroz e um controle rígido de instituições estatais por meio dos lacaios e capituladores de sempre.
Nada desse aparato ideológico é realmente novo, mas parece enfrentar esgotamento diante das enormes contradições criadas pelo seu uso exaustivo. A campanha de destruição torna clara a situação.
A imagem da embaixadora dos Estados Unidos na ONU – a mulher negra – barrando a resolução brasileira que pedia um cessar-fogo é um exemplo. Como esconder a contradição?
Há apenas uma palavra para definir o mundo hoje: covardia. O mundo hoje é covarde.
Interessante notar o quanto essa covardia e esse esgarçamento dos limites expõem outras fissuras, como se um quebra-cabeças finalmente fosse montado e conseguíssemos perceber a imagem que ele escondia.
Outro exemplo é o silêncio das lideranças de esquerda em nosso país. Ele aponta que não podemos contar com essa gente para nada. Não estão à altura das exigências do atual momento histórico.
O cinema é outro. Tornou-se explícito como o cinema americano, especialmente o de Hollywood, é usado como uma arma de apologia ao estado de Israel.
Percebemos isso na figura da atriz Gal Gadot que, com mais 800 celebridades, produtores e executivos da indústria de cinema, assinou uma carta defendendo Israel.
O chamado, uma espécie de abaixo-assinado, conseguiu atrair cerca de 48 mil pessoas até o momento. Pouco perto das enormes manifestações que têm invadido cidades do mundo todo.
Gadot faz parte de uma ONG sionista chamada “Creative Community for Peace”, fundada em 2012 como resposta a um movimento, de 2005, que apelava para um boicote de artistas a Israel. Reúne principalmente executivos e donos de empresas da indústria cinematográfica e fonográfica.
Foram eles que organizaram o abaixo-assinado. Há alguns anos, promoveram dezenas de shows em Israel. Foi neste contexto que Roger Waters implorou para Caetano Veloso não ir em 2015.
O atual manifesto é assinado por figuras como Madonna, Rihanna, Mark Hamill (o Jedi que costuma dar pitaco nas eleições brasileiras) e Lady Gaga (a identitária que esteve na posse de Joe Biden).
É evidente que a atriz é o rosto por trás da campanha. A atriz é israelense de nascimento e fez parte do exército deste país. Ela ganhou notoriedade internacional como protagonista do filme Mulher Maravilha, de 2017, ano que foi também o auge da caça às bruxas nos EUA na campanha de difamação coletiva e de cancelamento chamada #metoo.
O filme, também dirigido por uma mulher, foi um grande sucesso mundial de bilheteria, além de ter sido reconhecido pelo enredo “feminista”, de acordo com os padrões dos produtores, e pelo apelo icônico da personagem como modelo para milhões de meninas e meninos no mundo todo.
Com os acontecimentos atuais, fica fácil reconhecê-lo meramente como propaganda identitária estrelada pela soldada de Israel. Fica evidente também que ela não foi escolhida só pelo talento de atriz.
Em sua conta no twitter, Gal Gadot não esconde seu lado, mas limita-se a pedir a libertação dos reféns israelenses. Nenhuma palavra sobre o genocídio, nenhuma demonstração de compaixão, nenhuma denúncia ao governo de Netanyahu.
Ao contrário de milhares de judeus que têm se posicionado contra o massacre no mundo todo e dentro de Israel.