O presidente Lula decidiu colocar novamente no centro do debate a questão da Eletrobrás. Recente, Lula declarou que a privatização teria sido uma “secagem” e solicitou que a Advocacia Geral da União (AGU) entrasse com medidas com o objetivo de reverter, em alguma medida, a sua venda. A Eletrobrás já demitiu quase duas mil pessoas em menos de um ano de privatização.
O crime da privatização da Eletrobrás já começa pelo seu valor. O governo Bolsonaro, apoiado pelo Congresso Nacional, entregou uma das maiores empresas de energia do País por R$ 100 bilhões. Por esses números, é fácil concluir que não se trata da “venda” de uma determinada empresa para um capitalista, uma suposta operação para melhorar a “eficiência” ou para aliviar os cofres públicos. A dita “privatização” é um magnífico presente, uma verdadeira doação.
Somente no que diz respeito às finanças, Eletrobrás teve, no ano de 2021, um lucro líquido de R$ 4,1 bilhões. Considerando que se trata de uma empresa estatal, que redireciona parte de seus ganhos para seu próprio investimento, trata-se de um lucro bastante alto. E que, mantido como média, pagaria a “compra” da empresa em 25 anos!
Mas a privatização está longe de ser uma mera apropriação dos lucros anuais da Eletrobrás. Com a doação, o capital privado passa a ser dono de todo o patrimônio da empresa, o que, em termos de geração de energia, é extremamente valioso. Afinal, a Eletrobrás foi criada justamente para fazer o que os capitalistas não queriam fazer — construir.
Estima-se que o valor gasto para se construir a Usina de Itaipu tenha sido de 27 bilhões de dólares. Convertido para a moeda brasileira, seriam cerca de R$ 142 bilhões. É escandaloso. A Eletrobrás foi vendida por menos do que vale uma única de suas hidrelétricas! (Entenda como funciona a Usina Hidrelétrica de Itaipu, Poder 360, 27/11/2021). A segunda maior do Brasil também foi bastante cara. A Usina de Belo Monte custou cerca de R$ 100 bilhões — o exato valor que valeria a Eletrobrás, segundo as contas mágicas dos entreguistas de plantão (Com custo de R$100 bilhões Belo Monte gera 3% do previsto e piora a crise energética, portal Block Trends, 5/10/2021).
A privatização de uma empresa como a Eletrobrás, entretanto, tem um efeito ainda pior que a privatização de uma empresa nos Estados Unidos, por exemplo. Isso porque o dinheiro que será tomado pelos capitalistas será, em grande medida, injetado em outras economias — nos bancos dos países imperialistas ou em negócios que nada têm a ver com o Brasil. O dinheiro não ficará no País, não irá circular — enfim, não trará qualquer estímulo para sua economia.
No primeiro trimestre após a privatização, a Eletrobrás já anunciou o pagamento de R$1,3 bilhão em dividendos. Sendo a parte estatal minoritária, a maioria irá para os “investidores” e, portanto, servirá apenas para circulação nos mercados europeu e norte-americano.
As monstruosidades vistas na privatização da Eletrobrás derrubaram por completo a falácia apresentada pela extrema direita de que o ex-presidente Jair Bolsonaro seria “nacionalista”. Afora os arroubos demagógicos, valendo-se sobretudo de polêmicas quando a esquerda nacional não soube apresentar uma posição, Bolsonaro se mostrou um verdadeiro lesa-pátria em seu governo, sendo a privatização da Eletrobrás, talvez, o seu maior atentado à soberania nacional.