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Financeirização

A crise inglesa e a situação decadente do regime no Reino Unido

O Reino Unido caiu na armadilha do imperialismo norte-americano e vive a maior crise desde o advento do neoliberalismo

Os bons tempos da prosperidade econômica no condomínio do imperialismo acabaram e não voltarão tão cedo, e o maior exemplo é justamente o Reino Unido. O país que já foi o controlador do regime político imperialista, ao mesmo tempo foi o primeiro grande a fisgar a isca dos Estados Unidos, que visa colocar a Europa de joelhos antes mesmo de transpor a Rússia, plano do imperialismo norte-americano para depois. Desde Bretton Woods [1], e com a crise de superprodução fordista [2], pouco a pouco a economia da Europa, em busca de explorar suas colônias e ex-colônias, alocou indústrias multinacionais nos países atrasados, em busca de uma produção mais barata possível, enquanto os habitantes europeus trabalhariam no setor de serviços, aproveitando de uma propaganda de vida mais “leve”, mas que na prática também serviria para fragmentar a classe trabalhadora.

Recentemente, o imperialismo norte-americano conseguiu impor nova peça, a de provocar o Brexit [3] sem que nacionalistas controlassem o regime político britânico. Simplesmente a saída encareceu a produção antes mesmo do conflito com a Rússia, com uma inflação que escalava progressivamente em direção a uma crise interna que anteciparia a própria crise europeia. Após a empreitada desastrosa contra a Rússia, agora praticamente toda a Europa encontra-se em profunda crise, com greves, moradores de rua, crise de saneamento, crise migratória decorrente de sua violenta sanha em ser serviçal de luxo do imperialismo e, principalmente problemas inflacionários com alta nos custos logísticos e de energia, o que impacta diretamente nos alimentos.

De acordo com a agência Reuters: “Os britânicos que já se recuperam do maior aumento nos preços dos alimentos desde 1977 podem ter que se acostumar com a escassez de vegetais frescos, à medida que os custos crescentes e o clima imprevisível atingem a produção doméstica. Os compradores britânicos enfrentaram uma escassez de tomates, pepinos e pimentões nas últimas semanas, depois que as colheitas interrompidas no norte da África reduziram a oferta, enquanto a inflação forçou os compradores da indústria a gastar mais em menos de mercados-chave, como a Espanha” [4].

Dados do escritório fiscal mostraram que a Grã-Bretanha importou 266.273 toneladas de vegetais em janeiro de 2023 – a menor quantidade para qualquer janeiro desde 2010, quando a população era cerca de 7% menor do que é agora, de acordo com a agência. Para agravar as coisas, o Reino Unido espera por um milagre da produção britânica de ingredientes para saladas atinja uma baixa recorde este ano, já que a energia dispendiosa impede os produtores britânicos de plantar culturas em estufas. Essas condições escorchantes empurraram a inflação britânica dos preços dos alimentos para níveis não vistos há quase 50 anos.

Divisão territorial do trabalho, commoditização e financeirização da economia britânica

Enquanto os pequenos agricultores sofrem, o agronegócio lucra [5] e a exportação de óleo cru cresce em relação ao refinado. De acordo com o Observatory of Economic Complexity [6], em janeiro de 2023, as principais exportações do Reino Unido foram turbinas a gás (£ 2,09 milhões), carros (£ 2,09 milhões), ouro (£ 1,88 milhão), mercadorias não especificadas (£ 1, 64 milhões) e petróleo bruto Petróleo (£ 1,49 MM). Em janeiro de 2023, as principais importações do Reino Unido foram Petróleo, Gás (£ 4,49 milhões), Petróleo Bruto (£ 3,02 milhões), Carros (£ 2,75 milhões), Commodities não especificadas… (£ 2,11 milhões) e Petróleo Refinado (£ 1,98 milhões). (MM – bilhões)

Comparativamente esses são valores pequenos perto da financeirização do país que, de acordo com o mesmo Observatório, o Reino Unido exportava 329 bilhões de libras em serviços. Os principais serviços exportados pelo Reino Unido são negócios, serviços profissionais e técnicos (£ 128 milhões), serviços financeiros (£ 62,4 milhões), viagens pessoais (£ 44,2 milhões), royalties e taxas de licença (£ 21,3 milhões), e Transporte aéreo (£ 19,3MM). Apesar de possuir uma indústria avançada, essa indústria está organizada dentro dos circuitos produtivos das próprias commodities.

O Reino Unido, que vem se enfraquecendo perante o imperialismo norte-americano, pela manutenção da economia “improdutiva” colocou sua população na pobreza. Membros de três em cada 10 famílias monoparentais entrevistados em pesquisa para a BBC [7] disseram que pularam uma refeição como resultado do aumento dos preços dos alimentos. E essa situação tende a se agravar, pois a Reserva Federal dos EUA decidiu aumentar as taxas de juro em 0,25% para 5%, apesar do colapso de vários bancos norte-americanos, cuja crise atingiu diretamente o coração da Bolsa de Valores de Londres (LSE). A recessão já é patente [8]. De acordo com a BBC “Os imóveis no Reino Unido hoje são menos acessíveis do que em qualquer momento dos últimos 147 anos”, e a projeção de inflação é de crescimento, enquanto a economia inglesa crescerá menos que a Rússia.

Esse aumento vai acarretar em maior crise às famílias, que já sofrem muito os efeitos da falta de alimentos. O FED usa o pretexto para domar o aumento da inflação, mas isso se desdobrará em mais crise, especialmente em um país financeirizado como o Reino Unido. Uma série de crises sucessivas, sem dúvida a partir de 2008, prejudicaram gravemente a estrutura das economias ocidentais. Nunca recuperaram verdadeiramente, decretando regimes de austeridade imensamente impopulares, aumentando a desigualdade de riqueza e reduzindo o consumo. Se a crise financeira global de 2008 foi um ponto de viragem, então a pandemia de Covid-19 foi outra. Os anos de bonança acabaram e, com a agressividade dos EUA para cima do Reino Unido, poderá levar a economia do país europeu ao colapso nos próximos dois anos.

O que esperar para o futuro do Reino Unido

Mais crise, maior sabotagem. Um dos países que inventou o neoliberalismo para destruir suas colônias e países atrasados, tornou-se arma letal contra o próprio país do condomínio imperialista. O plano dos Estados Unidos em dividir a Europa e enfraquecê-la, em parte vem dando certo. A Europa concordou assumir fazer a guerra por procuração contra a Rússia e abandonou a União Europeia como um bloco que competisse com os Estados Unidos. Agora a Europa é apenas um balcão de negócios de Wall Street. Após um ano e dois meses da operação especial russa no Donbass, o que se observa é uma Europa desunida, zumbis do sistema financeiro. Este é o seu principal problema. França, Alemanha e Itália não seguem a mesma política, e o Leste Europeu está nas mãos dos EUA. Isso está enfraquecendo a Europa e permitindo que os EUA comandem o continente. O interesses “europeus” estão convergindo para interesses de um nacionalismo de extrema-direita, rapidamente cooptado pelo imperialismo norte-americano quando saltam para a política parlamentar, enquanto a esquerda segue os planos de Pedro Sanches (PSOE) e Pablo Iglesias Turrión (Podemos), leais ao imperialismo e organizadores, juntamente com os “verdes” de toda Europa, atuar como linha auxiliar das Sociedades Abertas. No Reino Unido, os trabalhistas estão rendidos ao imperialismo e sua ala esquerda, de Jeremy Corbin, vem sofrendo com o sistema judiciário inglês, rendido ao MI6 e à CIA. O que tem movido esse tabuleiro da crise são os movimentos de greves descentralizados, mas que sacodem bastante o país, que vem trocando primeiro ministro a cada ano.

Notas

[1] Cidade que abrigou uma conferência que estabeleceu o padrão dólar na economia mundial

[2] A crise de superprodução com as duas crises do Petróleo na década de 1970, alterou o modelo de produção em diversos territórios, e criou condições para a expansão do padrão monetário dólar e do neoliberalismo.

[3] Referendo que retirou o Reino Unido da União Europeia

[4] DAVEY, James. More food shortages could add to Britain’s price pressure. In: Reuters. Disponível em https://www.reuters.com/world/uk/more-food-shortages-could-add-britains-price-pressure-2023-03-28/

[5] Inglaterra tem agro intensivo e se recupera após saída da União Europeia. https://www.canalrural.com.br/sites-e-especiais/copa-do-mundo-2018/inglaterra-tem-agro-intensivo-e-se-recupera-apos-saida-da-uniao-europeia/

[6] https://oec.world/en

[7] ‘Tem gente comendo ração e esquentando comida com velas’: como é a pobreza no Reino Unido. https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63876850

[8] Prateleiras vazias e PIB pior que o da Rússia: 4 sintomas dos problemas que Reino Unido enfrenta na economia. In: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63876850

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