O empresário norte-americano John Textor, dono de 90% do futebol do Botafogo, afirmou ao Financial Times, órgão da especulação financeira internacional, ameaçado por torcedores botafoguenses após ele “vender” o ponta Jeffinho para o Olympique Lyonnais, da França, no início deste ano. “Vender” aqui está entre aspas, pois o clube francês também é da propriedade de Textor e sua Eagle Holdings, que detém também o RWD Molenbeek, da Bélgica, e tem 40% das ações do Crystal Palace, da Inglaterra.
Por mais que tenha sido a “venda” mais cara da história do Botafogo, e os clubes terem finanças supostamente independentemente uns dos outros, na verdade, ao colocar Jeffinho no Lyon, Textor apenas transferiu os ativos de um clube para outro. Como era de se esperar, a compra do Botafogo por um imperialista norte-americano serve apenas para o clube brasileiro servir de satélite para seu principal investimento: o Lyon.
O Botafogo busca contratações a custo zero de jogadores da Europa que não deram certo ou estão são muito velhos para serem revendidos para o exterior (geralmente, acima dos trinta anos). Na América do Sul, o Alvinegro procura jogadores jovens e reforça sua base para o Botafogo servir de trampolim para uma revenda mais lucrativa para a Europa.
Jeffinho, neste sentido, em 2022, foi adquirido do Resende para jogar no time B (Botafogo sub-23), mas, devido à sua habilidade, logo passou para o time titular. Por ser jovem e promissor, foi repassado para o Lyon. Agora, em 2023, o Botafogo conta com dois pontas, Lucas Piazón e Victor Sá, mais velhos e que não deram certo na Europa, e mal sabem dominar uma bola. A estes reservas de 2022, a diretoria da Sociedade Anônima de Futebol (SAF), para enganar o torcedor, dá o nome de “reforços internos”.
Por isso, Textor passou a ser mal visto pela torcida botafoguense. “Eu ia para o Rio de Janeiro e era tratado como um rei em todos os lugares que eu ia. Com a negociação de um jogador [Jeffinho], tive que trocar meu número de telefone. Você não tem ideia de como reativas e rápidas as coisas podem acontecer” contou Textor ao FT.
Textor também disse que não gosta de ser chamado de “investidor”. “Não há palavra mais ofensiva na língua inglesa do que ‘investidor’ para mim, porque isso significa dizer que seu esforço e sua contribuição só podem ser medidos pelo dinheiro”, disse. “É fácil para as pessoas dizerem que os americanos são ruins, que grupos multiclube são ruins. Eu entendo. Os torcedores não me conhecem e não conhecem meu coração. Eles acham que eu sou só o cara do dinheiro”, continuou.
Mas, por mais que ele não gost, Textor não passa disso: um investidor, cujo único mérito é ter dinheiro. Além da torcida do Botafogo — cuja torcida Antifascista publicou uma nota contra a SAF e torcedores da principal organizada, a Fúria Jovem, vêm realizando sérias críticas ao empresário —, torcedores do Crystal Palace, Lyon e Molenbeek também já se manifestaram contra o magnata norte-americano. O motivo das manifestações é o mesmo: a desconfiança dos torcedores com a rede multiclubes. Na Inglaterra, torcedores carregaram faixas contra ele. Na Bélgica, os torcedores denunciaram que Textor “nos usa para colocar jogadores de baixo desempenho” e criticaram o empresário por querer mudar a identidade visual do clube.
Fato é que Textor, assim como outros magnatas do futebol, e os capitalistas em geral, querem um lucro fácil. Por isso, por exemplo, o Grupo City adquiriu o Esporte Clube Bahia. Chegam ao Brasil, maior máquina de produções de craques do mundo e usam os clubes brasileiros, com muito mais tradição que qualquer clube europeu, como satélites para seus negócios efetivados em Euros.
Como destaca a reportagem do FT, “o comércio de jogadores pode ser lucrativo. O Benfica de Portugal, no qual a Textor uma vez tentou comprar uma participação, vendeu jogadores no valor de 840 milhões de euros nos últimos cinco anos, segundo a Transfermarkt, com um lucro comercial de 480 milhões de euros, o maior da Europa. Lyon ocupa o terceiro lugar, gerando 272 milhões de euros durante o mesmo período”.
“Com base nas contas de 2021-22, a receita combinada dos ativos da Eagle [Lyon, Crystal, Botafogo, Molenbeek] a classificaria entre os 20 clubes mais ricos do esporte — logo atrás do campeão italiano AC Milan, comprado por investidores americanos no ano passado por 1,2 bilhões de euros”, destaca.
Ainda, a reportagem mostra que a rede multiclubes é uma estratégia global do imperialismo: “Existem agora mais de 70 grupos multiclubes no futebol […] muitos deles construídos com base na mesma tese de scouting inteligente e comércio de jogadores”.
A reportagem demonstra claramente para os botafoguenses que a SAF é apenas um instrumento para o enriquecimento de parasitas em detrimentos dos clubes. As torcidas organizadas devem se organizar contra a privatização do futebol brasileiro, um patrimônio dos trabalhadores do país. Contra as SAFs, o controle dos clubes pelas suas torcidas!