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Vinícius Rodrigues

Militante do Partido da Causa Operária no Rio de Janeiro e membro da Direção Nacional da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR).

Direto da Lapa

A Bienal da UNE e a decadência do movimento estudantil

Primeiras impressões dos militantes da AJR de um dos mais importantes eventos da juventude brasileira

A União Nacional dos Estudantes é uma das mais importantes organizações populares do Brasil. Ela unifica todas as organizações das universidades brasileiras. É o equivalente a CUT do movimento estudantil, com a vantagem de que não há outras centrais que racham o movimento, toda a esquerda está dentro da UNE e não há direita. Contudo das grandes organizações populares ela se tornou a menos relevante na luta política, muitas vezes é até esquecida, se fala de CUT, MST, CMP e não da UNE. A Bienal da UNE, que está acontecendo no Rio de Janeiro, é um bom evento para compreender essa decadência.

O evento em seu próprio sítio é chamado de “O maior festival estudantil da América Latina” e de fato é um grande evento, jovens de todo o País participam. Na banca da Aliança da Juventude Revolucionária, que a juventude do PCO está organizando todos os dias na Bienal, passaram jovens desde o Rio Grande do Sul até Rondônia. São muitas caravanas, muitos ônibus de estados distantes como Amazonas, Pará, Ceará e Rio grande do Norte, é um evento como poucos na esquerda e que acontece com uma certa frequência. A cada 2 anos há uma Bienal e um Congresso da UNE dessas proporções. Então por que uma assembleia com tanto potencial, com jovens de todo o Brasil, nunca delibera nada de importante para a política nacional?

O principal motivo é que o PCdoB, por meio da UJS, está no controle da UNE há basicamente 40 anos. Esse partido vem se tornando cada vez mais direitista desde o golpe de Estado. Em 2018 eles quase apoiaram Ciro Gomes, em 2020 defendiam que as escolas fossem reabertas no auge da pandemia, em 2021 racharam os atos pelo fora Bolsonaro e aderiram ao bloco do PSDB e do MBL e em 2022 processaram o dirigente do Coletivo de Negros do PCO por racismo pelo uso do termo “negra de alma branca”. Isso para citar só os piores feitos na UNE, ele consegue ser a pior das organizações da esquerda, e a competição não é fácil.

Esse é o motivo por trás da destruição dos eventos nacionais estudantis, esses que poderiam ser a linha de frente da luta contra a direita, como foram em 1968 e no final da ditadura, são represados pela direção da UNE que trama todo tipo de golpe para não cair. O último deles foi em 2021 quando não chamaram o Congresso em nome da Covid-19, a mesma organização que defendia a volta as aulas generalizadas fez um “Congresso” online para eleger Bruna Brelaz, a mais direitista de todos os presidentes da UNE. O Congresso e também a Bineal presenciais portanto precisam ser desprovidos de qualquer política séria para impedir que essa direção seja subsistida. É assim que terminamos como o evento da Bienal que termina no dia de hoje.

O evento é enorme, tem mais de cinco palcos incluindo um do lado externo em frente aos Arcos da Lapa onde é possível fazer shows para dezenas de milhares de pessoas. A programação tem um grande foco na questão indígena da Amazônia, o que mostra a influência das ONGs imperialistas no movimento estudantil, inclusive a fundação Marinho é uma das financiadoras do evento. Não só isso como em meio a crise do governo Lula a única menção ao presidente na programação é essa: “Monitoramento dos tweets relacionados à posse presidencial de lula em 1º de janeiro de 2023: abordagem utilizando mineração de texto na linguagem python(Marcos Martins dos Passos)” sobre uma oficina de comunicação digital.

Para além disso houve uma homenagem à ministra da cultura do governo Lula, Margareth Menezes. Aqui vale destacar a questão cultural, o evento não é político em si mas sim cultural, a crítica política é valida, no entanto, pois há diversos debates políticos no evento e nenhum de relevância para os estudantes ou para a luta política nacional. Mas na questão cultural também é o evento é um enorme desperdício. Em vez de ser um foco onde os estudantes podem expressar sua arte, é mais uma expressão do controle dos monopólios sobre a arte.

Há diversos shows de bandas famosas e algumas exposições mas nada muito grande organizado pelos estudantes. O Centro Popular de Cultura da UNE nos anos 1960 continha artistas como o dramaturgo Oduvaldo Viana Filho, o cineasta Leon Hirszman, os músicos Carlos Lyra, Edu Lobo, Nara Leão, Ruy Guerra, Sérgio Ricardo e Geraldo Vandré. Ou seja, era um espaço onde uma nova onda de jovens artistas poderia se projetar e mostrar a vanguarda da arte, algo muito progressista e que passa longe da atual Bienal da UNE. Ela na verdade se assemelha a qualquer festival de música que é controlado pelos grandes monopólios da cultura.

As universidades de todo o Brasil tem cursos de música, teatro, dança, cinema, literatura, belas artes e além disso os demais estudantes todos podem ter uma produção cultural. Mas a UNE não organizou um evento para trazer artistas de todo o Brasil e fazer uma grande exposição democrática que poderia revelar nomes como Geraldo Vandré e Leon Hirszman, ela organizou mais um festival comum com um foco em artistas esquerdistas. É até impressionante a capacidade de desperdício da UNE, é uma política ativa para impedir que o evento levante questionamentos tamanho é o medo da burocracia da UJS que dirige a organização.

A Bienal da UNE portanto é uma expressão da decadência dessa organização que é possibilitada pela paralisia do movimento estudantil. É preciso que por meio da luta dos estudantes, tanto por suas pautas, como pela defesa do governo Lula contra a ameaça golpista, haja uma reconstrução da UNE pelas bases. A falência da organização se assemelha ao que existia depois de 1968 com a repressão da ditadura. Com as mobilizações a partir de 1976 a UNE foi reconstruída e passou por um de seus melhores momentos. É isso que a atua conjuntura exige.

* A coluna não expressa necessariamente a opinião desse jornal

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