Ganhou destaque na imprensa burguesa o planejamento do governo Lula para as comemorações do 7 de Setembro, data importantíssima para o país pois marca sua independência em relação a Portugal. Seguindo a cega política da antipolarização, o governo resolveu que Lula deveria fazer uma espécie cosplay de Bolsonaro, se travestindo de verde e amarelo, elogiando as Forças Armadas e apostando num slogan vazio de conteúdo: “Democracia, Soberania e União”. O que será que o governo espera conseguir com isso?
Depois do fiasco do verde-amarelismo nas manifestações Fora Bolsonaro em 2021, o PT demonstra mais uma vez uma enorme dificuldade para aprender com os erros. Na ocasião, a operação serviu para tentar infiltrar a direita nos atos populares, em especial o PSDB, numa tentativa frustrada em ressuscitar eleitoralmente o partido que foi porta-voz do neoliberalismo que arrasou a economia brasileira. A militância mais combativa da esquerda seguiu vestida de vermelho, com destaque para o Bloco Vermelho que reuniu militantes do PT, PCO e CUT, entre outros em menor número, o que garantiu que os atos não perdessem seu caráter popular, de esquerda.
No que seria uma tentativa de “contrastar” com o uso político da data por Bolsonaro, o plano do governo é “combater” quente com morno. Na cabeça dos “estrategistas”, ao invés de ocupar o polo oposto ao bolsonarismo, que segue aceso, Lula deveria se camuflar no meio da polarização. Uma fórmula mágica onde Lula incorporaria o “nem Lula nem Bolsonaro” da frente ampla antes das últimas eleições. Seria a esquerda se vestir de direita para ver se engana algum bolsonarista distraído. O problema é que a direita faz papel de direitista bem melhor, pois são isso de fato.
Além disso, esse tipo de ação torna o clima mais hostil para a esquerda. Não bastasse a direita para combater o uso do vermelho, que representa as lutas populares, a luta por direitos para os trabalhadores, cria-se o contexto para que a própria esquerda policie e desfigure sua identidade. Durante o processo do golpe de Estado, setores da esquerda abraçaram o “abaixa a bandeira” imposto pela direita e ajudaram a pavimentar o caminho do golpe. No movimento estudantil, as principais organizações se esforçam para despolitizar e “desavermelhar” as universidades, enquanto elas são sistematicamente sucateadas. Nas últimas eleições, a derrota da esquerda foi muito marcante e quase a própria eleição de Lula foi comprometida com a “genial” ideia de afastar o povo da campanha. Como se Lula fosse um candidato qualquer da direita, que aparece na televisão com um jingle e falas genéricas.
Vale fazer a ressalva de que o governo não tem a mínima condição de bater de frente com as Forças Armadas, como cobram aqueles que pedem o “sem anistia” em relação ao envolvimento dos comandantes no 8 de Janeiro. Não é possível cobrar de Lula o que o próprio não tem forças para fazer, como se com uma canetada fosse possível fazer um expurgo nas Forças Armadas. Por outro lado, fazer apologia aos militares de extrema-direita e golpistas é gastar energia para fortalecer um dos principais inimigos da democracia e da soberania do país. Passar pano para os generais golpistas e exaltar símbolos do nacionalismo de faxada da direita só enfraquece Lula junto ao povo e esconde o que sua política tem de positiva para os trabalhadores.