As semanas que precederam a aprovação da PEC de Transição no Congresso Nacional foram agitadas. Para que Lula consiga cumprir as promessas que fez durante a sua campanha eleitoral, precisará dispor de um orçamento que possa suprir os gastos que deve fazer com o povo. É essencial, portanto, que a proposta de sua equipe seja aprovada com o menor número de cortes possível.
Fato é que, se depender da burguesia, preocupada apenas com seus próprios lucros, os trabalhadores receberão migalhas. Nesse sentido, Lula procurou realizar um acordo com Arthur Lira (PL), presidente do Congresso e que tem a sua maior bancada, para conseguir uma base que aprovasse as propostas de seu governo na instância legislativa. No entanto, essas negociações foram mal vistas pela terceira via, que foi completamente escanteada pelo governo Lula.
Esse setor está em uma missão, muito perceptível nas eleições deste ano, de se recuperar politicamente, impedindo a sua própria falência. Para tal, precisam fazer parte, de alguma forma, do novo governo Lula – seria a aposta mais segura para eles. Para a infelicidade da terceira via, não existem grandes esperanças de que atingirão esse objetivo e, com isso, precisam apostar na presidência do Congresso, o que torna Lira mais um inimigo desse setor.
Mas por que o Congresso? O Congresso é importante por conta do dinheiro: quem preside a Câmara controla da melhor maneira as emendas que podem ser distribuídas entre os parlamentares. Emendas essas que, nas eleições municipais, possuem um peso decisivo.
Assim como ocorreu neste ano, é possível que, nas eleições de 2024, a dupla PSDB-MDB, os principais representantes da terceira via, percam na maioria das cidades. Uma enorme derrota para o que já foi o grupo que controlava de maneira unânime o País. Consequentemente, precisam garantir que terão grande força política no Congresso e, portanto, precisam atacar Lira.
O julgamento do STF sobre o orçamento secreto vai nesse sentido. O Supremo, em especial a sua ala mais ligada à terceira via, procurou desestruturar o acordo do PT com Lira tornando o orçamento secreto inconstitucional. Mas, eles não possuíam votos suficientes para isso até que Lewandowski entrou na jogada e, por indicação, ao que tudo indica, do próprio Lula, votou contra o mecanismo.
Isso ocorreu porque as exigências – não se sabe se do próprio Lira ou se de outros partidos que compõem a sua base no Congresso – ao governo Lula tornaram-se custosas demais: queriam que o PT entregasse os ministérios da Saúde e das Minas e Energia, preço muito alto para a votação da PEC da Transição.
Em suma, toda essa mobilização política serviu como uma luva para a terceira via que, utilizando-se da brecha criada entre Lula e Lira, interveio no sentido de enfraquecer a relação entre os dois e aproximar-se de um possível comando do Congresso. Mesmo assim, tudo indica que Lira manterá o seu cargo, pois possui um apoio dentro da Câmara que é difícil de se desmantelar, ainda mais pela terceira via que, neste momento, está extremamente enfraquecida.
A tendência, portanto, é que a terceira via diminua ainda mais, já que é em momentos de polarização política, como o qual passamos neste momento, que o chamado “centro democrático” se esvazia. Efeito visto com clareza nas eleições de 2022 que praticamente varreu a burguesia dita tradicional tanto do Congresso, quanto do Senado.