2022 começou agitado para os companheiros de célula e do Bloco Vermelho em João Pessoa. As perspectivas da campanha de Lula para Presidência da República abriria novas oportunidades para a luta dos trabalhadores na cidade e o carnaval daria o pontapé nessa campanha.
No entanto, o danado do vírus da Covid novamente resolveu dar as caras, jogando um balde de água fria na militância. Pelo menos era isso que os governos da Paraíba e de João Pessoa gostariam. Eles emitiram decretos proibindo o carnaval de rua em todo estado e na capital. Curioso é que o vírus não gosta muito de locais privados, para os quais são cobrados ingressos caros. O decreto do governador João Azevedo (PSB) liberou a festa momesca para locais fechados com até 5.000 pessoas!
Diante da clara perseguição política à luta dos trabalhadores, os militantes da célula e do Bloco Vermelho resolveram agir e criaram o bloco “Amantes de Lula”. Fizemos uma marchinha de carnaval (“Foi golpe, foi golpe sim, foi golpe que tirou você de mim! Agora vamos lutar, é Lula é Lula é Lula já!), confeccionamos o estandarte, providenciamos camisas, chamamos artistas para tocar e discotecar e articulamos a infra com os comerciantes da principal praça do bairro do Castelo Branco.
A pressão para que isso não ocorresse foi grande e veio de todos os lados, em especial da esquerda pequeno burguesa. Houve de tudo: acusações de estarmos contribuindo com a pandemia, críticas ao nome do bloco (Amantes?!), ameaças de batida policial com armamento pesado, especulações sobre agressões dos bolsonaristas entre outras.
Botamos o bloco na rua e foi um verdadeiro sucesso! A militância compareceu à festa e vivemos quase uma catarse. Todos estavam com muita vontade de iniciar a campanha de Lula e fomos os únicos a criar um espaço de articulação política no carnaval em João Pessoa. Para nós da célula foi ainda mais importante porque passamos por algumas dificuldades políticas internas em 2021 e ter êxito nessa atividade ajudou a renovar nossas energias. Foi mais lindo ainda porque contamos com a presença especial de Natália Pimenta, que veio para João Pessoa justamente nos ajudar com aquelas dificuldades.
A tendência de mobilização política ficou evidente para todos os companheiros e por isso decidimos realizar um baile cultural por mês, até a vitória nas eleições. No início, houve muitos obstáculos a serem ultrapassados até que a atividade se firmasse no circuito cultural e político da cidade.
Por um lado, tivemos que lidar com os candidatos da esquerda pequeno burguesa que queriam aparelhar o bloco e transformá-lo em trampolim para suas candidaturas particulares. Aprendemos também a superar os empecilhos que as burocracias municipal e estadual impõem à realização de atividades públicas. Por outro lado, ampliamos nossas relações políticas com o PT, a CUT e os sindicatos (ADUFPB, SINTESP, SINTTEL entre outros), que ajudaram a financiar parte dos custos das atividades. Estabelecemos contatos com artistas e produtores culturais de João Pessoa. Um deles, o artista plástico paraibano Tito Lobo, presenteou o bloco com um lindo painel em estilo naif que acabou virando nossa marca. Fizemos parcerias com músicos e bandas que colocaram o público para dançar os mais variados ritmos, como forró, coco, afoxé e muito mais.
Houve um momento marcante que ajudou a nos inserir nas lutas dos moradores do bairro. Por volta do terceiro baile cultural, um grupo de moradores se aproximou e propôs a realização de uma feira comunitária a qual demos o nome de “Feira Comunitária Luta Castelo”. O público do baile ajudou a tornar a feira conhecida. Por isso, cada vez mais a atividade vem atraindo pequenos comerciantes locais e de outros bairros.
Na programação da feira há várias oficinas, que são realizadas na associação de moradores do bairro. Tivemos oficinas de rabeca, de conserto de bicicletas, de produção de fanzine, teatro do oprimido, exibição de filmes paraibanos, capoeira entre outros. Há também uma programação muito especial para as crianças: pula-pula, contação de histórias, biblioteca comunitária, leitura e até circo itinerante!
Quando a campanha eleitoral de fato começou, já havíamos nos transformado em uma referência na cidade. Isso ajudou também na articulação com outros comitês de luta que foram surgindo ligados ao PT. A banquinha do partido, com nossos materiais impressos e nossas bandeiras, ajudou também a dar visibilidade ao nosso programa político. No momento de maior mobilização, nosso evento chegou a contar com cerca de 1.700 pessoas!
Por causa do temor da violência bolsonarista, fomos o único grupo a fazer apurações públicas no primeiro e no segundo turnos. Depois do primeiro turno, a campanha de rua se intensificou e, quando Lula foi eleito Presidente da República, a praça do bairro ficou repleta da militância de esquerda.
Fizemos nosso último baile e feira do ano em dezembro. Fechamos o calendário com “chave de ouro” e já começamos a nos preparar para as próximas lutas. O grande desafio para 2023 é reverter essa mobilização das eleições para uma atividade política mais consciente e que possa atrair mais pessoas do bairro e de outras regiões de João Pessoa. Novamente, a tendência de continuidade e aprofundamento da polarização política parece que vai atuar em nosso favor.