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Onda golpista

Uma esquerda que já prepara o “Fora Lula”

A luta contra o bolsonarismo, para o próximo período, passa primeiro pelo debate e pelo convencimento de elementos desgarrados da classe trabalhadora.

PFR

Parte da esquerda, como o Partido Operário Revolucionário (POR), embora consiga fazer uma leitura parcialmente correta do atual quadro político brasileiro, acaba esbarrando nas concepções equivocadas sobre o caráter dos governos petistas, Lula/Dilma, como se se tratassem de governos neoliberais entreguistas, e não nacionalistas moderados.

A esquerda, de um modo geral, também não tem conseguido lutar contra o bolsonarismo de forma consequente. As manifestações que ocorreram após a derrota de Jair Bolsonaro, os bloqueios em estradas, as manifestações em frente a quartéis pedindo intervenção militar, podem ser, como se diz, “consequências de uma política autoritária, ultradireitista e fascistizante”. No entanto, não devemos nos confundir: essas manifestações são legítimas. Os bolsonaristas têm todo o direito de se manifestar.

É um erro colossal pedir a intervenção da polícia militar ou do STF para agir contra os manifestantes. Aquela bravata de Boulos, de que o MTST estaria saindo para desbloquear as estradas, também não deve ser aplaudida, pois é puro jogo de cena.

Embora haja uma boa parcela de elementos de classe média-alta na base bolsonarista, existe um bom número de pessoas da classe operária que não sabem exatamente o porquê de estarem participando desse movimento. O que equivale a dizer que podemos trazer esses trabalhadores novamente para o campo da esquerda e isso não acontece em um passe de mágica. É necessário fazer todo um esforço e parar de estigmatizar aqueles que eventualmente tenham adotado um posicionamento de direita.

Não devemos pedir que as instituições do Estado burguês atuem contra métodos tradicionalmente adotados pela esquerda porque, ocasionalmente, estão sendo utilizados por elementos da direita. O fortalecimento do aparato de repressão do Estado só pode aumentar a repressão que recairá, fatalmente, com mais força sobre a classe trabalhadora.

Golpe de Estado

Outro assunto que só tem atrapalhado é o famoso golpe de Estado que seria dado por Bolsonaro. Nada indica que isso esteja prestes a acontecer. Já passamos por momentos mais tensos, quando, por exemplo, o general Heleno ameaçou botar os tanques na rua, caso Lula não fosse preso ainda que ilegalmente.

Essa história do golpe está parecendo a fábula de Pedro e o Lobo. De tanto gritar ‘Lobo!’, ninguém se mexeu quando de fato havia um lobo ameaçando o menino. A mesma coisa com o ‘golpe’. A despeito de todo o alarde da esquerda, não houve golpe no dia 7 de Setembro. Não houve golpe também no dia da votação. A paralisação de parte dos caminhoneiros e pressão popular sobre os quartéis não parece configurar que haja um golpe em andamento.

O que é temerário, isso sim, é que, vencidas as eleições, a direção petista continue agindo como se não estivesse acontecendo nada. Metade do país votou em Bolsonaro, é uma força a ser considerada. O governo eleito poderia fazer um comitê de crise e chamar representantes dos caminhoneiros para o debate. Deveria marcar um ato da esquerda de solidariedade, de apoio à vitória petista contra os que estão na frente dos quartéis. Não é necessário, neste momento, que se entre em choque com os bolsonaristas da classe trabalhadora. Não nos cansamos de repetir, Lula precisará da força do povo para poder governar, pois a burguesia, apesar da aparente boa vontade com o governo, entrará em choque com ele inevitavelmente.

É verdade que a vitória de Lula não resulta em derrocada da “ultradireita”. Mas também é verdade que o movimento se enfraqueceu, o que seria um bom momento para se tentar o diálogo com os elementos mais atrasados da classe operária e de outros setores oprimidos que pensam que são de direita.

A luta contra o bolsonarismo

Como vimos durante a campanha de Lula, o movimento foi sendo infiltrado por elementos de direita e até mesmo bolsonaristas, como Simone Tebet e André Janones ─ às vezes à convite do próprio PT. A senadora pelo MS votou quase sempre com o governo Bolsonaro, não nos esquecendo que ela votou pelo impeachment de Dilma.

Segundo o POR, Lula “cumprirá a função de um novo governo burguês”. Mas isso é uma meia-verdade. Porque, embora logicamente Lula tenha sido eleito no âmbito das eleições controladas pela burguesia e tenha se aliado com capitalistas e golpistas, não foi isso que levou à sua vitória. Em última instância, na verdade, Lula venceu de forma independente da burguesia, que não o queria para governar o País. Lula venceu graças a um forte movimento popular que lutou durante anos contra o golpe, pelo Fora Bolsonaro e por Lula Presidente.

Sendo assim, é preocupante o chamado do POR: “a luta contra os bolsonaristas não pode e não deve ser canalizada para a sustentar o governo Lula. É com a independência de classe, com o programa de reivindicações e com os métodos próprios dos explorados que a classe operária e demais oprimidos se emanciparão de todas as variantes da política burguesa. Lutar contra o golpismo bolsonarista é lutar contra toda e qualquer forma de política burguesa.”

Nada indica que o governo Lula será um governo normal da burguesia, um governo voltado para o ataque aos trabalhadores, justamente devido ao caráter de sua eleição. O POR entende que a eleição de Lula não corresponde aos interesses do proletariado e por isso mesmo votou nulo. O voto nulo, por exemplo, foi uma estratégia completamente equivocada, pois não levou em consideração a tendência das massas de se unificar em torno da candidatura Lula e que isso significou um aumento da polarização entre os trabalhadores e a burguesia.

Trata-se de uma política antirrevolucionária. Não adianta ficar pregando sozinho no deserto, enquanto toda a maré popular está com Lula. É preciso conversar com o povo que votou em Lula e convencê-lo de que a política proposta por ele é insuficiente e que seria necessária uma política mais radical que resolvesse realmente os problemas da população.

Essa política defendida pelo POR com relação à eleição de Lula e ao seu governo tende à adoção de uma posição golpista quando o cenário se projetar favorável ao golpe da direita contra o governo. Da mesma forma que ocorreu com parte da esquerda dita “revolucionária” entre 2015 e 2016, que acreditava que o governo Dilma era exatamente igual a um futuro governo Temer e que os trabalhadores queriam a sua queda. E agora seria ainda pior, uma vez que a eleição de Lula representa, ao contrário de todas as outras, a vitória da classe operária contra a burguesia e de certa forma independente do imperialismo.

O que deve ser combatida é a colaboração de classes. A burguesia tentará de todas as formas controlar o governo. Os bancos vão tentar manter o teto de gastos para que assim garantam o pagamento de juros que é extremamente abusivo, e cortar programas sociais.

O POR pedir ‘abaixo o golpe Estado’ é surfar na onda alarmista que se abateu sobre a esquerda pequeno-burguesa, o que só tem servido para disseminar o medo e a paralisia, bem como a confiança nas instituições burguesas.

Quanto às centrais sindicais, a resistência precisa ser organizada; mas é preciso ter em mente que existe um amplo terreno de debate e convencimento para trazermos de volta os trabalhadores confusos para o nosso campo. A hostilidade, estigmatização dessas pessoas só vai fazer com que fiquem refratários e se fechem ainda mais em suas convicções.

O mais importante, no momento, é unificar a esquerda em torno da reconquista dos direitos que os golpistas roubaram de nós trabalhadores. É preciso unidade para pressionar o governo Lula para a esquerda, pois todo tabuleiro está montado pela burguesia para assediá-lo por todos os lados.

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