Não é de hoje que os monopólios da imprensa vêm tendo de administrar a crise provocada pela disseminação progressiva do uso da internet. Conteúdos que antes se disponibilizavam exclusivamente por seu intermédio estão agora a um clique de distância. O elevado consumo de dados necessário para a reprodução online de transmissões em áudio e vídeo e o péssimo desempenho dos empreendimentos capitalistas na prestação dos serviços de distribuição de internet preservaram por muito tempo a TV aberta dos efeitos mais letais dessa nova era da informação. No atual estágio desse processo, entretanto, sua viabilidade comercial parece estar já sangrando num dos seus nichos mais rentáveis: o futebol.
Para a edição de 2022 do Paulistão, a Federação Paulista de Futebol (FPF) celebrou acordo com o YouTube. Dezesseis partidas, incluindo os dois confrontos finais, seriam transmitidas ao vivo pela plataforma de streaming. A concorrência desanimou a Globo, que vinha já há mais de uma década transmitindo com exclusividade a competição em TV aberta. A emissora, que vem passando por uma notória crise financeira, ofereceu, para a renovação do contrato com a FPF, os mesmos valores pagos para a edição de 2021 do certame. No entanto, viu a sua hegemonia ser quebrada pela Record, que, abastecida pela notável lucratividade do seu negócio, ofereceu o dobro do que os Marinho pretendiam desembolsar e venceu a disputa.
No dia 10 de março, o YouTube transmitiu o clássico entre São Paulo e Palmeiras. O Verdão foi quem se deu melhor no Choque-Rei. Venceu por 1 a 0, gol de Rony, e garantiu a sua classificação às quartas de final da competição. No entanto, não foi só a vitória do Palmeiras que ganhou as manchetes dos jornais, mas também o fato de que a partida chegou a ser acompanhada ao mesmo tempo por mais de 1,3 milhão de espectadores, número recorde para as transmissões do certame atual. Tamanha audiência evidencia a gravidade da crise enfrentada pelo atual modelo de TV aberta provocada pela expansão do mercado de streaming.
Parece mesmo ser questão de tempo. Em comparação à TV aberta, o streaming oferece vantagens consideráveis, como interatividade, portabilidade do aparelho receptor – o celular, p. ex. – e a flexibilidade dos horários para acesso aos conteúdos. Além disso, a democratização na produção das mídias, proporcionada – ainda – por plataformas como o YouTube, enfraquece significativamente o monopólio do PIG na TV aberta. Que venha logo o fim e possamos celebrar: bye-bye plim-plim.