Jair Bolsonaro não é mais uma “ameaça à democracia”, um “fascista”, um “autoritário”. Pelo menos é essa a impressão que passa na opinião geral da grande imprensa imperialista. O jornal britânico The Economist, que expressa a política do grande capital financeiro internacional, publicou artigo apontando uma suposta neutralidade na eleição presidencial brasileira.
Tanto Bolsonaro quanto Lula são criticados pela matéria. Natural, nenhum dos dois são os candidatos preferidos pelo imperialismo. O primeiro foi um político improvisado em 2018 para derrotar o PT, alvo de um golpe de Estado em 2016 que culminou na fraude eleitoral com a retirada da candidatura do ex-presidente Lula, preso ilegalmente pela Lava Jato. O segundo é um político popular fortemente ligado à classe operária e aos sindicatos e aliado aos governos nacionalistas do mundo.
Nesse sentido, para o interesse do imperialismo, Bolsonaro ainda seria a melhor opção. Por mais que seja um político contraditório, cujas relações com a burguesia brasileira o impedem de levar adiante a totalidade do programa de terra arrasada dos monopólios capitalistas, um segundo governo Bolsonaro permitiria aprofundar a destruição dos direitos trabalhistas, as privatizações, dentre outras medidas. O problema é que ele chegaria forte, com um bloco político que ultrapassa os políticos tradicionais da burguesia.
Lula, por sua vez, pela sua base social, não poderia levar adiante a política que o golpe impôs ao País. O próprio candidato tem se colocado contra as privatizações, defendendo revertê-las, o Teto de Gastos, as reformas da Previdência e trabalhista; ao mesmo tempo em que é favorável ao fortalecimento do BRICS, ampliando as alianças com Rússia e China, e pela criação de um banco de desenvolvimento do bloco.
Por isso, o imperialismo se vê num impasse, no qual Bolsonaro terá novamente ser a cartada dos capitalistas, que fracassaram ao tentar criar a terceira via.
Nesse sentido, o artigo do The Economist sobre as eleições brasileiras é a expressão de um apoio ao atual fascista que ocupa a Presidência da República.
No início de setembro, quando o imperialismo ainda buscava viabilizar a terceira via, o mesmo jornal publicou Bolsonaro em sua capa de revista. Ele foi acusado de ser o Donald Trump brasileiro, chamado de golpista, “ameaça à democracia”, e outras acusações.
Agora, confrontado com a possibilidade de Lula vencer a eleição, as críticas foram amenizadas. Quando o artigo diz “se Sr. Bolsonaro ganhar e continuar praticando a política de confrontação, o Brasil vai continuar patinando”, trata-se mais de um conselho do que uma crítica. É o imperialismo pedindo para que Bolsonaro concilie com os setores da direita, principalmente no Judiciário, com o qual tem se chocado. Pedindo para o cachorro louco botar uma mordaça, na mesma tática de botar Bolsonaro “na linha”.
Isso revela que nunca houve, de fato, uma preocupação com a democracia brasileira por parte da burguesia. Se Bolsonaro, como alegavam estes setores, era uma “ameaça” e estava planejando um golpe de Estado, o que mudou em um mês? Bolsonaro não é mais um “fascista”, “autoritário”?
Finalmente, toda a campanha contra ele não passava de uma manobra política para favorecer a terceira via. Este bloco, que fracassou fatalmente nestas eleições, perdendo parlamentares e governos importantes (como o estado de São Paulo) para o bolsonarismo, foi apontado com um setor “democrático” da burguesia. Durante a pandemia, foi até mesmo apresentado como “científico” sem ter feito nada para barrar a hecatombe sanitária contra a população pobre.
The Economist mostra que não havia nada disso. Era apenas uma disputa pelo poder, na qual a esquerda ajudou a resgatar um setor falido da direita.
Por isso, o artigo do órgão britânico não demonstra neutralidade, como busca apresentar. Lendo nas entrelinhas, percebe-se que Bolsonaro novamente será usado para impedir a volta do PT, que se voltar ao governo, representará uma importante derrota do golpe de 2016.