Seguem as negociações dos partidos mais tradicionais da burguesia brasileira em torno do seu candidato, que seria apresentado como uma alternativa eleitoral entre os dois polos da situação política, representados por Lula e Bolsonaro. Longe de ser centrista, a candidatura da terceira via é uma tentativa de emplacar um candidato “puro sangue” da direita para substituir o improvisado Bolsonaro.
Em meio às disputas dentro do PSDB, partido de onde mais provavelmente sairá esse candidato, o dissidente do PCB Roberto Freire citou para a imprensa que existe uma abertura para a participação de Ciro Gomes nas negociações da terceira via. O partido de Freire, Cidadania (antigo PPS), integra as negociações com MDB e União Brasil, além dos próprios tucanos.
Que Ciro gostaria de ser o candidato da terceira via não é segredo para ninguém, pois ele vem fazendo campanha aberta por uma frente ampla da direita para superar as candidaturas de Lula e Bolsonaro. No entanto, o oligarca cearense não parece ser a escolha ideal dessa coligação. A veiculação nessa semana do seu nome na imprensa burguesa aparece num momento em que a terceira via vem batendo de frente com o tucano João Doria.
Num curto intervalo de tempo, dois episódios apontam uma articulação de boicote à candidatura de Doria. O primeiro foi a recusa de adiamento para a definição do candidato do bloco, que serviria para o tucano aproveitar o tempo de propaganda partidária na televisão e conseguir ser mais citado em pesquisas eleitorais. Outra rasteira de bastidores, veiculada na imprensa burguesa, foi o cancelamento de um jantar dos representantes dos partidos da terceira via que ocorreria na casa de Doria e o agendamento de nova reunião de negociações sem a presença do mesmo.
Independentemente da veracidade dessas manobras de bastidores, o que existe de concreto é a veiculação dessas informações, que servem para enfrentar os esforços de Doria para se firmar como candidato à presidência. Parte dessa coligação se preocupa com a alta rejeição de Doria no próprio estado que governou nos últimos anos, pois o cálculo é fundamentalmente eleitoral. Mas em se tratando da direita é importante lembrar que vale tudo na política burguesa e os carreiristas da política profissional não têm qualquer escrúpulo.
Um nome que vem despontando nos últimos meses como uma possibilidade real é o do ex-governador do Rio Grande do Sul, o também tucano Eduardo Leite. A principal disputa entre as candidaturas possíveis da terceira via tem se dado entre o BolsoDoria e o BolsoGay, 2 dos 50 tons de bolsonarismo que emergiram na crise política do golpe de Estado de 2016. A favor de Leite contam a idade, o relativo desconhecimento da figura em nível nacional e o escudo identitário pois ele se declarou homossexual recentemente.
Como peça de propaganda, apresentar um jovem homossexual pode ter um apelo importante entre os jovens eleitores, ajudando a vender Leite como alguma coisa “progressista” em oposição a Bolsonaro. Se Doria já foi muito exposto na imprensa e Gomes é uma metralhadora de falar bobagens, a terceira via, que busca estabilizar o regime político pós-golpe, parece manter Leite no páreo, mesmo após uma desistência “para inglês ver” do ex-governador gaúcho.
