Em mais um dia de mobilização e luta, no último 23 de março, os servidores públicos federais do Executivo realizaram uma concentração em frente ao Ministério da Economia para exigir a abertura de negociações. No dia anterior, 22, representantes da categoria foram recebidos por um preposto do 5º escalão do ministério, uma espécie de estafeta do ministro Guedes, vale dizer, um pau mandado sem qualquer poder de decisão, que acintosamente disse, como resposta aos sindicalistas, que haveria um posicionamento oficial no dia 1º de abril. Nada mais simbólico para uma enrolação, pois essa é a data que ficou conhecida no País como o dia nacional da mentira.
Vale destacar que os funcionários públicos têm até o dia 4 de abril para conquistar a reposição inflacionária ou mesmo algum reajuste. Se não houver a correção, ela só poderá ser feita em 2024, devido a legislação que proíbe revisão salarial em anos de transição de mandatos de governadores e presidentes. Portanto, a hora é agora. Ou conquistamos o que nos é de direito ou continuaremos amargando mais outro longo período de corrosão salarial, com o consequente aumento da miséria e do sofrimento da categoria.
Nessa perspectiva, os esforços das direções representativas da categoria devem estar dirigidos à organização e à preparação de uma massiva paralisação, de uma ampla adesão à greve nacional dos servidores públicos das três esferas, que deve ser deflagrada no mais breve tempo possível. Até o momento, todas as tentativas no sentido da abertura de um canal de negociação com o governo golpista, inimigo dos servidores, foram infrutíferas, pois o que se verifica é que não há qualquer disposição dos neoliberais que estão destruindo o País em conceder nada ao funcionalismo público federal. A mesma política vem sendo adotada nos estados e municípios, pois governadores e prefeitos decidiram adotar para aos trabalhadores do serviço público o mesmo tratamento de ataques, fome e miséria do governo federal.
Enquanto isso, um outro segmento dos servidores públicos federais, os trabalhadores previdenciários, que se organizam nos sindicatos estaduais e a nível nacional, na Fenasps, tomaram uma decisão acertada diante da enrolação que vem ocorrendo nas negociações com os representantes governamentais. Os previdenciários também enfrentam o mesmo calvário vivenciado pelos demais segmentos da categoria. Todavia, diante da enrolação e das tratativas em rodadas de negociação que em nada avançam, eles decidiram agir e dar a largada. Os trabalhadores da previdência decretaram GREVE a partir do dia 23 de março, paralisando as atividades em 15 estados.
As reivindicações são basicamente as mesmas do conjunto dos servidores: A reposição salarial de 19.99% referente às perdas acumuladas nos últimos três anos; cumprimento de cláusulas acordadas ainda em 2015, desconsideradas pelo atual governo; melhores condições de trabalho; fim da pressão pelo cumprimento de metas; abertura de concurso público, com a contratação de 23 mil novos servidores para atender a demanda de 1.800.000 mil processos que se encontram encalhados nas agências país afora por falta de pessoal.
Os funcionários da previdência vêm atravessando um período de enormes dificuldades e ataque às suas condições de trabalho e vida. O contingente de servidores em estado de adoecimento é espantoso, tendo alcançado percentuais alarmantes nos últimos cinco anos. Muitos estão em trabalho remoto e são obrigados a cumprir metas muitas vezes inatingíveis, por exigência das chefias. Esta sobrecarga de trabalho ocorre em função da liquidação paulatina do quadro de servidores efetivos, pois há anos não há a realização de concurso público para a reposição da força de trabalho, que ficou defasada em função de aposentadorias e outras vacâncias.
O governo sustenta que não há disponibilidade orçamentária para atender o pleito dos servidores. No entanto, Bolsonaro fez lobby pessoal no Congresso para ver contemplado no orçamento de 2022 nada menos do que R$ 1,7 bilhão para garantir o reajuste salarial dos policiais federais, da Polícia Rodoviária e dos agentes penitenciários. É óbvio que não faltam recursos nesse momento, pois até mesmo a arrecadação tributária cresceu em função dos impostos oriundos dos combustíveis e também da não correção da tabela do imposto de renda.
Portanto, não há nada a esperar do governo golpista, inimigo dos servidores e dos trabalhadores. Os previdenciários já mostraram o caminho. É hora de irmos para cima dos que querem nos matar de fome.