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"Trotskistas" anti-trotskistas

PSTU e PSOL: contra Trótski e contra a liberdade de expressão

Partidos e grupos de esquerda ignoram os ensinamentos marxistas e se colocam lado a lado daqueles que atacam a liberdade de expressão

De que adianta falar que é marxista e revolucionário se na hora em que os debates ficam acirrados, na hora em que a burguesia coloca todo o peso de sua máquina de propaganda para defender determinada política, você arrega?

Essa é a pergunta que deveria ser feita a todos os grupos brasileiros que se dizem trotskistas. Essa é a atitude de todos eles diante da polêmica envolvendo a censura e perseguição ao ex-apresentador do Flow Podcast, conhecido como Monark.

O PSTU e correntes trotskistas do PSOL, se não fugiram do debate, colocaram-se favoráveis à censura contra o apresentador. Mas vamos começar mostrando o que falou o próprio Trótski sobre o problema da liberdade de expressão e da luta contra o nazismo.

Em 1939, Trótski explicou, em texto intitulado “Por que concordei em comparecer ao Comitê Dies“, que não se deve restringir os direitos democráticos, nem mesmo sob o pretexto de atacar o fascismo:

Sendo um oponente irreconciliável não apenas do fascismo, mas também do Comintern atual, sou ao mesmo tempo decididamente contra a supressão de qualquer um deles.

A proscrição de grupos fascistas teria inevitavelmente um caráter fictício: como organizações reacionárias, elas podem facilmente mudar de cor e se adaptar a qualquer tipo de forma organizacional, uma vez que os setores influentes da classe dominante e do aparelho governamental simpatizam consideravelmente com eles e essas simpatias inevitavelmente aumentam em tempos de crise política.

Trótski fala sobre sua participação no Comitê Dies, chefiado pelo democrata do Texas, Martin Dies, com o objetivo de combater as chamadas “atividades anti-americanas”, ou seja, uma iniciativa do imperialismo para proibir organizações e atividades de ideologias que eram consideradas contrárias ao governo norte-americano. Ele se coloca contrário à proscrição de grupos fascistas. Para o revolucionário russo, o Estado capitalista não tem condições de proibir esses grupos já que a classe dominante e a máquina estatal são simpáticos ao fascismo. As organizações reacionárias, apoiadas nisso, sempre teriam um caminho para se organizar.

Em primeiro lugar, segundo Trótski, tal proibição seria inócua. Não teria um efeito real sobre esses grupos fascistas. Mas Trótski não para por aí:

Nas condições do regime burguês, toda supressão dos direitos políticos e da liberdade, não importa a quem sejam dirigidos no início, no final inevitavelmente pesa sobre a classe trabalhadora, particularmente seus elementos mais avançados. Essa é uma lei da história. Os trabalhadores devem aprender a distinguir entre seus amigos e seus inimigos de acordo com seu próprio julgamento e não de acordo com as dicas da polícia.

Vejam, companheiros! Trótski diz com todas as letras que uma proibição desse tipo vai inevitavelmente recair sobre a classe trabalhadora. Limitar um direito democrático, mesmo sob um pretexto que possa parecer justificável como o nazismo, vai se voltar contra a esquerda.

De maneira genial, Trótski parece estar dirigindo suas palavras para a esquerda pequeno-burguesa brasileira de hoje: os trabalhadores não devem aprender quem são seus inimigos com as “dicas da polícia”.

A esquerda brasileira, inclusive a que se diz trotskista, quer que o povo aprenda quem são os nazistas com as dicas da polícia e do Judiciário. Não com qualquer polícia e qualquer Judiciário, mas com essas instituições compostas por fascistas que deram o golpe de Estado e sustentam o fascista que está no governo. Querem que a rede Globo ensine aos trabalhadores sobre o nazismo. Querem que o próprio fascista Bolsonaro ensine os trabalhadores.

Será que os trabalhadores aprenderão alguma coisa? Certamente não. Trótski foi o homem que primeiro identificou o perigo do fascismo e do nazismo para a classe operária e a humanidade. Foi ele que propôs uma frente única que combatesse, na prática, ou seja, através da constituição de milícias operárias, os bandos fascistas. Mas ele sabia que o Estado não pode combater o fascismo porque é justamente o Estado o principal celeiro dos fascistas.

A ex-candidata a presidente pelo PSTU, Vera Lúcia ─ que não entende absolutamente nada de marxismo ─, aproveitou o debate para ver se ganhava um pouco de destaque. E na sanha de criticar as posições do PCO, acabou revelando o anti-trotskismo do PSTU. Fez uma enquete engraçadinha no seu Twitter para criticar a defesa do PCO a Monark e a “legalização do nazismo”. É de dar dó!

Mas de dar dó também é o artigo do PSTU falando sobre o caso. Diferente de Trótski, os morenistas dizem que a defesa do PCO da liberdade de expressão é abstrata: “a defesa de um princípio abstrato – “liberdade de expressão” – para a legalização de um partido nazista é tão irracional como um condenado oferecer munição ao seu pelotão de fuzilamento”. Como vimos acima, Trótski achava que a proibição de grupos fascistas iria inevitavelmente se voltar contra os trabalhadores, o que é algo bem concreto. Já o PSTU acha o contrário, que legalizar um grupo nazista é que dará munição contra a esquerda.

O PSTU precisaria explicar por que então, segundo eles mesmos dizem, houve um crescimento de 300% nos grupos fascistas no Brasil mesmo não existindo um partido abertamente nazista legalizado. Diferente do que pensa o PSTU, isso aconteceu justamente pelos motivos que Trótski aponta: quem incentivou o crescimento do fascismo e do nazismo no Brasil foram os partidos legalizados da burguesia, que são fascistas encobertos e que deram o golpe de Estado ─ que para o PSTU não houve.

O partido de Vera Lúcia deveria não criticar o PCO, mas o próprio Trótski.

As correntes ditas trotskistas do PSOL, como estão mais preocupadas em manter seus cargos no Congresso Nacional, limitaram-se a publicar declarações nas redes sociais. A deputada federal Sâmia Bonfim, que pertence à corrente de Luciana Genro, o Movimento Esquerda Socialista (MES/Juntos), afirmou em seu Twitter que “com o nazismo e o fascismo não há boa convivência ou diálogo. Defender a existência de um partido que prega o extermínio de judeus, LGBTs, negros e outros grupos, não tem nada a ver com liberdade. Nazifascismo se combate!”

A deputada nem se preocupa em explicar o caso. Limita-se a repetir o senso comum, repetir o que a burguesia vem falando, de que a declaração de Monark seria uma apologia ao nazismo e que defender a existência de um grupo nazista não tem nada a ver com liberdade.

Outro grupo dito trotskista, o Resistência, grupo que está no PSOL mas que é dissidente do PSTU, também não leva em consideração os ensinamentos de Trótski. Uma coluna em seu sítio na internet, o Esquerda Online, afirma que não deve haver liberdade de expressão para todos, mas foge do debate central apenas tentando afirmar que Monark é um direitista e que não defende isso realmente. Valério Arcary, líder do grupo, limita-se em seu Facebook a falar que o nazismo foi abominável, mas também evita entrar no mérito do problema: deve-se ou não limitar um direito democrático?

Aqui vale um destaque para os ditos trotskistas que, embora não tenham defendido a censura, também não se posicionaram denunciando-a. Os revolucionários não devem se esconder debaixo da cama quando os direitos de qualquer cidadão são atacados, quando um indivíduo é vítima da opressão do Estado e dos capitalistas. Ainda mais quando a burguesia consegue colocar em xeque qualquer resquício de direito à livre expressão. É preciso se posicionar e denunciar o arbítrio do Estado, e não dar demonstrações de covardia política como está fazendo a maioria dos autoproclamados trotskistas.

Se depender de todos esses pretensos trotskistas, o temor de Trótski irá se concretizar. O Estado capitalista, esse sim uma máquina fascista poderosa, vai voltar sua perseguição contra os trabalhadores e a esquerda.

É uma vergonha para esses grupos. Abandonam a ideologia que dizem defender diante da primeira batida de pé mais forte que a burguesia dá. Com trotskistas como esses, quem precisa de neoliberais? Essa esquerda não é nada mais do que um apêndice da direita pró-imperialista.

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