Em junho deste ano, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) sofreu uma desfiliação em massa após ingressar oficialmente na chapa Lula-Alckmin em uma Federação Partidária com a Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva. Segundo os mais de 100 egressos, tratava-se de um posicionamento político incompatível com os princípios do partido – se é que podemos falar em princípios políticos quando se trata do PSOL.
Mais uma vez, o clima está ficando tenso dentro da legenda. Agora, tendências do partido, em especial, o Movimento Esquerda Socialista (MES), composto por figuras como Sâmia Bomfim, Glauber Braga e Luciana Genro, tentam impedi-lo de fazer parte oficialmente do novo governo Lula. A participação de figuras psolistas da equipe de transição governamental, bem como a “fofoca” de que Sônia Guajajara seria indicada para o Ministério dos Povos Originários, acenderam um alerta nesses grupos.
Segundo reportagem do Globo, alguns quadros do PSOL afirmam que existe risco de debandada dependendo da decisão da Direção Nacional do partido, prevista para o mês de dezembro. Ademais, afirma que essas alas “tentam levar o partido para, senão uma oposição, ao menos uma posição de independência em relação ao PT”.
Levando em consideração apenas o discurso desses setores, aparenta, à primeira vista, que se trata de uma ala progressista dentro do PSOL que, frente à política cada vez mais direitista do partido, procura ir à esquerda e diferenciar-se da burocracia psolista. Todavia, é justamente o contrário, esses setores apenas expressam a posição anti-petista de sempre.
Finalmente, fato é que Lula, apesar de não ser nenhum revolucionário é a principal liderança dos trabalhadores brasileiros nos dias de hoje. Por isso, foi alvo número um do golpe que o imperialismo orquestrou no Brasil, justamente por representar a única alternativa aos planos neoliberais do capital financeiro que, há mais de uma década, tenta ativamente massacrar a classe operária nacional.
Nesse sentido, a defesa de “independência de classe” do MES mostra-se uma verdadeira farsa. Antes, significa um ataque envergonhado ao governo Lula antes mesmo dele tomar o poder. Seria surpreendente que setores ditos revolucionários tomassem um posicionamento reacionário como esse, mas, já virou um falatório clichê, principalmente quando estamos falando do golpe.
Em 2014, por exemplo, enquanto a burguesia de conjunto se mobilizava para tentar derrubar o governo Dilma e, com isso, estabelecer um regime neoliberal no País – algo que, dois anos depois confirmou-se com o impeachment e a posse de Temer -, o PSOL, por meio de Guilherme Boulos e do MTST, encabeçou o movimento chamado “Não Vai Ter Copa!”. Resumidamente, representou a frente única da esquerda pequeno-burguesa com o imperialismo que também utilizava a Copa do Mundo no Brasil para atacar a petista e promover o seu desgaste.
Ou seja, é um indicativo claro de que, quando a situação se intensificar, caso a burguesia faça outra investida agressiva contra o governo Lula, esses grupos ficarão, mais uma vez, ao lado da burguesia, apoiando o golpe Assim como no passado, afirmarão que Lula é um governo burguês tal qual os outros e, portanto, não pode ser apoiado. Prova disso é justamente o posicionamento de que, antes de qualquer coisa, querem se estabelecer como oposição ao novo governo.
Os interesses declarados de tais grupos são, obviamente, totalmente diferentes dos interesses dos golpistas. Mas, fato é que, se o Brasil está em meio a um golpe de Estado – que, apesar da vitória de Lula, ainda não foi completamente derrotado -, então os comunistas devem, necessariamente, fazer frente com o governo nacionalista para derrotar o grande capital. É uma das lições mais importantes, inclusive, de Trótski, o qual o MES afirma reivindicar para si, quando, na prática, adota uma política reacionária.
No fim, qual deve ser a posição revolucionária relativa ao governo de Lula? Os revolucionários precisam agir junto ao povo que, queira ou não, está com Lula. Ademais, como colocado acima, devem justamente combater o imperialismo que, agora, está em total contradição com a política adotada pelo presidente eleito. Consequentemente, é dever dos comunistas apoiar o governo Lula e, ao invés de declarar-se como oposição a este, tentar empurrá-lo cada vez mais à esquerda para que, no fim, os interesses da classe operária sejam atendidos.