Frequentemente apresentado na imprensa burguesa como “à esquerda do PT”, o PSOL conta com um enorme empecilho para convencer a população: sua política prática. Se tratando de uma mera plataforma eleitoral com verniz esquerdista, seus integrantes não atuam de acordo com um programa e nem mesmo de acordo com as decisões do próprio partido.
Esse balaio de gato produz frequentes desencontros entre os parlamentares, candidatos e integrantes comuns do PSOL em relação às decisões tomadas por seus dirigente. No Mato Grosso do Sul, onde o companheiro Magno de Souza teve que empreender uma batalha contra o sistema eleitoral para poder ao menos participar do processo, o candidato do PSOL ao governo mostra no segundo turno essa característica marcante do partido.
Já tendo concorrido a deputado estadual pelo PTC e a vereador pelo PDT, em 2022 Adonis Marcos alugou a legenda do PSOL e concorreu a governador no estado que é dominado pelos latifundiários, incluindo Simone Tebet. Após receber 0,23% dos votos no primeiro turno, o carreirista contrariou a declaração de neutralidade do partido e anunciou apoio ao candidato do PSDB, Eduardo Riedel.
Fosse um raio em céu azul, poderia ser considerado como um acidente de percurso na trajetória do partido, mas o descompasso interno do PSOL é uma característica inerente ao tipo de agrupamento que se constituiu em torno da sigla. As pessoas não se organizaram em torno de um programa político, mas para buscar se eleger apelando para o eleitorado de esquerda.
Com a desculpa de se opor a um candidato mais explicitamente alinhado ao bolsonarismo, o candidato do PSOL declara apoio a um ruralista que, vejam só, declarou apoio a Bolsonaro no segundo turno. Mostrando que a falta de sintonia partidária é algo típico da direita, o candidato tucano criticou recentemente a falta de “posicionamento no campo ideológico” do PSDB ao declarar seu apoio ao atual e ilegítimo presidente.
Vale ressaltar o conteúdo da explicação dada por Adonis para apoiar o tucano ao governo do estado. Segundo o psolista sua decisão foi “técnica”, pois o candidato do PSDB apresenta maior “capacidade administrativa”. O tipo de ladainha vazia que se espera ouvir dos políticos da direita, que se apoiam na despolitização para encenar seu burocrático teatro nas eleições.
Afinal, para apoiar um tucano, latifundiário e que apoia Bolsonaro contra Lula, não seria simples inventar um argumento mais político. Mais fácil apelar para os preconceitos da classe média universitária que habita o PSOL e seguir sua carreira rumo a uma preciosa vaga na burocracia estatal.