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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

POVO NA RUA

Povo deve tomar as ruas por Lula presidente

Povo tem de sair às ruas, pois a burguesia se articula em torno do Bolsonaro, do STF, da imprensa, da Rede Globo e até dos identitários

Quem assiste, pelo menos de vez em quando, ao Bom Dia 247 já conhece uma assídua internauta que, logo cedo, manda uma mensagem com o número de dias que faltam para a eleição ou para o fim do pesadelo que atende pelo nome de Bolsonaro. Ainda que seja simpático da parte dela lembrar que, a cada dia, estamos mais próximos da possibilidade de redenção, é preciso observar – e não se trata de pessimismo – que temos de fazer mais do que esperar a chegada da bem-aventurança.

A grande imprensa, veículo das aspirações da burguesia, reverbera o receio das temidas “fake news” produzidas nos subterrâneos do Palácio do Planalto, onde se aloja o “gabinete do ódio”. Na luta contra a “milícia digital”, o super-herói careca de capa preta que estará à frente do TSE promete não dar moleza: está disposto censurar o ódio (ou o discurso de ódio), de preferência com a aprovação da sociedade, a fim de “garantir a tranquilidade do processo eleitoral”, sob a bênção da urna eletrônica.

Sob o pretexto de coibir a violência verbal de Bolsonaro e sua turma, o STF já ensaiou um movimento de censura ao Telegram, logo seguido de “pesquisa do Datafolha” para aferir a opinião da população sobre a medida. O resultado foi bola dividida: 51% a favor da suspensão do aplicativo e 43% contra ela, restando um percentual de pessoas que “não souberam responder”.

Segundo a pesquisa, a maior parte das pessoas favoráveis ao bloqueio (censura) tem ensino superior e renda maior que dez salários mínimos, o que é bastante sugestivo. A mesma reportagem da Folha de São Paulo lembra os perigos do Telegram, que, em razão de “baixa intervenção” e de “uma estrutura propícia à viralização”, favorece a circulação de “discurso de ódio” e de “conteúdo antivacina”.  

Quem clicar no hiperlink que sai de “discurso de ódio” nessa matéria cairá em uma reportagem do mesmo jornal cujo título é “Conteúdo neonazista avança em canais do Telegram, aponta pesquisa”.  Nesse texto, que retrata os resultados de um estudo feito por pesquisadores das universidades federais da Bahia e de Santa Catarina, consideram-se conteúdo “abertamente nazista” discursos que opõem cristãos a judeus, sendo estes tratados “como uma força política e econômica que estaria agindo ‘em prol da vacinação em massa em contexto mundial’ por meio de grandes corporações”.

De acordo com a mesma matéria, os tais pesquisadores “mapearam o aumento de compartilhamentos principalmente em três temáticas: voto auditável, mobilização contrária à vacinação e […] formas de burlar um possível banimento do Telegram”. Continua o mesmo texto: “As mensagens sobre a vacinação e a exigência de comprovação vacinal vêm, na maioria das vezes, cercadas de características conspiratórias. Elas sugerem uma suposta articulação mundial de farmacêuticas, governos e organizações internacionais que conspiravam contra a segurança e a liberdade dos cidadãos”. E mais adiante: “Há vídeos que apresentam supostos depoimentos sobre reações adversas da vacinação em crianças e adolescentes”.

Como se vê, tratar de uma suposta força política e econômica de grupos judeus ligados a grandes corporações é ser neonazista ou praticar discurso de ódio. O mesmo vale para quem questionar a eficácia das vacinas e seus possíveis efeitos adversos, bem como a sua obrigatoriedade, para quem suspeitar do poder das grandes corporações e dos interesses da indústria farmacêutica, para quem for favorável ao voto auditável e para quem divulgar formas de driblar a suspensão do Telegram.

Para atribuir a tais temas um caráter de extrema direita, a matéria faz um aceno à esquerda, incluindo entre eles os ataques a Lula: “A pesquisa aponta ainda que continuam temas como os ataques ao STF, ao ex-presidente Lula, o descrédito das instituições públicas de saúde, meios de comunicação e jornalismo tradicionais”. E acrescenta desconfianças sobre fraude nas urnas eletrônicas e ataques ao ministro Alexandre de Morais.

Dessa forma, parece que todos os elementos (Lula, instituições públicas de saúde, STF, imprensa tradicional, Alexandre de Morais, urna eletrônica) pertencem a um mesmo conjunto, que só pode ser defendido ou atacado como um todo.  

Esse tipo de texto cria uma espécie de armadilha para o raciocínio. Não pode ser enquadrado na categoria de “fake news”, como o são coisas bizarras do tipo “distribuição de mamadeira de piroca”, “virar jacaré depois de tomar vacina”, “planeta Terra ser plano, não esférico” etc., mas seu efeito vem do arranjo enviesado das informações com o intuito de manipular a opinião do leitor.

Trocando em miúdos, estamos sendo convencidos, dia e noite, a aprovar a censura a determinados pontos de vista: (1) desconfiar da urna eletrônica e propor voto auditável, (2) criticar meios de comunicação e jornalismo tradicionais (Rede Globo, Estadão, Folha etc.), (3) criticar o STF, (4) criticar o Alexandre de Morais, (5) desconfiar da eficácia das vacinas, (6) criticar grandes corporações e seus lobistas. Por que tais críticas estariam circunscritas à extrema direita? A esquerda não pode ter as mesmas desconfianças? A quem interessa defender o STF, o Xandão, a Rede Globo, a imprensa burguesa, as grandes corporações, a inviolabilidade da urna eletrônica, que, por si só, rechaçaria qualquer necessidade de voto auditável? Quem foi mesmo que deu o golpe em 2016?

Não bastasse o espectro da censura que paira sobre as eleições, a campanha de estímulo a que jovens de 16 anos tirem o título e votem, ainda que pareça repleta de boas intenções, também pode estar a serviço dos cálculos eleitorais. Vejamos. A garotada que hoje tem 16 anos tinha apenas 10 no ano de 2016, quando houve o último golpe de estado, com a deposição de Dilma Rousseff. No ano de 2013, uma parte dessas crianças de 7 anos acompanhava os pais nas manifestações dominicais pré-fascistas chamadas de “jornadas de junho”, nas quais se pedia a volta da ditadura militar e se coroava o processo de demonização do PT empreendido pela imprensa da burguesia.

De certa forma, esse grupo, por ser o menos experiente e conhecer apenas o governo de Bolsonaro, pode ser manipulado com alguma facilidade pelo bombardeio das pautas identitárias, segundo as quais basta pertencer a uma das identidades minorizadas na sociedade (mulher, mulher negra, negro gay, negro, LGBT etc.) para representar o lado certo da força.

O identitarismo camufla as reais relações de poder presentes na sociedade e, ao fim e ao cabo, favorece a burguesia, a quem continua cabendo o papel de dizer qual é o lugar de cada um. De modo bem simples, a burguesia coopta uma pequena parcela desses grupos, que se dizem “representantes” de uma causa, e se apresenta como capaz de implantar as mudanças sociais necessárias sem conflito. Os que ficam de fora da festa da representatividade têm de se contentar com supostas “conquistas simbólicas”.

Enquanto isso, Bolsonaro propõe mudança legal que passa a incluir na definição de “terrorismo” as “ações violentas com fins políticos ou ideológicos”. Dado que o adjetivo “violento” hoje tem seu uso flagrantemente ampliado, existe a possibilidade de que movimentos sociais venham a ser enquadrados nessa lei, caso seja aprovada.

Segundo matéria da Folha, o mesmo Bolsonaro declarou: “Vocês não têm visto em nosso governo ações do MST, que aterrorizava o campo. Além das armas que nós distribuímos para pessoas de bem, também a titularização tirou poder dos chefes do MST de manobrar pessoas humildes”.

Um comentário de leitor a esse texto merece ser reproduzido por representar, ao que tudo indica, a opinião média de quem se informa pelos jornais “tradicionais”: “Por que cargas d’água um sujeitinho se candidata a presidente, vence as eleições e é empossado na cadeira presidencial [se] odeia tanto o Brasil e os brasileiros? Esse camarada parece ter a essência do mal em suas células, sangue, nervos e veias. Tenta se vingar de tudo e de todos aproveitando o cargo que mais de cinquenta e sete milhões de eleitores lhe deram de bandeja. Não há um só momento em que ele não demonstre o seu profundo rancor com o mundo, e é necessário um estudo psiquiátrico para entendê-lo”.

O problema, no entender dessa pessoa, é a psique do Bolsonaro, pois ele tem em si a essência do mal, ódio no coração ou, quem sabe, problemas mentais. Por que não se refere dessa forma igualmente aos latifundiários que estão resolvendo a tiros a questão da terra? Segundo a Rede Globo, “o agro é pop”, tudo gente boa. Não basta atribuir maldade ao indivíduo Bolsonaro; é preciso saber a quem ele serve. Qual é a parcela da sociedade que se beneficia das suas ações?

É por essas e por outras que quem quiser mudança não vai poder ficar calmamente esperando o dia da eleição enquanto a burguesia se articula em torno do Bolsonaro, do STF, da imprensa, da Rede Globo e até dos identitários – afinal, sempre se pode tirar um BolsoGay da cartola da combalida terceira via.

É preciso ir às ruas e manifestar-se; o povo tem de mostrar que não vai aceitar ser enganado outra vez pela direita – seja ela “extrema” ou “limpinha”.

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