Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

Quadrinhos brasileiros

Os quadrinhos de Koostella

Lançadas em 2010, as 31 HQs de Koostella reunidas no álbum “Gefangene / Sem saída” tematizam a liberdade de expressão.

Koostela

O álbum “Gefangene – sem saída”, de Koostella, foi publicado em 2010 pela editora Zarabatana; Koostella vive na Europa, na época do lançamento do álbum ele morava na cidade de Basileia, Suíça. Nesse trabalho, o autor tematiza, justamente, algumas das condições de ser estrangeiro; entre elas, sentir-se em constante estado de observação perante as autoridades locais, levando a comportamentos semelhantes aos de quem estaria em “liberdade condicional”, segundo as palavras do próprio artista. Motivado pelo tema, Koostella reúne 31 HQs, todas formadas por 9 quadrinhos dispostos em 3×3 e sempre mudas, evitando assim os limites de comunicação impostos pelas línguas, outra dificuldade encontrada pelos estrangeiros.

Valendo-se da comparação com a liberdade condicional, Koostella compõe suas 31 HQs por meio de metáforas e exageros, pois tal condição se transforma metaforicamente em diversas formas de prisão, envolvendo a maximização das sensações do prisioneiro em masmorras, hospícios, solitárias, burcas… contudo, se estiver correta a afirmação feita por Freud do reprimido aparecer no repressor, nas prisões de Koostella, algumas vezes, nasce a liberdade. Vou me deter em três formas de fuga, portanto, em três formas de prisão:

(1) a repressão sexual, em “Burca”

Nos seis primeiros quadrinhos da história, uma moça se masturba livre de quaisquer pudores, entretanto, nos últimos quadrinhos, revela-se que ela se satisfaz vestida com sua burca, metaforizada por uma torre de ferro; aquilo que parecia liberdade sexual revela-se transgressão de morais religiosas excessivamente rígidas simbolizadas pela burca, manto cuja função é esconder a mulher de olhares alheios. Essa burca, enquanto símbolo da repressão sexual, surge metaforicamente exagerada desenhada feito se fosse uma torre de ferro ambulante, aproximando a burca da donzela de ferro, aparelho de tortura medieval; em sua alegoria Koostella revela, sob a burca-masmorra, a sexualidade cujos costumes, embora tentando esconder, não conseguem reprimir e mesmo reprimida a moça vai ao encontro do sexo.

(2) a solidão, em “O músico”

Detido na cela, o músico escapa por meio da música quando sua composição faz aparecer outros músicos e dançarinos na cela dispostos a celebrar a liberdade. Assim procedendo, o músico de Koostella não escapa apenas da cela; ao construir-se músico por meio do diálogo, ele escapa do próprio ego e dos limites de sua personalidade para terminar repousando em paz embalado pela música, tão liberta dele quanto ele surge liberto das condições de detento.

(3) os labirintos da mente, em “A fuga do palhaço”

 Essa talvez seja a HQ mais poética do álbum; nela é tematizada a fuga de uma fuga quando o palhaço, parecendo fugir da prisão material feita de tijolos, na verdade foge da própria mente. A primeira fuga é frustrada, o palhaço perde os sentidos ao cair no chão; a segunda fuga, a que realmente interessa, realiza-se plenamente; trata-se de uma fuga quase transcendental, o pensamento humano liberta-se da própria mente e de suas visões de mundo.

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