Há uma enorme campanha para apresentar como se fosse uma demonstração de “esperteza” e, de certa forma, uma “fórmula para o sucesso” as supostas alianças de Lula com partidos e políticos profissionais da burguesia, alguns dos quais estiveram na linha de frente da organização do golpe de Estado que derrubou a presidenta Dilma Rousseff e da campanha pela condenação e prisão criminosa do próprio ex-presidente.
Setores da direita (por motivos lógicos) e da esquerda burguesa e pequeno burguesa, claramente pressionados pela campanha da direita, apresentam como se fosse uma novidade o filme que assistimos e vivenciamos nas últimas décadas no qual o enorme prestígio da maior liderança popular do País foi usada para resgatar das “catacumbas” partidos e políticos “enterrados” pela rejeição popular como os chefes do MDB (sarnxey e Cia.), entre outros.
Como parte dessa campanha, a imprensa capitalista e até mesmo setores da imprensa alternativa depois de festejarem a indicação do ex-presidente do PSDB e ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (agora no PSB), como pré-candidato a vice-presidente na chapa de Lula, agora, exaltam o fato de que o mesmo estariam buscando nomear pessoas de sua proximidade para a coordenação de campanha e do programa de governo na chapa de Lula.
Vários órgãos do PIG (Partido da Imprensa Golpista) chegam a destacar que “Alckmin quer aliados de confiança na coordenação de campanha de Lula“ (Folha de S. Paulo, 17/5/22). De um modo geral, exaltam que “ex-tucano”, poderia se valer de sua “experiência”, no governo de SP, para a elaboração de um programa de PPPs (Parcerias Público-Privadas).
A Folha de S. Paulo – por exemplo – destacou, na sua sessão Painel, que na chefia do governo paulista, Alckmin patrocinou uma lei das PPPs que incluiu a criação da CPP (Companhia Paulista de Parcerias), que servia como um fundo garantidor para as empresas privadas que participassem de projetos do Estado.
Com estas e outras medidas vai ficando evidente que a presença do neoliberal na chapa de Lula não visa, de forma alguma – como anunciam alguns dirigentes da esquerda – promover uma aproximação de setores da direita das propostas da esquerda, em geral, ou de Lula, em particular, mas servir como base para pressionar o ex-presidente Lula e toda a sua campanha, no sentido oposto, na direção da capitulação para propostas caras à direita golpista, como a defesa das PPP, das privatizações etc.
Isso significa que a burguesia usa ALckmin para tentar desarmar a campanha de Lula naquilo que ela tem de mais progressista, ou seja, o enorme potencial que possui para mobilizar os trabalhadores, a juventude e outros setores dos explorados contra a ofensiva que a direita impôs – de forma mais acelerada – com o golpe de Estado. A “experiência” de Alckmin, que esteve à frente do governo de SP por 14 anos, dos quase 30 anos de devastação promovida pelos tucanos em favor dos grandes capitalistas, é pródiga neste sentido, vale dizer, no sentido totalmente oposto aos interesses dos trabalhadores.
Fica claro o esforço para fazer com que a campanha de Lula não seja um pólo de mobilização em defesa das reivindicações populares, para ser uma campanha de defesa do programa neoliberal de Alckmin, do “velho PSDB” e outros setores da direita golpista para o País.
Na medida em que Lula reage, empiricamente, em vários aspectos a essa pressão, quando discursa contra as privatizações, contra o limite de teto de gastos etc., a direita reage, chama Lula de “irresponsável”, como fez o reacionário jornal O Estado de S. Paulo, atacando Lula de fora de sua campanha, enquanto Alckmin, o PSB e outros “Cavalos-de Tróia” infiltrados em sua campanha, procuram atacá-lo por dentro da chapa, até mesmo no comando da campanha.
Esses setores execrados pela população e desprestigiados até mesmo em seus antigos partidos não trazem qualquer apoio real para Lula – uma vez que não têm apoio popular – mas se apóiam em Lula, no seu prestígio, para tentar minar por dentro o caráter combativo de sua campanha, que é a única de oposição real ao regime golpista decadente.
Essa política, longe de ampliar as bases da campanha de Lula, cumpre o propósito de minar as chances de vitória de Lula que, para ser vitorioso, depende de uma ampla mobilização popular que derrote a direita, o que não pode ser feito com base em políticas hostis aos interesses dos trabalhadores, mas justamente como parte da luta contra elas.
A essa trama para minar a base política da campanha de Lula se juntam outras manobras, como a rendição do PT diante de políticos burgueses reacionários, como a do prefeito licenciado de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD) e o presidente do partido que o abriga, Gilberto Kassab (ex-ministro dos governos de Temer e Dilma; ex-secretário da Casa Civil de João Doria; ex-prefeito de São Paulo etc.). Esses “aliados” conseguiram que o PT não só abrisse mão de disputar o governo estadual em Minas Gerais, como também desistisse da candidatura ao Senado do seu líder na Câmara, o deputado federal Reginaldo Lopes e passasse a apoiar o senador Alexandre Silveira (PSD), candidato à reeleição. Silveira é ex-delegado de polícia e chegou ao senado após eleger-se primeiro suplente de senador do ex-governador Antonio Anastasia (PSDB), que foi indicado pelo “centrão” para o cargo de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).
O PT e a esquerda parlamentar vem cedendo espaço cada vez mais para elementos golpistas em quase todo o País, seja para “aliados” da esquerda burguesa (como o PSB em PE, RJ); seja para “aliados” da direita, como PSD, PP, MDB etc. em diversos estados.
Os “aliados” burgueses do PT, vão colocando as “manguinhas de fora”, procurando conter Lula e defendendo seus mesquinhos interesses políticos. Outro caso exemplar é o do ex-deputado Paulinho da Força, presidente do Solidariedade, que busca se reeleger e se “recolocar no mercado político” se passando por aliado de Lula, ao mesmo tempo que em São Paulo negocia apoio ao governador tucano, Rodrigo Garcia (PSDB), contra a candidatura de Fernando Haddad (PT).
Com aliados assim, quem precisa de adversários?