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Beco sem saída

O identitarismo começa a provar do próprio veneno

Política identitária, que divide a luta das minorias em partes ainda menores, começa a sofrer resistência daqueles que se sentem excluídos dentro do próprio moviemento.

Raças

O identitarismo está colhendo o que plantou: a divisão. Não demorou muito e o texto de Djamila Ribeiro “Nós, mulheres, não somos apenas ‘pessoas que menstruam’”, já encontra resistência dentro dos círculos identitários, talvez por conta do olho da matéria: “Mesmo com a pretensa ideia de querer incluir homens trans, termo apaga a realidade concreta das mulheres”. Também no UOL, onde foi publicado o texto de Djamila, surgiu a resposta: “Carta aberta à Djamila Ribeiro, de uma pessoa que menstrua”.

No início, a carta deslegitima Djamila, a pessoa que escreve que não precisa se identificar, e que “importa que você [Djamila] conheça um “eu” que representa muito daquilo que você diz acreditar conhecer”. E segue “lamento muito o desconforto que você possa vir a sentir com a primeira coisa que eu tenho para te dizer, mas, lamento ainda mais o fato de ter que precisar dizer: sobre mim, você se enganou”. O que não deixa de ser interessante, pois Djamila Ribeiro, que se especializou em tratar do ‘lugar de fala’, não pode se colocar no lugar de outra pessoa e experimenta do próprio veneno.

O ‘lugar de fala’ como todos sabemos, não passa de censura prévia. Quem já debateu com um identitário já deve ter ouvido algo como “ah, você é um homem branco, cis, hétero” etc., e está encerrada a conversa. Neste caso, Djamila não tem o lugar de fala de um homem trans. Se formos seguir seus preceitos, teremos de concluir que ela está errada a priori.

A carta é de alguém que admirava Djamila e se decepcionou “É uma pena que você tenha usado o nome de tantas outras – que também dividem a mesma estante contigo aqui em casa – para embasar o delírio completamente distorcido que você criou sobre mim e tantas outras pessoas, sem entender o lugar de fala delas. Fragmentos fora de contexto são muito perigosos, e eu acreditava que você sabia disso”. “Esta carta é para te dizer que, logo você, que ainda citou seu lugar de fala, escolheu silenciar o dos outros”. E ainda: “Eu não preciso que você destile aquilo que você vai chamar de “lugar de fala”, quando te acusarem de propagar um discurso de ódio”.

Segregação

Djamila Ribeiro, que se diz uma ‘feminista negra’ não aceita a denominação de “pessoas que menstruam” porque, na verdade, quer um lugar especial para as mulheres negras dentro da luta pela emancipação das mulheres. “Historicamente, as feministas negras refutam a universalidade da categoria mulher trazendo a reflexão da necessidade de nomear as diferentes possibilidades de ser mulher”. O problema separa as mulheres de negras de ‘pele clara’ com as ‘retintas’. Conforme ela mesma explicitou em sua controvérsia com Andreza Delgado.

Citando outra autora, Kimberlé Crenshaw, Djamila diz que “Mulheres negras, por exemplo, interseccionam as opressões de sexo, classe e raça, sendo necessário nomear essa realidade para que seja possível compreendê-la e, a partir daí, pensar em saídas emancipatórias”. Ou seja, não basta a tentativa de separar a luta pelos direitos das mulheres da classe trabalhadora, é preciso dividir ainda mais: mulheres negras do restante. Depois as ‘claras’ das retintas e assim por diante.

Além de tentar conquistar um lugar especial para as mulheres negras, Djamila diz que o “o termo “pessoas que menstruam”, mesmo com a pretensa ideia de querer incluir [homens trans], apaga a realidade concreta das mulheres, pois se está criando uma nova categoria universal que não nomeia a materialidade delas”. Depois dessa exclusão, tenta fazer uma média afirmando que [o termo] apaga a realidade de homens trans. Homens trans não são pessoas que gestam e menstruam, são sujeitos políticos”.

Resultado

A resposta à Djamila termina com “Eu sou aquele que, assim como você, menstrua. Assim como você, já esteve gestante. Assim como você, tem mamas”. “Você não pode decidir apagar a vida de pessoas trans”. “Quem pode dizer o que me inclui enquanto homem trans, sou eu. E, sim, eu sou uma pessoa que menstrua. E isso não tem relação alguma com você e o fato de você ser mulher”.

Esse é o resultado inevitável do identitarismo, uma vez que divide, segrega. A segregação, como pudemos ver no sul dos Estados Unidos, na África do Sul, apenas piorou a vida dos segregados, dos pobres, da classe trabalhadora.

O identitarismo tenta resolver a vida de uma parcela ínfima mesmo daquele extrato social que diz defender.

De que adianta vinte, duzentas pessoas conseguirem algum cargo em uma dessas empresas que fazem demagogia com a igualdade? O identitarismo não mexe nas relações sociais, não questiona o capitalismo, que é a causa primeira da desigualdade.

A única saída para as mulheres, para os negros, pessoas trans, etc., é se juntarem na luta pelo socialismo, cada um com suas particularidades, mas sempre se somando a essa luta maior. Aqueles que dividem e subdividem as minorias oprimidas estão, na verdade, favorecendo a burguesia, a classe opressora, pois agem no sentido de diluir a força em partes cada vez menores, até que essas se tornem nulas.

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