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Pró-Cultura

Nem os doces escaparam do identitarismo

Campanha de empresas mudam os nomes de doces "machistas e racistas"

Hoje em dia, todo mundo se ofende com tudo. Não se pode mais dar apelidos ou fazer piadas, mesmo que com consentimento, sem algum bastião do politicamente correto vir te atacar com um discurso moral de como você é a pior pessoa do mundo por estar simplesmente brincando.

Isso acaba se refletindo em diversas esferas da sociedade. A burguesia utiliza esse fator como demagogia e a censura aumenta. Diversas palavras do nosso vocabulário estão sendo taxadas como “preconceituosas” por ofenderem uma ou outra pessoa que não tem nada melhor para fazer na vida do que ficar ofendida.

Recentemente, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fez um cartilha de expressões racistas, explicando o que cada uma delas significa. O verbo “clarear”, por exemplo, seria racista por associar algo bom, nítido, claro, à cor branca, colocando, portanto, o preto ou o “escurecer” em uma posição negativa ou até inferior — um verdadeiro devaneio mental, uma vez que nada disso tem a ver com a cor da pele de alguém, mas sim com o fato de que quando está claro, é mais fácil enxergar do que quando está escuro (enquanto escreve essas palavras, o redator se toca e fica espantado que ele um dia teria que explicar isso para alguém com plenas capacidades mentais).

Dentre as diversas expressões que estão sendo taxadas como preconceituosas, como mulato, feito nas coxas, meia-tigela, entre outros, estão os nomes de alguns doces tradicionais de nosso País, a exemplo da teta de nega.

Sendo um doce que lembra a infância e é tradicional em qualquer canto do Brasil, a teta de nega é feita com merengue ou marshmallow cobertos por uma fina camada de chocolate. Muito comum em festas, o fato de ser no formato que se assemelha a um seio feminino e ser feito de chocolate acabou consolidando o nome popularmente, apesar de existirem vários outros.

Maria-mole, nega maluca, floresta negra, espera marido — todos esses e muito mais foram taxados como doces preconceituosos e, portanto, que deveriam ter seus nomes completamente trocados. A ação surgiu recentemente de uma iniciativa chamada “Respeito na Medida”, lançado pela empresa Guarani Mais Que Açúcar, que fez uma votação para que novos nomes fossem decididos e substituíssem os atuais.

A campanha foi aderida por cerca de 350 estabelecimentos entre padarias, docerias e supermercados de São Paulo e do Rio de Janeiro. No vídeo promocional, é possível ver adultos provando os doces e dizendo os seus nomes populares e, logo após, crianças fazendo o mesmo, mas não conhecendo os nomes e dando novos nomes para eles, além disso, no final, ao descobrirem os nomes originais dos doces, as crianças os rejeitam.

Esse vídeo não faz sentido nenhum. Para uma criança não saber os nomes populares da maioria dos doces — tudo bem que um ou outro tem um aspecto regional, como “espera marido” — ela simplesmente não foi apresentada a eles. Esses doces são tradicionais no Brasil, sendo inclusive comuns em festas juninas de escolas e bairros, além de serem encontrados em qualquer supermercado ou mesmo em casa, feitos por algum parente. Não seria nenhuma surpresa se todas as pessoas envolvidas fossem atores ou simplesmente induzidas a falarem essas coisas, aprovando aquilo ou não.

É cansativo ter que falar que o nome de uma ou outra coisa não muda em absolutamente nada na vida das mulheres ou dos negros. E se tem alguém que de fato não percebe essas coisas, são crianças — apesar de serem espertas e curiosas, de maneira geral, o nome de um doce não faz diferença nenhuma para elas, pois é apenas um doce.

Enquanto pesquisava para esse artigo, acabei me deparando com uma lista tão avacalhada em um fórum aleatório da Internet que, pelo nível dos identitários hoje em dia, é difícil descobrir se alguém escreveu isso como zoeira ou não. Que o leitor tire suas próprias conclusões:

A lista dos dez doces mais misóginos, transfóbicos e opressores em geral

1- Teta de Nega

Num ato de profundo desrespeito para com as nossas yalodês, este doce impulsiona, de maneira escancarada, o processo de hiperssexualização da mulher negra, retratada como um mero objeto cuja função é gerar deleite para seu senhor branco.

2- Maria-Mole

Doce de índole extremamente machista que dá a entender que toda mulher é indulgente, incapaz de tomar atitudes firmes, reforçando o misógino estereótipo da mulher frágil, em oposição, ao que tudo parece indicar, ao “João Duro”.

3- Pé-de-Moleque

Este doce implica uma dupla carga de preconceito: ao mesmo tempo em que fomenta a pedofilia ao objetificar partes do corpo de um menino, traz ainda uma boa dose de misoginia ao obrigar as mulheres ao humilhante ato de lamber os pés de uma entidade do gênero masculino. Note-se ainda que, ao contrário do doce “Maria-Mole”, o pé-de-moleque possui constituição dura.

4- Carolina

Mais um doce nitidamente misógino que reduz a figura feminina, representada pelo nome “Carolina”, a um mero objeto ao dispor do patriarcado e destinado ao deleite deste. Não é difícil imaginar a frequência com que o tal doce é utilizado para oprimir as mulheres que infelizmente foram registradas como este nome, realizando piadinhas que lhes causam óbvio constrangimento.

5- Bolo Floresta Negra

Doce que mais uma vez reduz a figura dxs negrxs a reles objeto destinado exclusivamente a servir a Casa Grande, agradando seu paladar tal qual as escravas cozinheiras eram encarregadas de fazer.

6- Bolo Floresta Branca

Tendo em vista não haver racismo reverso, este bolo evidentemente enaltece ideais nazifascistas de pureza racial. É certo que nos mercados este bolo é vendido por preços superiores ao atribuído ao floresta negra.

7- Baba de Moça

Doce que remete à prática de atos lascivos com mulheres jovens alcoolizadas, comportamento tolerado em nossa sociedade patriarcal, mas que na verdade é considerado crime de estupro de vulnerável, previsto no artigo 217-A do Código Penal brasileiro.

8- Beijinho

Trata-se de mais uma forma machista de fomentar práticas lascivas não consentidas pela mulher. Basta pegar o beijinho e devorá-lo, sendo desnecessário obter qualquer consentimento para tanto. Não reclame, mulher, afinal, é “apenas um beijinho”.

9- Bomba

Doce belicista que remete à forma extremista e tirânica com que o governo estadunidense responde a quaisquer tentativas de diálogo por parte do povo palestino (bombas).

10- Bem Casado

Doce sectário que remete ao arcaico modelo ocidental monogâmico enquanto meio único de expressão da afetividade. Muito melhor seria combater tais concepções atrasadas dando o nome de “bem unidxs poliafetivamente”.

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