Para que eu não seja preso, torturado e assassinado sob a acusação de difusão de “fake news”, começo este texto deixando uma coisa absolutamente clara: trata-se de um artigo de humor, que pode recorrer a figuras de linguagem para melhor expressão. Por exemplo, não sei, nem quero saber, se a senadora Simone Tebet (MDB-MS) tem uma cadela de estimação, mas, para efeitos literários, irei considerar que ela tenha um bichinho fedido para chamar de seu. Como bicho não tem honra, nem cidadão é, ressalto também que não posso ser processado por chamar uma coisinha peluda que nem sabemos se existe de fedida.
Não faz muito tempo que conheço a cachorra da Simone Tebet. A primeira vez que a vi foi quando ela começou a latir para Wagner do Rosário, ministro da Controladoria-Geral da União. Cheguei, na hora, a procurar algum veterinário que tratasse hidrofobia, mas só encontrei um senador especialista em combate à homofobia. Ele veio saltitando e começou a latir também. Por sorte, o próprio Wagner do Rosário soube diagnosticar a situação, dizendo apenas que a cachorra estava descontrolada. Não passava de um showzinho que ela faria todo mês para poder aparecer no Jornal Nacional, uma espécie de “se vira nos 30” canino, que, em vez de ser apresentado pelo Faustão, era narrado pela Renata Vasconcelos.
A partir de então, fui acompanhando mais de perto a trajetória ascendente da cadela. A cachorra e Tebet passaram a ser figuras cada vez mais indissociáveis, assim como aconteceu com o cachorro do George Bush.
Nos momentos antes de sua prisão, Lula declarou ao público: “minhas ideias estão no ar e não tem como prendê-las. (…) Não sou mais um ser humano. Eu sou uma ideia”. De forma semelhante, dizem no MDB que Tebet fala pelos corredores: “minha cadela está no cio e não tem como prendê-la. Não sou mais um ser humano. Eu sou uma…”. Bom, não lembro o final da frase, mas em resumo, dizem que é impossível separar a Simone Tebet de sua cachorra, ou a cachorra da Simone Tebet: são uma unidade indivisível.
Hoje, Tebet é, além de senadora, candidata a presidente da República, dando a muitas figuras o prazer de fazerem parte de sua campanha. Esse prazer, Tebet deu para Michel Temer (MDB) e Tasso Jereissati (PSDB), dentre outro homens por trás de sua candidatura. Afinal, teria dito um careca até pouco tempo filiado ao PSDB: “como Tebet, não tem igual”.
Embora indubitavelmente competente, a candidatura de Tebet ainda não decolou. Mas está se esforçando! Em todas as suas entrevistas, debates e aparições públicas, a senadora sul-mato-grossense tira da bolsa uma promessa. Tanto é assim que chegou a ser chamada de “mãe dos pobres”.
Tebet já prometeu que nenhuma criança irá passar fome, que irá manter o auxílio emergencial, prometeu até que irá libertar aqueles que foram presos injustamente — seja lá qual for o seu critério para isso. Resta saber, no entanto, se a mesma Tebet que apoiou o golpe de Estado de 2016 realmente acredita nisso tudo.
Segundo o Dr. Dolittle, a cachorra da Simone Tebet não acredita. O que, no final das contas, quer dizer a mesma coisa.